Formação humanística é tudo

Por Me. José Ronaldo Dias Campos

O ex-ministro do STF — e poeta — Ayres Britto, em entrevista à revista ConJur, há algum tempo, sintetizou com rara precisão:

“O juiz que faz de sua caneta um pé-de-cabra é o meliante número um. O estrago que causa na autoestima coletiva é devastador. Sem sensibilidade, não se percebe que há dramas humanos nos autos. A vida pensada está nos códigos; a vida vivida, nas pessoas.”

Essa fala me fez revisitar reflexões antigas, como as que registrei no artigo “Repensando o Processo”, publicado na minha revista virtual:

https://joseronaldodiascampos.blogspot.com/2014/02/formacao-humanistica-e-tudo.html?m=1

Explico:

O processo não pode ser visto apenas como um amontoado de petições ou um número no sistema, destinado a cumprir metas do CNJ. Ele abriga histórias, angústias, vidas. Não se resume a um jogo de interesses, simplesmente; deve ser compreendido como um instrumento ético de realização da justiça.

Juízes, promotores, advogados e servidores — todos agentes do Direito — precisam compreender que a boa técnica, embora essencial, não basta. É preciso formação humanística: aquela que nos ensina a ver o ser humano por trás do papel — ou melhor, dentro dos autos.

Um processo que se desenrola sem transparência, sem escuta, sem alma, é kafkiano. Assusta. O cidadão não entende do que está sendo acusado, nem por quem, nem por quê. E isso, infelizmente, ainda acontece.

O procedimento, que exterioriza o processo, não pode ser um ritual vazio. O acesso à justiça precisa ser real, sensível, com decisões que respeitem a vida e promovam dignidade.

Quando o Direito esquece a vida, já não é mais justiça. É só mais uma engrenagem fria — e perigosa.

Pensemos nisso!

O Impacto

Um comentário em “Formação humanística é tudo

  • 20 de junho de 2025 em 12:29
    Permalink

    A Boa Técnica e o Coração Humanístico
    Professor José Ronaldo Campos, com sua sabedoria e clareza, vem nos lembra de um preceito fundamental: a importância inegável de aliar a boa técnica à perspectiva humanística.
    Em um mundo cada vez mais técnico e especializado, a voz do Professor Campos ressoa como um lembrete crucial. Fala que dominar as ferramentas, as leis e os procedimentos é sim essencial. Uma boa técnica nos capacita a construir argumentos sólidos, a aplicar a legislação e a buscar a justiça de forma eficaz. É o alicerce sobre o qual edificamos nossa atuação profissional.
    No entanto, o que realmente distingue o verdadeiro profissional, segundo o Professor José Ronaldo Campos, é a capacidade de ir além do tecnicismo. É a sensibilidade para compreender que, por trás de cada processo, de cada norma, existem seres humanos com suas histórias, suas dores, seus anseios e suas esperanças. A perspectiva humanística nos impulsiona a enxergar o impacto de nossas decisões na vida das pessoas, a exercer a empatia e a buscar soluções que não apenas estejam em conformidade com a lei, mas que também promovam a dignidade e o bem-estar social.
    O Professor Campos nos desafia a não nos tornarmos meros aplicadores frios da técnica, mas sim profissionais completos, capazes de combinar a acuidade intelectual com a compaixão. Ele nos mostra que a excelência reside na sinergia entre o rigor técnico e a visão humanística, pois somente assim o direito cumpre sua verdadeira função social. A de servir ao ser humano em sua plenitude. Forte abraço.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *