Projeto Quelônios: a ciência a favor da preservação da fauna
O Instituto de Pesquisas do Amazonas e Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMbio), com o apoio da Mineração Rio do Norte (MRN), iniciaram nesta segunda quinzena de dezembro a soltura de novos quelônios (tartarugas, tracajás e pitiús) na região do oeste paraense. A iniciativa existe há mais de 30 anos e vem ajudando a preservar as espécies da captura predatória. A primeira soltura ocorreu no último dia 15 de dezembro, a segunda na quinta-feira e a terceira na sexta-feira (19) contabilizando 15 mil filhotes.
Com o esforço de comunitários do Alto Trombetas pesquisadores e demais profissionais envolvidos no projeto navegam rumo às praias do rio Trombetas, no município de Oriximiná no Pará, distante cerca de 880 quilômetros de Belém, para fazer um inventário, monitorar os animais do projeto que foram inseridos na narureza e conscientizar as populações para a importância de conservar a fauna de um dos principais biomas do mundo.
O incansável trabalho dessas equipes e da empresa vem como forma de combater uma triste realidade, a caça e venda ilegal de tartarugas adultas. E o resultado já é visível, no início do programa, em 1980, existiam somente 190 fêmeas adultas. Hoje é possível encontrar mais de 550 tartarugas preparadas para a reprodução.
Compartilhando o comando do programa, o pesquisador Richard Carl Vogt, um dos maiores especialistas em conservação e ecologia de tartarugas de água doce do planeta, fala um pouco da importância do projeto: “Há mais de 20 anos, eu estudo o comportamento dos quelônios no rio Trombetas, principalmente das tartarugas da Amazônia. Quando cheguei aqui, eu ouvi e absorvi o conhecimento dos ribeirinhos e quilombolas, o que me amparou bastante na construção do conhecimento utilizado neste projeto”.
Carl Vogt, sua equipe, os profissionais do ICMbio e da MRN comemoram a soltura dos quelônios desta temporada, resultado do trabalho de conservação ambiental realizado nas comunidades quilombolas do lago Erepecu, na margem direita da Reserva Biológica do Rio Trombetas e Floresta Nacional Saracá-Taquera, que juntos somam uma área de 814 mil hectares administrada pelo ICMbio, órgão do Ministério do Meio Ambiente.
Na região Amazônica, as tartarugas, tracajás e pitiús são animais usados tradicionalmente pelas populações locais como alimento. As espécies ainda não estão na lista de ameaçados de extinção pelo IBAMA, mas constam na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. A tartaruga da Amazônia (podocnemis expansa), por exemplo, depende de programas de conservação. O tracajá e o pitiú constam como vulneráveis à extinção.
Para Vogt, o problema não está na cultura alimentar das comunidades ribeirinhas e quilombolas da região, mas no tráfico desses animais que levam de 8 a 12 anos para sair da fase de filhotes e passam de 50 a 100 anos reproduzindo.
A ciência a favor do projeto
Nesta temporada de soltura de quelônios, os cientistas do INPA e da equipe de Vogt criaram um mecanismo que monitora as primeiras horas de vida dos filhotes na natureza. Esse tipo de monitoramento veio como forma de identificar o amparo dado pelas mães aos filhotes soltos no rio, uma vez que acreditava-se que as mães não os acompanhavam.
Por meio de câmeras provisoriamente instaladas nos cascos das mães, os cientistas querem comprovar que todas as fêmeas que estão no lago onde os filhotes são soltos, são capazes de ampará-los, protegendo-os no primeiro contato feito em liberdade com o meio ambiente. O resultado desse estudo será publicado no próximo ano, em veículos como National Geografic e Scientific American.
Os estudos e ações para a preservação dos quelônios fazem parte do programa que recebe, desde 1998, recursos da MRN. Somente em 2014 a empresa já doou mais de R$ 950 mil reais para a preservação dessas espécies na Amazônia, algo que garantiu desde janeiro até meados de dezembro a soltura de mais de 47 mil filhotes de quelônios.
Fonte: RG 15/O Impacto e Érica Palhares