Vício em telas reforça as causas do autismo e afeta habilidades cognitivas
Na segunda-feira (6), a TV Impacto abordou um tema que divide opiniões e desperta ainda muitas dúvidas com relação ao uso excessivo de telas em crianças e adolescentes e principalmente os que possuem o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O Fundador e coordenador da Casa Azul, Dr. Marlon Azevedo, Dra. Carla Coelho, neuropsicopedagoga e dona Aurenice Cardoso, mãe de um paciente autista, estiveram explicando sobre sintomas, dificuldades no aprendizado, e muitos depoimentos. Acompanhe a seguir a entrevista da repórter Wandra Trindade:
Primeiramente, o que é o autismo?
Doutora Carla Coelho: O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento e não, como você logo mencionou, não tem a ver com o uso excessivo de telas, ou seja, é um mito!
O que isso pode influenciar dentro do aprendizado da criança, do adolescente que usa as telas excessivamente?
Doutora Carla Coelho: Existe uma substância que o cérebro tira, que é a dopamina. Aquele excesso de tela faz com que aquele cérebro queira mais e mais. Isso faz com que prejudique o aprendizado, o sono da criança, porque quando a criança está usando muita tela, com certeza vai ficar com muito sono, vai ter aquele distúrbio, que não vai conseguir dormir, e isso vai apresentar uma grande falta de aprendizado na vida dessa criança com tela. Até nós mesmos adultos que usamos muita tela, ficamos com dificuldade, não só crianças com TEA, mas as que também não possuem o transtorno.
É por isso, então, que é confundido, porque hoje já se ouve falar no autismo virtual. O que isso tem a ver?
Doutora Carla Coelho: É assim, quando a pessoa usa muito a tela, já é um mito! Autismo não tem nada a ver com o excesso de telas, muito pelo contrário. Quando você usa muito a tela, isso cria um vício. A mesma coisa a pessoa que usa as drogas ilícitas, fica viciada. Vai ter um momento que, para tirar, é muito complicado para as famílias tirar, porque tem família que usa a tela como uma rede de apoio, como a mãe precisa fazer as coisas de casa, fazer as suas obrigações domésticas, trabalhar, e ela acaba cedendo para aquela criança a tela, o celular, o tablet, e isso causa um prejuízo gigantesco.
Nesta situação em que muitas mães não possuem rede de apoio, com quem deixar a criança ou pagar até mesmo alguém que lhe auxilie, qual seria a orientação?
Doutora Carla Coelho: Eu estava fazendo um curso recentemente e falava muito. Ao invés da criança usar a tela, ela usa a televisão, que é muito mais benéfico do que uma tela, porque na televisão tem o início, o meio e o fim de uma história, e na tela não. Então, na tela, se aquele joguinho que a criança fica ali, ali, apertando, apertando, aquele excesso de brilho, aquele volume, isso prejudica o neurodesenvolvimento da criança.
Quais são os sintomas que já são considerados graves dentro do uso de telas?
Doutora Carla Coelho: Um deles é a aprendizagem, a defasagem na aprendizagem, porque se o seu filho fica durante a tela o tempo todo, vai dormir muito tarde, ele vai estar cansado na escola. Vá reduzindo esse uso de tela, dando atividades lúdicas, porque não adianta você tirar uma tela, pronto, vai tirar. Não é assim que se faz, por quê? Você tem que dar outras coisas, uma brincadeira, você precisa brincar com seu filho, sente no chão, vá brincar com seu filho, mostre jogos de tabuleiro, isso vai com que aquela criança tenha outras opções, porque não é só chegar e dizer, vamos tirar a tela, se você não der outras coisas para aquela criança fazer.
E o que fazer quando a escola utiliza dessas ferramentas para estudo dentro e fora da sala de aula?
Doutora Carla Coelho: Tudo com moderação, algumas escolas acabam passando atividades que a criança precisa pesquisar, o adolescente precisa pesquisar e ele tem que ter esse uso, mas que seja com moderação, os pais terminou aquela atividade, entrega o celular, vai fazer outra coisa, dentro da própria casa, os pais podem chamar, vamos fazer um almoço junto, vamos fazer esse jantar, me ajuda a cortar os alimentos, isso faz com que tenha até uma interação dentro da própria casa, porque você imagina, um adolescente trancado dentro de um quarto, só no celular, ele não vai ter habilidades sociais,só aquele virtual ali, ele vai ter prejuízo, ele não vai ter amigos, eu tenho pacientes que não tem amigos, por conta disso, não tem aquela interação social com as outras pessoas.
