Distribuição de protetor solar deve ter início em dezembro
Entre os homens, o Rio Grande do Sul amarga a quinta maior incidência de câncer de pele no país — são 78 casos a cada 100 mil habitantes. Entre as mulheres, ocupa a 11ª posição. Mas quando se trata de trabalhadores rurais, de ambos os sexos, estudos indicam que a situação é ainda mais grave. Pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) mostra que um em cada quatro agricultores de Morro Redondo, no sul do Estado, tem algum tipo de câncer de pele.
Para tentar reverter esses índices, um programa estadual irá distribuir 300 mil frascos de protetor solar na primeira fase do programa. O processo de compra está sendo finalizado, mas a projeção é de que a distribuição comece ainda neste ano.
A medida faz parte de uma lei aprovada em 2010 e que apenas agora está sendo regulamentada. Serão beneficiados pela medida produtores familiares: agricultores, pescadores e piscicultores. A compra dos protetores custará cerca de R$ 2 milhões.
— A ideia do projeto surgiu a partir de uma demanda das mulheres da Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado), pois nosso Estado tem muitas pessoas de pele clara — afirma o autor da lei, deputado estadual Heitor Schuch (PSB).
A preocupação faz sentido. Ubirani Otero, epidemiologista responsável pela unidade técnica de exposição ocupacional ambiental e câncer do Instituto Nacional do Câncer (Inca), explica que, quanto mais clara a pele, maior é a chance de desenvolver a doença.
É o caso do produtor Nilson Scheunemann, 49 anos, de ascendência alemã. A pele clara é exposta ao sol diariamente a partir das 7h, durante o trabalho na produção de hortigranjeiros no interior de Pelotas. Uma rotina mantida desde os sete anos de idade.
Há seis anos, o produtor teve câncer de pele no rosto e, desde então, só sai para o campo com chapéu de aba larga e muito protetor. No entanto, em sua própria casa, os parentes, que viram ele passar por todo tratamento, não se convenceram da necessidade de se proteger:
— A gente fala, mas também não vai ficar incomodando. Cada um sabe de sua vida — lamenta Scheunemann.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Evanius Wiermann, estudos demonstram que a maioria das vítimas da doença não se encontra em áreas litorâneas, mas no Interior. Isso ocorreria justamente por causa do nível de conscientização da população.
— Muitos não gostam da ideia de passar creme e usar chapéu. Todas essas orientações estarão disponíveis em materiais entregues em postos de saúde e sindicatos rurais. Também repassaremos informações aos médicos — explica Paulo Mayorga, diretor do Laboratório Farmacêutico do Estado.
A expectativa de Mayorga é de que a campanha comece em dezembro. De qualquer forma, vale o alerte feita por Evanius Wiermann, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica:
— A proteção solar é um conjunto de atitudes que o produtor deve adotar. A medida (distribuição de protetor solar), isoladamente, não surte muito efeito.
Fonte: Zero Hora