Hana Ghassan e Dr. Daniel Santos: uma análise comparativa dos primeiros nomes na corrida pelo Governo do Pará em 2026

Por Fábio Maia

O tabuleiro político paraense começa a se movimentar para o que promete ser uma das disputas mais acirradas e estratégicas dos últimos tempos: a sucessão ao governo do estado em 2026. Embora ainda estejamos a mais de um ano do início oficial da campanha, dois nomes já se destacam nas primeiras sondagens e articulações políticas, emergindo como potenciais protagonistas desse embate: Hana Ghassan, atual vice-governadora, e Dr. Daniel Santos, prefeito de Ananindeua. Ambos representam projetos políticos distintos e carregam consigo trajetórias, bases eleitorais e perspectivas que merecem uma análise aprofundada para compreendermos os rumos que o Pará poderá tomar nos próximos anos. Este artigo se propõe a examinar comparativamente esses dois pré-candidatos, debruçando-se sobre seus históricos políticos, suas forças e fragilidades, e os números que já começam a delinear suas chances na corrida pelo Palácio dos Despachos.

O cenário político paraense, tradicionalmente marcado por disputas acirradas e pela força de grupos políticos consolidados, vive um momento peculiar. De um lado, temos a gestão de Helder Barbalho (MDB), que construiu uma ampla base de apoio e demonstrou capilaridade impressionante nas últimas eleições municipais. De outro, observamos o crescimento de novas lideranças que buscam espaço e representatividade, capitalizando tanto em gestões municipais bem-sucedidas quanto em discursos de renovação. É nesse contexto que Hana Ghassan e Dr. Daniel Santos emergem como figuras centrais para 2026, cada um representando visões e estratégias distintas para o futuro do estado.

Hana Ghassan: a força da continuidade

Hana Ghassan construiu sua trajetória política como uma figura que alia preparo técnico e habilidade articuladora. Com formação em Direito e especialização em Gestão Pública, sua ascensão no cenário político paraense foi marcada pela ocupação de cargos estratégicos que a credenciaram para compor a chapa vitoriosa ao lado de Helder Barbalho. Como vice-governadora, tem participado ativamente da administração estadual, assumindo responsabilidades em áreas como desenvolvimento social e políticas para mulheres, além de representar o governo em eventos e missões oficiais. Sua atuação discreta, porém constante, permitiu-lhe construir uma imagem de gestora competente e leal ao projeto político liderado por Helder, sem, contudo, abrir mão de uma identidade própria que agora busca consolidar visando 2026.

O principal trunfo de Hana Ghassan reside na robusta estrutura partidária que potencialmente estará à sua disposição. O MDB, partido ao qual é filiada, demonstra uma força impressionante no Pará, controlando 85 prefeituras e contando com 479 vereadores em todo o estado, conforme os dados mais recentes. Essa capilaridade, somada à maior bancada na Assembleia Legislativa (13 deputados) e na representação federal (9 deputados), configura um capital político valioso para qualquer candidatura majoritária. Além disso, a possibilidade de contar com o apoio explícito de Helder Barbalho, político com alta aprovação popular, representa um diferencial significativo que pode impulsionar suas pretensões eleitorais.

Os números das pesquisas, embora ainda preliminares, já oferecem indicativos interessantes sobre o potencial de Hana. O levantamento realizado pelo Instituto Doxa em Santarém, em maio de 2025, apontou a vice-governadora com 9,1% das intenções de voto, um patamar que, se por um lado demonstra seu reconhecimento pelo eleitorado, por outro evidencia a necessidade de um trabalho intenso para ampliar sua base de apoio. Sua rejeição, no mesmo levantamento, foi de 12,01%, um índice que, embora mereça atenção, ainda permite margem para crescimento e consolidação de sua imagem. É importante ressaltar que Santarém, como polo do Oeste Paraense, oferece apenas um recorte do eleitorado estadual, mas já sinaliza tendências que podem se confirmar ou se alterar em outras regiões.

O caminho de Hana Ghassan rumo ao Palácio dos Despachos, contudo, não está isento de desafios. O principal deles será a construção de uma identidade política própria, que transcenda a imagem de mera continuadora do projeto de Helder. A capacidade de demonstrar liderança autônoma e de apresentar uma visão singular para o futuro do Pará será crucial para conquistar a confiança do eleitorado. A transferência de votos, mesmo com o apoio de um padrinho político forte, nunca é automática e exigirá uma campanha habilidosa e uma comunicação eficaz para conectar-se diretamente com as aspirações da população. Além disso, enfrentará o escrutínio natural reservado aos que estão no poder, bem como a concorrência de opositores com maior recall e trajetórias políticas consolidadas.

