Banco Central corta previsão de crescimento de 0,7% para 0,2%
A economia brasileira deve ficar praticamente estagnada neste ano. O Banco Central cortou a previsão de crescimento de 0,7% para 0,2%. Segundo o relatório trimestral de inflação, divulgado nesta terça-feira, o BC ainda aumentou a projeção para a inflação oficial (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA) de 6,3% para 6,4% em 2014. Nas contas dos técnicos, a inflação não voltaria para a meta nem daqui dois anos. No entanto, na contramão das estimativas, a autoridade monetária afirmou que fará “o que for necessário” para colocar o IPCA no objetivo em 2016.
Tanto para este ano quanto para o ano que vem, a meta do Banco Central é fazer com que a inflação fique em 4,5%. Há, entretanto, uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais. É nessa banda que o IPCA esteve acomodado nos últimos anos. Em alguns momentos – como o atual – chegou a romper o teto de 6,5%. No acumulado nos últimos 12 meses, por exemplo, o índice está em 6,56%.
No relatório de inflação, a sua publicação mais importante, o BC traçou o seguinte cenário para a alta de preços: o IPCA chegaria a 6,1% no fim do ano que vem. E em 2016, fecharia o ano em 5%. Essa conta é feita com alguns parâmetros. No caso, o Comitê de Política Monetária (Copom) usou a taxa básica de juros (Selic) atual, de 11,75% ao ano, e o valor do dólar na última reunião do colegiado, de R$2,55.
— Em 2015, a inflação adquire uma composição sustentável e entra em longo período de declino — prometeu o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.
Na prática, o Copom disse que esses parâmetros precisam mudar para que a inflação chegue a 4,5% em 2016. E sinalizou que poderá subir os juros o quanto for necessário para alcançar ao objetivo.
“O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária. Nesse sentido, o Comitê irá fazer o que for necessário para que no próximo ano a inflação entre em longo período de declínio, que a levará à meta de 4,5% em 2016”.
Uma alta de juros ainda maior poderia sacrificar a já comprometida atividade. Para o Copom, a aceleração do crescimento será bem moderada em 2015. A previsão de expansão da atividade econômica até o terceiro trimestre de 2015 é de 0,6%. O BC só faz estimativas de crescimento com três trimestres de antecedência. Em março, divulgará sua aposta para o ano que vem fechado.
O BC ressaltou que há ajuste iniciado pela economia brasileira. O país lida com a queda nos preços de commodities, focos de tensão e de volatilidade nos mercados, ritmo de atividade menos intenso este ano, em comparação com o de 2013, mas em trajetória de recuperação no segundo semestre do próximo ano.
INVESTIMENTOS EM NÍVEL ‘INSATISFATÓRIO’
Outros pontos salientados foram o nível de confiança historicamente baixos (tanto de consumidores como de empresários), a dinâmica do mercado de trabalho e dois importantes processos de ajustes de preços relativos em curso: a alta do dólar (que deve continuar no ano que vem) e o fim da estratégia de represar aumento de tarifas de serviços públicos para frear a inflação.
“Na visão do Copom, o fato de a inflação atualmente se encontrar em patamares elevados reflete, em parte, a ocorrência dos dois supracitados processos de ajustes de preços relativos. Nesse contexto, (…) o Comitê não descarta elevação da inflação no curto prazo e antecipa que a inflação tende a permanecer elevada em 2015, todavia, para o Copom, ainda no próximo ano a inflação entra em longo período de declínio”, diz o relatório.
Por outro lado, o BC ressalta vantagens da alta do dólar num momento de recuperação mundial. E lembra que nos próximos dois anos, o mundo deve voltar a crescer e a consumir produtos brasileiros.
O Copom reafirmou que mudanças importantes devem ocorrer na composição do crescimento do país: o consumo tende a crescer em ritmo moderado e os investimentos tendem a ganhar impulso. No entanto, classificou como “insatisfatório” o desempenho recente do investimento.
“Sobre o fator capital, de acordo com as Contas Nacionais relativas ao terceiro trimestre, a taxa de investimento recuou pelo quarto trimestre seguido, deslocando-se para 17,2% do PIB no acumulado em doze meses. Especificamente no segmento empresarial, dois fatores poderiam estar associados ao desempenho insatisfatório da formação de capital fixo: a baixa confiança de empresários e a evidência de estreitamento das margens de lucro”, afirma o Copom.
Fonte: O Globo