Oitenta anos de compromisso: A Associação Comercial de Santarém e seu papel transformador
Por Fábio Maia*
Em 14 de janeiro de 1945, por iniciativa de um grupo de comerciantes, foi fundada a Associação Comercial de Santarém. Desde sua criação, a entidade passou por quatro denominações: inicialmente, era conhecida como Associação Comercial de Santarém (ACS); em 1947, foi rebatizada como Associação Comercial do Baixo Amazonas (ACBA); em 1977, retornou à denominação de Associação Comercial de Santarém (ACS); em 2002, passou a se chamar Associação Empresarial de Santarém (ASES); e, finalmente, em 2004, adotou o nome de Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES).
Desde o início, essa entidade sem fins lucrativos, formada pela união dos diversos segmentos da atividade econômica, teve como fundamento a defesa dos interesses de quem trabalha e empreende, visando tanto o desenvolvimento pessoal quanto o da região.
Ao longo dessas oito décadas e 40 diretorias, a associação contou com 29 presidentes, destacando-se o Sr. Manuel Cardoso Loureiro como pioneiro nessa jornada de 80 anos. O primeiro desafio de Manuel foi a luta pela construção da sede própria, uma vez que, inicialmente, a diretoria se reunia no imóvel do empresário Nicolau Demétrio, localizado na frente da cidade.
Durante a gestão de Vicente Malheiros (1947-1950), foi aprovada a criação de delegacias municipais para representar a Associação nos municípios do Baixo Amazonas. Além disso, sua gestão implantou a Escola Superior do Comércio, que hoje funciona como o Colégio Rodrigues dos Santos.
Na gestão de Mário Coimbra (1951-1952), a construção da sede da Associação foi finalmente concluída e inaugurada em 22 de junho de 1952, com a presença do governador do estado do Pará, Alexandre Zacarias de Assumpção. As pautas de luta da associação incluíram a redução de impostos municipais e juros sobre títulos junto ao Banco do Brasil e ao Banco de Crédito da Amazônia.
Durante o período de Nestor Miléo (1957-1958), a falta de transporte fluvial para atender a região do Baixo Amazonas tornou-se uma pauta importante, levando a Associação a enviar correspondência à Marinha Mercante solicitando uma linha regular de viagem. Na gestão de João Otaviano (1959-1960), a dificuldade de comunicação telefônica com os principais centros do país foi destacada em uma reunião com o técnico da empresa telefônica Siemens Brasil, Ernesto William.
Metri Nicolau (1961-1962) lutou contra a insuficiência de transporte aéreo, uma vez que as aeronaves da Panair do Brasil não atendiam à demanda de passageiros, e a cidade carecia de um aeroporto capaz de receber aviões de grande porte. Joaquim da Costa Pereira presidiu a entidade de outubro a dezembro de 1962, quando a desvalorização do preço da juta, um produto essencial para a economia local, levou-o a enviar uma correspondência ao presidente da República, João Goulart, solicitando providências para evitar a estagnação econômica da região.
Durante a gestão de Mário Imbiriba (1963-1966), a bandeira do asfaltamento da BR-163 foi levantada novamente, com diversas correspondências enviadas ao governo federal destacando a importância da obra para evitar o isolamento da região. Nesse período, também foi inaugurada a Galeria de Fotos dos ex-presidentes, que se tornou uma marca consolidada na sala de reuniões da diretoria executiva até os dias atuais.
Manoel Moraes (1967-1968) deu continuidade aos pleitos de seus antecessores, lutando pela segurança no centro comercial para prevenir assaltos e arrombamentos. Na gestão de Evandro Vasconcelos (1969-1974), iniciou-se a mobilização para a criação de um grupamento de incêndio do Corpo de Bombeiros na cidade.
Na gestão de Carlos Braga (1975-1976), a descentralização da Universidade Federal do Pará (UFPA) foi uma das principais solicitações da associação, visto que muitas famílias santarenas não tinham condições de enviar seus filhos à capital para o ensino superior. Durante anos, a associação colaborou com a associação dos estudantes universitários para garantir a presença de estudantes santarenos em Belém.
