O advogado é o primeiro juiz da causa
Por Dr. José Ronaldo Dias Campos*
Preocupa-me a reação de um advogado, como agente do Direito, frente a uma causa. Como agir prevendo todas as possibilidades? E as formas alternativas, adequadas, de composição de conflitos? Qual a melhor e acertada forma de orientar?
Essa inquietação não é apenas pertinente, mas necessária. O advogado contemporâneo não pode adotar o Judiciário como única opção. Ele precisa ser um intérprete sensível das possibilidades de solução, um estrategista consciente de que o moroso processo judicial é, na verdade, o último recurso — e não o primeiro impulso.
Antecipar cenários exige estudo, técnica e sensibilidade. A escuta atenta do cliente, o mapeamento de riscos e a análise contextual dos fatos são instrumentos essenciais ao deslinde da causa. O bom advogado desenha estratégias, não aposta no escuro. Ele compreende que cada conflito pode desdobrar-se em múltiplas rotas — e que a escolha do meio certo de composição da lide define, sem traumas, a qualidade da solução, com economia de tempo e de recursos.
É aqui que entra o conceito da Justiça Multiportas, que idealiza uma visão mais inteligente e eficiente do acesso à justiça. Não se trata apenas de alternativas, mas de saber que a judicialização deve ser a última porta a ser aberta, depois de esgotadas (ou ao menos avaliadas) as possibilidades, como a negociação, a mediação, a conciliação e outros meios adequados de resolução. Cada conflito merece um caminho próprio, e cabe ao advogado orientar com sabedoria, resistindo ao ímpeto de litigar por litigar.
O cliente não quer promessas, quer compreensão e direção. Orientar bem é expor com clareza os riscos, os custos — inclusive emocionais — e as chances de sucesso. É mostrar que, muitas vezes, o acordo é mais inteligente que a sentença. Que o silêncio pode ser mais poderoso que a réplica. E que a composição pode ser mais justa que a vitória formal.
A advocacia moderna é, sim, multiportas. Mas é também multifásica, multidisciplinar e profundamente humana. Porque, ao fim, toda causa é o reflexo de uma busca por paz. E o bom advogado sabe que a paz, nem sempre está na sentença – mas na escolha certa do caminho adequado.
Antes da sentença, a sabedoria!
O Impacto