Dr. Daniel Santos: a promessa da renovação

Em contraste com a trajetória de Hana Ghassan, Dr. Daniel Santos emerge no cenário estadual a partir de uma gestão municipal que ganhou projeção e reconhecimento. Médico de formação, com especialização em gestão de saúde pública, Daniel construiu sua carreira política inicialmente como secretário municipal de saúde antes de se eleger prefeito de Ananindeua, o segundo município mais populoso do Pará. À frente da prefeitura, implementou um modelo de gestão focado em resultados que lhe rendeu prêmios nacionais de administração pública, especialmente nas áreas de saúde, educação e infraestrutura urbana. Sua administração é frequentemente citada como exemplo de eficiência na aplicação de recursos públicos e na entrega de serviços à população, o que consolidou sua imagem como gestor competente e inovador.

Filiado ao PSB, partido que não possui a mesma capilaridade do MDB no estado (conta com apenas 1 deputado estadual e 1 prefeito), Daniel tem o desafio de construir uma estrutura política robusta o suficiente para competir em um pleito estadual. Sua base eleitoral está concentrada na região metropolitana de Belém, especialmente em Ananindeua, onde mantém altos índices de aprovação. No entanto, os números da pesquisa Doxa em Santarém surpreenderam ao colocá-lo na liderança das intenções de voto para governador, com 18,2%, um indicativo de que seu nome já possui penetração para além da região metropolitana, alcançando o eleitorado do interior. Mais significativo ainda é seu índice de rejeição, o menor entre os principais nomes testados: apenas 9,02%, o que lhe confere uma margem de crescimento interessante e sugere que sua imagem é bem recebida mesmo em áreas onde sua atuação direta é menos conhecida.

A estratégia de Daniel para expandir sua influência pelo vasto território paraense parece estar surtindo efeito. Nos últimos meses, intensificou visitas a municípios do interior, participou de eventos regionais e buscou aproximação com lideranças locais de diversos partidos, sinalizando disposição para construir alianças que transcendam as fronteiras ideológicas tradicionais. Seu discurso enfatiza a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento para o Pará, que combine eficiência administrativa, inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental, temas que encontram ressonância tanto no eleitorado urbano quanto nas comunidades do interior.

No entanto, a transição de uma liderança municipal bem-sucedida para uma candidatura majoritária estadual impõe desafios significativos. Um dos principais obstáculos para Dr. Daniel será consolidar uma rede de apoio robusta em todas as regiões do Pará. Embora sua votação em Santarém seja um bom sinal, a consolidação de sua imagem no Baixo Amazonas, no Sul e Sudeste do Pará, e em outras áreas com dinâmicas políticas próprias, exigirá um esforço hercúleo de articulação e campanha. A formação de um arco de alianças partidárias consistente também será crucial, uma vez que o PSB não possui a mesma estrutura de outras legendas tradicionais no estado. Superar a desconfiança de setores mais conservadores do eleitorado e apresentar propostas que contemplem a diversidade de demandas do Pará, desde os grandes centros urbanos até as comunidades ribeirinhas e rurais, será fundamental para suas pretensões.

Análise comparativa: forças e desafios

O contraste entre Hana Ghassan e Dr. Daniel Santos vai além de suas trajetórias políticas e filiações partidárias. Representa, em essência, duas visões distintas sobre o futuro do Pará e duas estratégias diferentes para conquistar o eleitorado. De um lado, temos a experiência na máquina estadual, o conhecimento dos meandros da administração pública em larga escala e a continuidade de um projeto político que já demonstrou força nas urnas. De outro, a gestão municipal premiada, o discurso de renovação e a promessa de aplicar em todo o estado um modelo administrativo que obteve resultados expressivos em Ananindeua.

A estrutura partidária e a capilaridade no interior constituem, sem dúvida, uma vantagem significativa para Hana Ghassan. O MDB, com sua presença em praticamente todos os municípios paraenses, oferece uma rede de apoio e mobilização que o PSB de Daniel ainda não possui. Essa diferença pode ser determinante em um estado com as dimensões e a diversidade do Pará, onde o contato direto com o eleitorado muitas vezes depende de lideranças locais e estruturas partidárias consolidadas. No entanto, Daniel tem demonstrado habilidade em construir pontes com lideranças de diferentes matizes políticos, o que pode compensar, em parte, essa desvantagem estrutural.

Quanto ao perfil do eleitorado e ao apelo regional, observamos tendências interessantes. Hana parece ter maior penetração em segmentos mais tradicionais e em regiões onde o MDB historicamente mantém força, como o Marajó e partes do Nordeste Paraense. Já Daniel demonstra maior apelo entre o eleitorado urbano, jovem e com maior escolaridade, além de surpreender com sua aceitação no Oeste do Pará, como evidenciado pela pesquisa em Santarém. Essa distribuição geográfica e demográfica do apoio a cada pré-candidato sugere estratégias complementares: enquanto Hana precisará modernizar seu discurso para atrair o eleitorado urbano mais jovem, Daniel terá que intensificar sua presença nas regiões mais tradicionais e rurais do estado.

