As lideranças de bairros e a nova estrutura de poder em Santarém

Por Fábio Maia

Enquanto muitos candidatos concentram seus esforços em redes sociais e alianças institucionais, há uma força silenciosa e decisiva que continua moldando os rumos eleitorais em Santarém: as lideranças de bairro. Em um cenário político cada vez mais fragmentado e volátil, essas figuras emergem como atores estratégicos, capazes de conectar candidaturas ao eleitorado real de maneira orgânica e eficaz. Ignorar seu papel é um equívoco que pode custar caro nas urnas.

Quem são e por que importam

As lideranças de bairro são os agentes invisíveis da política local: presidentes de associações de moradores, líderes religiosos, organizadores de eventos comunitários e até mesmo aqueles indivíduos que, sem título formal, resolvem problemas cotidianos com pragmatismo e influência. Sua autoridade não vem de cargos ou diplomas, mas de uma reputação construída no dia a dia, tornando suas opiniões tão ou mais valiosas que campanhas midiáticas tradicionais.

Em bairros periféricos, onde a presença do Estado é irregular e os serviços públicos são precários, essas lideranças assumem um papel duplo: são mediadoras de demandas e articuladoras de soluções. Sabem identificar quem precisa de emprego, quem requer assistência médica ou qual família está à beira do despejo. Essa capacidade de leitura do território as torna peças-chave na mobilização eleitoral, pois conhecem as dinâmicas sociais que escapam aos radares oficiais.

A nova moeda política: confiança e presença

Com o declínio da fidelidade partidária e o aumento da descrença na política tradicional, as lideranças comunitárias ganham relevância inédita. Elas não são meros “cabos eleitorais”, mas formadoras de opinião cujo endosso pode legitimar ou derrubar uma candidatura. Seu apoio não se compra com promessas vagas — exige reconhecimento, diálogo constante e ações concretas.

Candidatos que investem apenas em propagandas de TV e posts patrocinados, sem pisar nas ruas ou ouvir as demandas locais, estão fadados ao fracasso. Já aqueles que constroem relações autênticas com essas lideranças — participando de reuniões comunitárias, apoiando iniciativas locais e mantendo presença física nos territórios — criam redes de apoio resilientes e duradouras. Um exemplo recente foi o sucesso eleitoral de uma candidatura à Câmara Municipal que, sem recursos para grandes campanhas, priorizou visitas semanais a comunidades e articulou parcerias com lideranças locais para resolver problemas reais do dia a dia.

Desafios e oportunidades para 2026

Em um ano eleitoral marcado pela polarização nacional, as lideranças de bairro podem ser o antídoto para o discurso vazio. Seu poder reside na capacidade de traduzir plataformas políticas em linguagem concreta, mostrando como projetos se refletem em melhorias reais para a população. Para os partidos, isso representa tanto um desafio quanto uma oportunidade, como na integração nas estratégias partidárias para incluir lideranças comunitárias no planejamento de campanhas, não como figura decorativa, mas como parceiras na elaboração de propostas. Assim também como no cuidado com a instrumentalização, em relações baseadas apenas em interesses eleitoreiros, que são facilmente percebidas e rejeitadas pela comunidade.

Conclusão: o futuro da política é local

As redes sociais continuarão importantes em 2026, mas serão as redes humanas — tecidas nos becos, praças e igrejas dos bairros — que definirão os vencedores. Em Santarém, onde a política ainda se faz no olho no olho, candidatos que subestimam o poder das lideranças locais o fazem por própria conta e risco. O caminho para o sucesso eleitoral passa, inevitavelmente, pelo respeito a quem já tem a confiança da base. Afinal, como diz um antigo líder comunitário: “Aqui, a gente não vota em sigla. Vota em quem a gente conhece.”

O Impacto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *