Governo ampliou MCMV porque classe média estava ‘desatendida’, diz ministro

O ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, afirmou que o governo federal decidiu estender o Minha Casa, Minha Vida para a faixa de renda entre R$ 8 mil e R$ 12 mil porque a falta de crédito imobiliário no mercado deixou essa parcela da população “desatendida”.

A razão, diz, são os saques da poupança, principal fonte de recursos dos bancos para conceder crédito para a casa própria. Só no primeiro trimestre deste ano, os brasileiros retiraram R$ 45,7 bilhões da caderneta, segundo dados do Banco Central. É mais que o dobro dos saques registrados no mesmo período do ano passado, de R$ 22,6 bilhões. Com menos dinheiro para emprestar, os bancos sobem os juros, e comprar imóvel fica mais difícil.

Em entrevista ao UOL, o ministro também defendeu que seu partido, o MDB, apoie a eventual candidatura de Lula à reeleição em 2026. Para ele, o apoio é uma “questão de coerência”, embora não seja consenso dentro da sigla. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), por exemplo, é um crítico de Lula.

Minha Casa, Minha Vida para a classe média

Jader Filho afirmou que a decisão de criar uma nova faixa de renda para o Minha Casa, Minha Vida, de R$ 8 mil a R$ 12 mil, foi uma forma de atender a classe média. Citou o aumento da taxa básica de juros, a Selic, nos últimos anos, que atrai para outros investimentos o dinheiro que antes era investido na poupança.

Em março, o BC subiu a Selic para 14,25%, maior nível desde agosto de 2016, no quinto aumento seguido. E a previsão é de uma nova alta em maio.

O governo Lula mira a classe média para tentar aumentar sua popularidade, embora o ministro negue que o objetivo de ampliar a faixa do MCMV tenha sido eleitoreiro.

“Todo governo quer ter popularidade. Isso é uma coisa óbvia. Mas o que nos levou a ampliar a faixa não necessariamente foi no sentido de alcançar um resultado A, B ou C. O que nós identificamos é que a taxa Selic já há alguns anos vem ficando cada vez mais alta. E o que financia a habitação para a classe média no Brasil? É a poupança. Quem é que sofre? A poupança. A cada ano, ela tem mais saques e transferências para outras rentabilidades”.

O presidente disse: ‘nós temos aqui um dinheiro do fundo social. Uma parte vai para saúde, uma parte vai para educação e outra vai para habitação. Vamos botar no Minha Casa, Minha Vida.’ O que foi que eu sugeri, e o pessoal prontamente aceitou? ‘Não, vamos botar na faixa de R$ 8 mil a 12 mil’, porque as faixas mais baixas já estão atendidas no Minha Casa, Minha Vida.

“Quem é que está desatendido? É essa faixa de R$ 8 mil a R$ 12 mil, porque não tem mais dinheiro na poupança. Então, o professor vai conseguir financiar a casa dele? Não. O operário vai financiar a casa dele? Não tem [dinheiro], amigo, esquece”.

MDB apoiar Lula em 2026 é ‘questão de coerência’

O ministro defendeu que o MDB apoie uma eventual candidatura de Lula à reeleição em 2026. Lembrou que o partido tem, além do das Cidades, outros dois ministérios (Transportes e Planejamento) e afirmou que estar com o petista na disputa seria “questão de coerência”.

O apoio a Lula em 2026, porém, não é consenso dentro do MDB. Nunes já declarou publicamente que é contra uma aliança do partido com o presidente e que vai articular internamente para que a sigla apoie um nome da direita no próximo ano.

“O MDB apoiar a chapa do presidente Lula em 2026 é uma questão de coerência. O MDB tem espaços importantes dentro do governo, o Ministério do Planejamento, com a ministra Simone Tebet, o Ministério dos Transportes, com o ministro Renan Filho, e o Ministério das Cidades. São grandes ministérios. O presidente Lula foi muito correto com o MDB, e eu acho que o MDB precisa retribuir isso na eleição”.

“Ainda é muito cedo para o MDB iniciar o processo de discussão [de apoio a Lula]. O MDB, historicamente, sempre foi um partido que respeitou muito as suas realidades locais. E é o que vai acontecer nessa eleição. Nós devemos respeitar a posição do prefeito Ricardo Nunes, mas eu acredito que o MDB vai estar, sim, acompanhando o presidente Lula na eleição de 26”.

Helder Barbalho vice de Lula?

O ministro evitou comentar rumores de que o governador do Pará e seu irmão, Helder Barbalho (MDB), poderia ser vice de Lula em 2026 para assegurar o apoio do MDB a uma eventual candidatura do petista. Jader Filho defende que ainda é cedo para discutir o tema e destacou que Lula já tem Geraldo Alckmin (PSB) como vice.

“O presidente Lula tem um vice-presidente, que é o Geraldo Alckmin. Acho que a pauta de vice-presidente da República não está posta”.

“É prematuro discutir eleições neste momento, a gente tem que discutir o Brasil, discutir políticas públicas, aquilo que cada um anseia, como é que o governo vai chegar lá em 2026. A gente precisa trabalhar para o governo poder responder aos anseios da sociedade”.

“Na hora certa, o MDB vai discutir o seu futuro, e quem tem que resolver sobre a questão de vice-presidente é o próprio presidente Lula”.

‘Lula vai estar muito forte na eleição’

Jader Filho avalia que Lula tem condições de reverter o cenário de queda nos índices de popularidade apontado nas pesquisas e chegar a 2026 mais competitivo.

Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostra que a aprovação do governo melhorou ligeiramente, após desabar no começo do ano e atingir o pior índice de todos os mandatos de Lula. A aprovação subiu de 24% em fevereiro para 29% no inicio de abril. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

O ministro acredita em dois fatores principais para melhorar a situação do presidente: a previsão de supersafra, que deve baratear o preço dos alimentos, na avaliação dele, e a mudança na chefia da comunicação do governo ocorrida em janeiro, com a chegada de Sidônio Palmeira.

“Temos possibilidades importantes. Existe um processo já em curso de uma construção da comunicação, com a chegada do ministro Sidônio. O dólar já está caindo. A promessa de uma supersafra, que é real, inegavelmente vai trazer impactos na questão dos alimentos. Os preços vão cair, promete-se uma safra recorde na nossa história”.

“São diversos elementos, isso leva um certo tempo [para ter resultados]. E até as pesquisas já apontam isso, o processo de recuperação. Então se todas essas ações continuarem no curso que estão, acho que o presidente Lula chega muito forte”.

“Se neste momento ele já ganha em todos os cenários, avalie com esse processo que a gente está projetando de queda da inflação, dos programas sociais, todos eles acontecendo, as obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] fluindo. Então tudo indica que o presidente vai estar muito forte em 2026”.

Fonte: UOL

Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

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