É necessário diferenciar o mundo real do virtual? Se inserir? Buscar outros meios para se comunicar, se relacionar?
Doutora Carla Coelho: Eu costumo questionar isso, e que tal a gente trocar essa tela por fazer grupos de amigos, tentar fazer essa amizade, tentar sair um pouco do virtual e trazer para o mundo real, porque hoje em dia, a maioria dos adolescentes estão ali naquele mundo virtual e deixando o mundo real de lado. Em relação à criança até dois anos de idade, zero tela, zero tela mesmo, aquelas crianças que já estão usando a tela de modo acessível.
A mãe de um pré-adolescente de 11 anos, ele que é paciente da Casa Azul, e possui o espectro do autismo, relatou que o seu filho usava bastante o aparelho celular.
Aurênize Cardoso: porque eu não sabia lidar com certas situações. Com o passar do tempo, ele também começou a ter um entendimento, aquela conversa juntamente com ele, e aí ele tinha um aparelhozinho, mas aí eu fui e tirei, justamente por conta desses prejuízos que eu estava observando que estava cada vez mais prejudicando. Ele pega de vez em quando o meu, mas aí também é tudo por minutos. É regrado, isso. Aí a televisão é mais ampla, a gente vê realmente o que ele está assistindo.
Qual a mensagem que você deixa para as outras mamães que sofrem para tirar as telas dos filhos?
Aurênize Cardoso: Eu gostaria de deixar uma mensagem para as mamães, que assim como eu, que tenho feito essa redução de telas, porque eu vi o prejuízo que estava causando o meu filho. Então, eu tirei o celular dele, mas isso não quer dizer que eu tirei totalmente, mas eu reduzi o tempo de uso e faço outras atividades, dentro de casa e fora também, temos uma rotina bem pesada.
O Coordenador da Casa Azul, doutor Marlon Azevedo, informou sobre as novidades da instituição
Marlon Azevedo: Nós estamos com uma equipe completa, que vai desde a avaliação com assistente social até o possível diagnóstico psiquiátrico. Estamos com uma equipe muito boa de profissionais na Casa Azul. Como abril é o mês mundial do autismo, todo ano se organiza grandes eventos, um mês todo de programações. E nós já temos uma prévia do que vai acontecer. No dia 2 de abril, que é o dia mundial do autismo, vamos ter na Casa Azul a partir das 8h30. uma programação alusiva com os profissionais, famílias, usuários e convidados, que vai ter outras universidades, vai ter outras pessoas que vão estar lá.
Além de caminhada ecológica, vai ter uma formação para profissionais?
Marlon Azevedo: No dia 23 e 24 de abril, vai ter uma formação para os profissionais de mais diversas áreas. Uma formação de protocolos inclusivos. Ele é bem específico para a área terapêutica. O link de inscrição já está aberto. São pessoas de fora, profissionais especializados que vêm para Santarém para dar esse curso pela Casa Azul. Nossa preocupação também pela casa é levar o conhecimento técnico. Que não adianta só a força de vontade. Ou querer ajudar uma pessoa com deficiência. Eu tenho que saber ajudar. Se não, não tem o efeito que nós esperamos.
Existe essa necessidade de especializações de profissionais recém formados?
Marlon Azevedo: Porque, muitas vezes, o profissional se forma em uma determinada área, mas ele não se especializa no autismo, TDAH, deficiência. Então, ele não consegue ajudar. Então, nós temos que ter muita consciência.Quando nós recrutamos profissionais, o primeiro ponto é capacitar. É para poder conduzir de forma muito técnica, profissional, aquela pessoa. Todos tem uma dinâmica diferente.
Onde funciona e o atendimento da Casa Azul?
Marlon Azevedo: Dentro de um espaço educacional. Então, assim, que você possa imaginar, é um quarteirão todo que a Casa Azul funciona na Nova República. Então, para você manter a dinâmica de funcionalidade, tem que ter um jogo de cintura muito grande. Mas nós não temos esse problema. São sete, oito anos que a gente vem desenvolvendo esse trabalho em Santarém e eu fico muito contente quando a Casa Azul ela ecoa. Eu vejo alguém lá do Rio, ir procurar casa, vir lá de Manaus e procurar casa, que virou uma referência.
Endereço e contato da Casa Azul
A Casa Azul funciona de segunda a sexta na rua B, no bairro Nova República em Santarém. Mais informações podem ser repassadas pelo instagram @casa.azul.oficial ou pode ser, também, por 991440107.
Por Diene Moura e Wandra Trindade*
O Impacto