A incoerência ambiental: o Tapajós pode receber esgoto, mas Santarém não pode receber investimentos?
Por Fábio Maia
É profundamente inquietante observar a seletividade com que certos setores do ambientalismo, ONGs e instituições públicas — especialmente o Ministério Público — escolhem suas bandeiras de atuação. Em Santarém, enquanto toneladas de esgoto doméstico, industrial e hospitalar são despejadas diariamente nos rios Tapajós e Amazonas, esses mesmos agentes se mostram implacáveis contra qualquer tentativa de implantação da Área Portuária 2, do Porto da Embraps, ferrovias, estradas ou de qualquer outro projeto que se atreva a propor desenvolvimento econômico para a cidade.
A retórica de sempre apela para a defesa dos povos tradicionais, sustentada pela controversa Convenção 169 da OIT. No entanto, onde está essa mesma veemência quando o assunto é o saneamento básico, uma das maiores dívidas ambientais e sociais do Brasil? Onde estão os embargos, os protestos, os financiamentos milionários das ONGs, as audiências públicas ou as mobilizações internacionais quando os esgotos correm a céu aberto em direção ao nosso maior patrimônio natural?
A incoerência salta aos olhos. A comoção seletiva que se mobiliza contra empreendimentos portuários — altamente regulados, tecnológicos e com impactos mitigáveis — parece ignorar a devastação ambiental real, crônica e silenciosa que é causada pelo despejo contínuo de esgoto nos nossos rios. A verdadeira tragédia viabilizada por aqueles que deveriam ser os primeiros a agir.
Faltam estações de tratamento de esgoto. Faltam aterros sanitários adequados. Falta infraestrutura. O que não falta é discurso ideológico travestido de “proteção ambiental”. A mesma rigidez técnica exigida de investidores que pretendem gerar emprego, renda e arrecadação para Santarém não é exigida do poder público que há décadas ignora normas ambientais elementares.
Em vez de reconhecer que desenvolvimento e preservação podem caminhar juntos, o que se observa é um esforço orquestrado para inviabilizar o progresso de Santarém, condenando a cidade ao subdesenvolvimento, à dependência assistencialista e à estagnação. Enquanto isso, outras cidades do país avançam com infraestrutura moderna, portos eficientes, tecnologia limpa e respeito ao meio ambiente — sem perder a capacidade de crescer.
Santarém poderia estar gerando riqueza e usando parte dessa arrecadação para sanar justamente os passivos ambientais que nos afligem, iniciando um ciclo virtuoso de desenvolvimento sustentável. Mas o que temos, infelizmente, é o inverso: um ciclo vicioso de imobilismo, sustentado por um ambientalismo incoerente, que parece mais interessado em manter a população carente e o território improdutivo do que em promover soluções reais.
E a cereja no bolo da contradição é o silêncio em relação às usinas termoelétricas, como ocorre em Roraima. Não há clamor ambientalista contra o uso intensivo de combustíveis fósseis — que poluem infinitamente mais do que qualquer hidrelétrica planejada na Amazônia. Afinal, onde está a “coerência ambiental” de quem prega energia limpa, mas aceita calado a fumaça das termoelétricas?
Está mais do que na hora de confrontarmos essa militância com o peso da sua própria incoerência. A preservação ambiental exige mais que slogans: exige responsabilidade, compromisso com a verdade e coragem para reconhecer que sem desenvolvimento não há justiça social, nem sustentabilidade verdadeira.
O Impacto
Minha dissertação de mestrado foi focado sobre a gestão do saneamento, infelizmente estamos desprovidos desse serviço.
Amigo Fábio Maia, faltou citar os navios internacionais, que historicamente permutam água de lastro por água potável nos rios amazônicos e ninguém sequer abirda o assunto.