Lideranças relatam novo ataque armado à Terra Indígena no Pará
Lideranças da Terra Indígena (TI) Apyterewa, no sudeste do Pará, denunciaram ao Ministério Público Federal (MPF) um novo ataque armado à aldeia Tekatawa, do povo Parakanã, ocorrido na madrugada da última quarta-feira (19). O cacique Mama Parakanã relatou que os invasores estavam armados com espingardas, pistolas, carabinas e rifles.
“Foi muito tiro de espingarda, pistola, carabina, rifle 44, todo tipo de arma”, contou o líder indígena. “A gente revidemos e, graças a Deus, ninguém se feriu. A gente precisa de apoio da Força Nacional, da Polícia Federal, de juiz, de procurador. Felizmente, não houve feridos no ataque. No entanto, em razão do risco iminente, as mulheres, crianças e idosos foram imediatamente evacuados para uma aldeia vizinha”, acrescentou Mama Parakanã ao pedir ajuda dos órgãos públicos para evitar uma tragédia.
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) informou que a ponte de acesso à aldeia foi destruída, isolando a comunidade.
“Ressalte-se que essa não é a primeira vez que a aldeia é alvo de agressões, o que agrava o clima de insegurança e apreensão entre os membros da comunidade [que reafirma] a necessidade de medidas urgentes por parte das autoridades competentes para garantir a proteção dos direitos fundamentais dos povos indígenas, incluindo a segurança física e territorial”, alertou a Coiab em nota.
Os indígenas temem pela segurança da comunidade, que inclui crianças e idosos, e afirmam que os pistoleiros agem sob a orientação de fazendeiros.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), apontou que este foi o terceiro ataque registrado em menos de três meses. De acordo com José Cleanton Ribeiro, da coordenação do Cimi Regional Norte 2, os ataques são vistos como represálias dos invasores contra os indígenas que estão reocupando áreas que pertenciam a eles antes da desintrusão. No caso dos Parakanã, que estão estabelecendo novas aldeias nessas áreas para realizar atividades de agricultura, os invasores veem essas ações como uma ameaça ao retorno àquelas terras. Ribeiro destaca que, como represália, ataques como esse acontecem frequentemente, com os invasores tratando a terra como se fosse sua.
A TI Apyterewa, com 773 mil hectares, já foi o território mais desmatado da Amazônia Legal, mas a operação de desintrusão realizada pelo governo federal em 2023 retirou invasores e quase zerou o desmatamento. No entanto, os recursos naturais da região, como o cacau, que se estima existir em cerca de 30 mil pés dentro da TI e funciona como geração de renda comunitária, continuam alvos de invasores.
Os Parakanã, em resposta, estão criando novas aldeias distantes das margens do Xingu e adotando estratégias de vigilância. Os indígenas dizem em estado de guerra e são obrigados a circular pela área armados com espingardas, facas, arco e flechas e escoltados pela Força Nacional e Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
O MPF recebeu a denúncia em 20 de fevereiro, através de um áudio relatando o ataque. O áudio em questão foi encaminhado à Polícia Federal (PF) no dia 21, com a solicitação de anexar as informações a um inquérito em andamento sobre casos semelhantes.
A TI Apyterewa
Localizada no sudeste do Pará, por quatro anos consecutivos teve o maior índice de desmatamento do Brasil, perdendo uma área maior do que o estado de Fortaleza. Entre 2020 e 2022, imagens de satélite mostraram a devastação, como evidenciado em um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). A área de preservação foi homologada em 2007, com um total de 773 mil hectares reservados ao povo Parakanã, localizada no município de São Félix do Xingu.
Por Rodrigo Neves com informações do MPF e Agência Brasil
O Impacto