Traficantes de drogas do Rio migram para a pirataria, diz polícia
Traficantes de drogas que agem em favelas do Rio de Janeiro resolveram investir em atividades de pirataria, segundo investigações feitas pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade (DRCPIM).
Embora não possam revelar detalhes para não atrapalhar o trabalho, os agentes da especializada já detectaram que, em algumas favelas, os criminosos permitiram a instalação de laboratórios para a fabricação de produtos piratas, como CDs e DVDs.
Segundo um dos policiais ouvidos pelo R7, em troca, eles cobram uma taxa dos responsáveis pela pirataria – os valores não foram revelados. E os produtos são vendidos dentro das próprias comunidades.
– Para os fabricantes de produtos piratas, é melhor ter laboratórios em comunidades carentes porque é mais difícil a polícia descobrir.
Os agentes já descobriram, no entanto, que há casos em que os traficantes, ao perceber os lucros obtidos com o comércio pirata, expulsaram os fabricantes que instalaram laboratórios nas favelas e assumiram o negócio.
– Temos relatos de que traficantes expulsaram os donos dos laboratórios de favelas e não deixaram eles levarem nem as máquinas.
As investigações indicam ainda que, para lavar o dinheiro obtido com a venda de drogas, os traficantes estão abrindo pequenos comércios nas comunidades em que vendem os produtos pirateados.
A titular da DRCPIM, Valéria Aragão, afirmou ao R7 que está planejando uma ação em comunidades para tentar localizar os laboratórios clandestinos. Ela aguarda sinalização da chefia da Polícia Civil para disponibilizar efetivo, já que as oficinas ficam em favelas sem UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
Em 2008, a polícia descobriu um laboratório de mídias piratas no morro da Fé, na Penha, na zona norte. Na ocasião, os agentes da DRPCIM ficaram encurralados na comunidade.
A delegada afirmou não estar surpresa com o fato de traficantes migrarem para a pirataria.
– Pesquisas feitas por institutos internacionais indicam que os lucros com a pirataria são quase o dobro do tráfico de drogas. A pena para a pirataria é menor. A pessoa fica no máximo de três a quatro anos presa. Há uma certa conivência da população com esse tipo de delito. Além disso, o custo para a produção destes produtos é baixa. Um laboratório de mídia pirata pode ser montado por apenas R$ 20 mil.
Camelódromo da Uruguaiana foi alvo de investigação
O combate à pirataria se tornou uma grande prioridade para a Polícia Civil do Rio de Janeiro. O chefe do órgão, delegado Allan Turnowski, afirmou que esse tipo de crime pode se tornar até mais perigoso que o tráfico de drogas e quer evitar a sua disseminação no Estado, principalmente devido aos grandes eventos que o Rio vai abrigar nos próximos anos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Recentemente, a polícia fez uma grande operação no principal polo de comércio popular do Rio de Janeiro, o camelódromo da Uruguaiana, no centro da capital. Na ação, os agentes da DRCPIM conseguiram encher mais de dez caminhões com produtos piratas apreendidos. Foi montada uma base operacional fixa da polícia no local para coibir a venda de mercadorias ilegais.
As investigações feitas pela DRCPIM indicaram que um pequeno grupo de pessoas detinha o controle de vários boxes no camelódromo. Muitas lojas estavam em nomes de laranjas.
Alguns boxes eram alugados semanalmente por até R$ 2.000 e outros vendidos por até R$ 300 mil. Havia estandes na Uruguaiana com mercadorias que, se somadas, valiam cerca de R$ 1 milhão.
Mario Hugo Monken, do R7