Sob a liderança de André Vinholte (1977-1978), a produção de arroz em Santarém teve bons resultados econômicos, sendo exportada para grandes capitais. Para garantir a qualidade do produto, a associação solicitou à Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB) embalagens adequadas para o arroz produzido no município.
No período de Raimundo Medeiros (1979-1980), os serviços de saúde em diversas especialidades eram escassos em Santarém. Diante dessa situação, a associação solicitou atendimentos a custo baixo do Instituto Nacional de Previdência (INPS), reduzindo as filas de espera. Também houve empenho para garantir a instalação de um consultório odontológico, entregue ao 8º Batalhão Militar. Devido à insatisfação com o governo estadual de Alacid Nunes pela falta de investimentos no município, a associação enviou correspondência solicitando ações, destacando a construção da estrada Santarém-Altamira, a inclusão de Santarém na CEPLAC e a pavimentação da estrada que liga Santarém à vila de Alter do Chão. Durante a gestão de Raimundo Medeiros, a Associação Comercial de Curitiba enviou um carregamento de soja para incentivar a produção na região.
Na gestão de Hélcio Amaral (1981-1982), as pautas incluíram o mercado aurífero, a agricultura, os ambulantes, o transporte e a rodovia BR-163. Uma grave crise se instalou em Santarém, oriunda de enchentes e da queda no preço de produtos agrícolas. A entidade conseguiu, junto a instituições bancárias, a liberação de uma linha de crédito para recuperar os prejuízos.
Antônio Aguiar (1983-1984) deu continuidade às tratativas para a implantação do Corpo de Bombeiros em Santarém, recebendo a visita do tenente Manoel Macedo, que solicitou a intercessão da ACES junto ao poder público para a liberação de uma área para a construção do posto avançado do Corpo de Bombeiros. Durante seu período, foram comemorados os 40 anos da entidade.
Na gestão de Carlos Meschede (1985-1986), a defesa dos permissionários do mercado municipal em relação à taxa cobrada pela prefeitura foi um destaque. Outro ponto importante foi a solicitação ao governo do estado para a implantação de representações de secretarias estaduais em Santarém, o que foi sendo atendido gradualmente.
Durante o período de Manoel Chaves (1987-1992), seu maior legado foi a construção do auditório da entidade, homenageando o ex-presidente Mário Mendes Coimbra, cujo nome foi eternizado no espaço. Marcelo Moura presidiu a associação de junho a dezembro de 1992, focando na melhoria da segurança no centro comercial, que enfrentava problemas de delitos e arrombamentos.
Na gestão de Jorge Hamad (1993-1994), a luta contra o racionamento de energia e a falta de água foram marcantes. A associação organizou um grande manifesto que envolveu toda a sociedade, o poder público e lideranças de várias cidades da região.
Ademilson Macedo (1995-1998) liderou a luta pela emancipação da região Oeste do Pará, lançando o “Manifesto pelo Desenvolvimento Econômico da Região Oeste do Pará”. Em reunião com o deputado federal Ubaldo Campos Corrêa, foi apresentado o “Movimento Pró-Oeste”. Outra conquista importante foi a instalação da Carteira de Câmbio Manual em Santarém, na agência do Banco do Brasil, em resposta à crescente demanda de navios turísticos. Durante sua gestão, teve início a entrega de sugestões aos candidatos à prefeitura de Santarém, prática que perdura até hoje, além da criação do Conselho de Jovens Empresários de Santarém (CONJOVE), em 14 de junho de 2002.
A gestão de Ivair Chaves (1999-2000) foi marcada pela chegada do Linhão de Tucuruí, que reduziu a luta contra os constantes apagões de energia e a falta de água. Outra conquista importante foi a criação do Conselho da Mulher Empresária (CME).
Durante o período de Renato Dantas (2003-2006), a associação debateu o projeto Orla com o coordenador de desenvolvimento urbano do município, Roberto Branco. Nesse período, começou a exigência do cupom fiscal nas lojas, e a associação comercial atuou como difusora de informações por meio de palestras sobre a obrigatoriedade desse sistema. A entidade também liderou um manifesto em apoio à manutenção do Porto Graneleiro Cargill, contra uma ação da Justiça Federal, além de um manifesto contra o preço do cimento, que na época estava mais caro do que em Belém, apesar de a indústria estar localizada em Itaituba, município vizinho.