As narrativas e discursos de ambos também revelam abordagens distintas para os desafios do Pará. Hana tende a enfatizar a continuidade e o aprofundamento de políticas públicas já em curso, destacando avanços na infraestrutura, na segurança pública e na atração de investimentos. Daniel, por sua vez, aposta em um discurso de transformação e eficiência, prometendo aplicar em escala estadual as inovações que implementou em Ananindeua, especialmente nas áreas de saúde, educação e gestão fiscal. Ambos reconhecem a importância da agenda ambiental, especialmente com a proximidade da COP30 em Belém, mas apresentam ênfases diferentes: enquanto Hana destaca o protagonismo do atual governo nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, Daniel propõe uma abordagem mais integrada entre preservação ambiental e desenvolvimento econômico local.

Perspectivas para 2026: o que esperar dessa disputa

O cenário para 2026 ainda está em formação, e diversos fatores podem alterar o quadro atual da disputa entre Hana Ghassan e Dr. Daniel Santos. O posicionamento do governador Helder Barbalho será, sem dúvida, determinante. Caso opte por apoiar explicitamente a candidatura de Hana, transferindo seu capital político e mobilizando a máquina partidária do MDB em seu favor, a vice-governadora poderá experimentar um crescimento significativo nas pesquisas. Por outro lado, se Helder adotar uma postura mais neutra ou dividir seu apoio entre diferentes candidaturas, o cenário se tornará mais imprevisível e aberto a novas configurações.

A conjuntura econômica e social do Pará nos próximos meses também influenciará decisivamente as chances de cada pré-candidato. Em um cenário de crescimento econômico, redução da violência e avanços em indicadores sociais, a narrativa da continuidade, representada por Hana, tende a ganhar força. Já em um contexto de estagnação ou crise, o discurso de renovação e mudança de Daniel pode encontrar maior ressonância junto ao eleitorado.

A polarização política nacional, que tem marcado profundamente o debate público brasileiro nos últimos anos, certamente se refletirá na disputa estadual. A capacidade de cada pré-candidato em navegar por esse ambiente polarizado, construindo pontes com diferentes segmentos do eleitorado sem alienar suas bases de apoio, será crucial para o sucesso eleitoral. Tanto Hana quanto Daniel têm adotado, até o momento, posturas moderadas e pragmáticas, evitando alinhamentos automáticos com as forças nacionais, o que pode ser uma estratégia acertada em um estado onde o voto tende a ser mais personalista e menos ideológico.

Conclusão

A análise comparativa entre Hana Ghassan e Dr. Daniel Santos revela dois projetos políticos distintos, mas igualmente viáveis, para o futuro do Pará. De um lado, a experiência na gestão estadual, a força de uma estrutura partidária robusta e a possibilidade de continuidade de um projeto político que já demonstrou força nas urnas. De outro, a gestão municipal premiada, o discurso de renovação e a promessa de aplicar em todo o estado um modelo administrativo que obteve resultados expressivos em Ananindeua.

Os números das pesquisas, embora ainda preliminares, já indicam uma disputa acirrada, com ligeira vantagem inicial para Daniel, mas com amplo espaço para crescimento de ambos os pré-candidatos. O histórico político de cada um oferece elementos tanto positivos quanto desafiadores: se Hana conta com a experiência na máquina estadual e o apoio potencial de Helder Barbalho, Daniel apresenta uma trajetória de resultados concretos na gestão municipal e um discurso de renovação que encontra eco em diversos segmentos do eleitorado.

O que se desenha para 2026, portanto, é uma disputa que transcende personalidades e envolve visões distintas sobre o futuro do Pará. O eleitorado paraense terá a oportunidade de escolher entre diferentes caminhos para o desenvolvimento do estado, avaliando não apenas os discursos de campanha, mas o histórico, a consistência das propostas e a capacidade de cada pré-candidato em traduzir promessas em resultados concretos. Mais do que nunca, será fundamental um debate público qualificado, que permita aos cidadãos compreender as reais diferenças entre os projetos em disputa e fazer uma escolha consciente e informada sobre os rumos que desejam para o Pará nos próximos anos.

A trajetória política de Hana Ghassan e Dr. Daniel Santos até aqui, bem como os números que já começam a delinear suas chances eleitorais, são apenas o primeiro capítulo de uma história que ainda será escrita com muitos desdobramentos. O acompanhamento atento das movimentações desses pré-candidatos, de suas propostas e de sua capacidade de diálogo com as diferentes regiões e segmentos da sociedade paraense será fundamental para compreendermos os rumos que o estado poderá tomar a partir de 2027. O futuro do Pará está em jogo, e a escolha entre continuidade e renovação, entre experiência estadual e eficiência municipal, caberá, em última instância, ao povo paraense, verdadeiro protagonista desse processo democrático que se avizinha.

O Impacto

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