Fé e ciência: como a espiritualidade impacta a saúde, segundo pacientes e médicos

Ela é feita de emoção, tenacidade, confiança. Gi Charaba é católica, mas acima de tudo é uma mulher de fé. As fotos espalhadas pela casa registram a vitória sobre o câncer de mama, que ao ser descoberto já tinha metástase no osso, próximo ao coração.

“Eu falo que é mais fundo do que o fundo do poço que você vai, sabe?”, conta. “O que foi removido? Um quarto da mama esquerda, 78% do meu osso, um músculo dorsal jogado pra frente no tórax e 13 linfonodos.”

Quando perguntada sobre o papel da fé nessa jornada, ela é enfática: “Eu tenho muita fé em Deus, na vida e nos outros. Porque eu também não seria nada se não tivesse tido fé no próximo. Se eu não tivesse tido esperança, acolhimento, se uma pessoa de carne e osso não tivesse me segurado a mão e falado: você vai conseguir.”

Oito anos depois, os médicos afirmam que Gi é um “case de sucesso”. Ela prefere dizer que é um milagre.

Durante muito tempo, relatos como esse foram ignorados e até menosprezados pela ciência. Nos últimos anos, porém, estudos vêm sendo realizados ao redor do mundo para investigar a relação entre saúde e fé. A questão é: verdade ou ilusão? É isso que médicos brasileiros agora querem responder.

O Conselho Federal de Medicina criou a Comissão de Saúde e Espiritualidade, presidida pela médica Rosylane Rocha, para avaliar o impacto da fé na saúde da população, não apenas durante doenças.

“Existem vários estudos já publicados que afirmam que há uma relação positiva entre a prática da fé, da religiosidade, da espiritualidade na prevenção de adoecimentos e na recuperação da saúde”, explica – doutora Rosylane. “O objetivo da comissão é fazer essa análise e depois elaborar uma diretriz técnica com fundamentação científica para nortear a conduta médica.”

Não por acaso, muitos hospitais têm espaços dedicados à oração, meditação e recebem visitas de profissionais ou voluntários de diferentes religiões. Numa das unidades do hospital São Camilo de São Paulo, o capelão é o padre José Wilson.

“Algumas vezes eu percebo que os pacientes que são assistidos encontram uma reconciliação consigo mesmos, às vezes também com Deus”, afirma o padre. Em um de seus atendimentos, ele conversa com Luiz Pelegrini e sua esposa, Ana Maria Pelegrini, que destaca: “Sem a espiritualidade, sem a fé, sem a gente lembrar que Deus existe e que está conosco, a gente não resiste, porque é muito sofrimento.”

O padre ainda esclarece:

“Espiritualidade é um modo de viver a sua fé. Eu posso ter uma espiritualidade e não ter religião”, completa.

Resiliência

A fé também foi decisiva na vida de Ingrid Vilela, evangélica, que enfrentou várias doenças em sequência, incluindo problemas renais, câncer, AVC e uma doença autoimune, além de efeitos colaterais severos dos medicamentos.

“Todo medicamento que eu tomava, eu consagrava a Deus. Eu elevava a medicação e falava: Deus, aqui não tem o que preciso, mas o Senhor pode colocar, potencializa”, relata.

Ao ser diagnosticada com câncer de tireoide, ela escolheu encarar a situação como um aprendizado: “Ou eu me revoltava, ou pensava que havia algo que eu precisava experienciar e ainda não tinha aprendido. E levei por esse caminho.”

Ela afirma estar curada. Mas como explicar? O psiquiatra Wagner Gattaz, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, afirma: “A fé, acreditar em algo bom, acreditar que está sendo protegido, é algo que diminui o estresse. E sabemos que combater o estresse pode reduzir processos inflamatórios. De maneira geral, a espiritualidade atua como um fator protetor da saúde.”

E a fé cura? “Essa é uma ótima pergunta, é uma pena que eu não tenha uma ótima resposta. Mas sabemos que existem casos pouco explicáveis de cura de doenças consideradas incuráveis, onde a fé possivelmente desempenhou um papel interessante.”

Mas e aqueles que têm fé e não veem a cura?

“Existem vários caminhos de cura, não da cura física, mas da cura espiritual, da cura de todos os dias”, diz Gi Charaba, citada no início da reportagem. E completa: “Em algum momento eu pensei em deixar o tratamento? Nunca. Se eu não tivesse fé no médico que operou, no medicamento que eu rezo quando tomo e agradeço depois, eu não estaria aqui também.”

Então viva a ciência, graças a Deus — e a tudo mais em que você acreditar.

Fonte: SBT News

Foto: Ilustrativa

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