Sob a gestão de Olavo das Neves (2007-2010), pautas como a oscilação de energia, a ampliação do Porto CDP, a criação do Estado do Tapajós e a luta contra o embargo da Cargill foram os principais debates. Foi formada uma comissão para discutir a criação da Câmara das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste do Pará (CACEOP). Em seu segundo mandato, as questões relativas ao preço das passagens aéreas, à estrutura do aeroporto, à qualidade da internet em Santarém e ao debate sobre a criação de uma Área de Livre Comércio, assim como as oscilações de energia e a falta de um terminal fluvial para embarque e desembarque de passageiros, foram constantes na entidade.
Na gestão de Alberto Oliveira (2011-2014), houve pela primeira vez uma reunião da Faciapa fora da região metropolitana de Belém. Outro fato inédito foi a escolha do ex-presidente da ACES, Olavo das Neves, para presidir a Federação das Associações Comerciais do Pará, sendo a primeira vez que a entidade foi representada por alguém do interior do Estado. Em 2011, problemas estruturais persistiram, como as oscilações de energia e a cheia dos rios Tapajós e Amazonas. Houve um estreitamento com o governo do estado nas pautas históricas, como a transposição do Linhão de energia para a calha Norte, a melhoria do sistema de comunicação rural e a solicitação de um centro de convenções em Santarém. Durante a gestão de Alberto Oliveira, iniciaram-se o Liquida Santarém e a reforma do Auditório. Alberto também foi eleito presidente da CACEOP.
Na gestão de Cesar Ramalheiro (2015-2016), o projeto “Eu Amo Alter do Chão” marcou o início de sua gestão, em um momento em que a vila enfrentava um surto de hepatite A. O projeto de revitalização das barracas em Alter também fazia parte das ações na vila. A reorganização do estacionamento no centro comercial adicionou mais 203 vagas para carros e 90 para motos. A ACES intermediou, junto à SEFA, um diálogo para flexibilizar fiscalizações no comércio, concedendo prazos para adequação. A luta pela implantação do distrito industrial também foi retomada.
Roberto Branco (2017-2022) presidiu a entidade por seis anos, com o mandato estendido devido à pandemia de COVID-19. Durante sua gestão, vários avanços foram conquistados, como a Segunda Linha de Transmissão do Tramoeste, que resolveu de vez a luta histórica da entidade contra as oscilações de energia. Roberto também conquistou a aprovação de uma unidade do Hospital de Câncer de Barretos, o Hospital de Amor, em Santarém. A definição da área para a instalação do Distrito Industrial foi um grande marco de sua gestão. Outro legado importante foi a concepção e início da construção do Centro de Inovação Aces Tapajós – CIAT, que, segundo Roberto, é um divisor de águas para inserir a associação no novo modelo de empreendedorismo, preparando assim a entidade para os próximos 80 anos.
Alexandre Chaves (2023-2024) teve como primeira ação a modernização dos processos internos da ACES. Outro avanço significativo foi a implantação do Distrito Industrial, avançando na regularização da área junto aos proprietários e ao governo estadual. Além disso, a ativação e consolidação do CIAT deram continuidade à visão de futuro pensada por seu antecessor. Na gestão atual, a ACES articulou e fomentou, junto ao poder público, a criação do Conselho Municipal de Ciência, Inovação e Tecnologia, mantendo a visão futurista da entidade. A execução, em parceria com a FACIAPA, da 2ª Feira Tapajós Negócios foi outra conquista importante. A união das entidades do setor produtivo foi uma bandeira dessa gestão, levando a debates cruciais, como o combate às invasões de terras em Santarém.
Ao longo de sua história, a Associação Comercial de Santarém não apenas enfrentou desafios, mas também conquistou vitórias significativas para a comunidade. Cada presidente, cada gestão, cada luta travada e cada conquista alcançada refletem o comprometimento e a perseverança de seus membros em prol do desenvolvimento econômico e social da região. Parabenizamos a Associação Comercial de Santarém por sua trajetória notável, que é, sem dúvida, um exemplo de dedicação e resiliência, servindo como um farol de esperança e inspiração para todos que acreditam no potencial de nossa terra e de seu povo.
O Impacto