Católicos revoltados com venda da casa dos padres

Paróquia de São Raimundo Nonato, que era conhecida como “Casa dos Padres”
Paróquia de São Raimundo Nonato, que era conhecida como “Casa dos Padres”

Os moradores católicos do bairro da Aldeia, em Santarém, no Oeste do Pará, procuraram nossa reportagem para mostrar revolta e indignação com a venda de um prédio localizado na Avenida Tapajós, esquina com a Travessa Silva Jardim, no bairro da Aldeia, que pertencia à Paróquia de São Raimundo Nonato, que era conhecida como “Casa dos Padres”.

Nesse local várias ações beneficentes eram desenvolvidas pelo Conselho da Pastoral da Comunidade de São Raimundo Nonato, composta por 10 voluntários. Na Casa dos Padres funcionava a Sala de Catequese da Paróquia, Pastoral da Saúde, Alcoólicos Anônimos, Projeto Bete Bruno (ligado à Pastoral da Saúde, onde se produziam medicamentos homeopáticos). Também existia um consultório médico para atender os moradores do bairro e pessoas que moram nas regiões de rios, sendo que este atendimento era feito pelo médico Rubem Dourado. Vários encontros de catequese também aconteciam semanalmente no local.

Tudo isso deixou de funcionar e de ser realizado após a Diocese de Santarém ter vendido o imóvel para a Congregação do Verbo Divino. Os padres que agora são os novos proprietários do imóvel decidiram acabar com esse serviço voluntário. Os membros do Conselho da Pastoral da Comunidade de São Raimundo Nonato procuraram por várias vezes o Pároco da Igreja, Padre Henry Mendonça, que é de origem indiana, para tentar convencê-lo a não acabar com esse serviço, mas todas às vezes foram rechaçados pelo Padre.

Um dos membros do Conselho da Pastoral, que preferiu não se identificar com medo de sofrer represálias, informou que com o Padre Henry Mendonça não existe diálogo, ele não escuta ninguém. Tal fato revoltou os dez membros do Conselho da Pastoral, que decidiram abandonar a Instituição. Segundo essa pessoa, o Conselho da Pastoral investiu cerca de R$ 30 mil em equipamentos e móveis e, simplesmente após a Congregação do Verbo Divino adquirir o imóvel, decidiu fazer uma reforma no prédio e esses equipamentos e móveis estão sendo deteriorados com a poeira da obra do prédio.

Hoje quando os moradores do bairro e das regiões de rios se dirigem à “Casa dos Padres” em busca desses serviços, encontram o local fechado e ninguém dá informação. Muitos se dirigem ao escritório da Paróquia, que fica ao lado da Igreja de São Raimundo Nonato, sujeitos ao sol e chuva, pois o local é pequeno e não oferece condições adequadas aos comunitários, mas mesmo assim não estão conseguindo esses serviços.

Todos querem saber quem autorizou a venda do imóvel e onde foi aplicado esse dinheiro. Nossa reportagem tentou falar com o Pároco da Igreja de São Raimundo Nonato, Padre Henry Mendonça, para saber o seu pronunciamento sobre essa questão, mas não obtivemos êxito, porém, o espaço está aberto para qualquer esclarecimento.

Só para lembrar, esse prédio é antigo e um dos cartões postais de Santarém, pois a “Casa dos Padres” é uma referência para quem chega do interior e de outras cidades vizinhas. Agora, será mais um patrimônio histórico do Município que se vai.

PATRIMÔNIO HISTÓRICO: Criado com o objetivo de promover o estudo, a pesquisa e a divulgação da História, da Geografia, da Arqueologia e demais ciências correlatas na região oeste do Pará, conforme rege em seu estatuto, o Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTap), instituição de caráter científico e cultural, condena as ações que atentam contra a memória do povo desta região. Para a diretoria do Instituto, a insensibilidade e a especulação imobiliária estão levando à depredação do nosso patrimônio arquitetônico. Tais práticas afetam o que resta de prédios e monumentos históricos de nossas cidades.

Santarém, de acordo com o Instituto, do alto de seus mais de 350 anos de história, ainda está perplexa com cenas chocantes difundidas pelos meios de comunicação, da derrubada criminosa de um desses prédios localizados no centro histórico da cidade, o conhecido Casarão Tapajônico, pertencente à família Macambira e que foi construído no final do século XIX. Artistas locais realizaram, inclusive, um protesto contra esse crime e outras instituições já se unem para se manifestar contra toda essa situação.

Desde 2009, pesquisadores de Santarém realizam eventos em parceria com instituições de ensino e órgãos da Prefeitura Municipal de Santarém, visando resgatar a importância destes espaços em meio ao crescimento da especulação imobiliária no centro histórico da cidade. Desse trabalho, já foram organizados catálogos descritivos de mais de 100 prédios que teriam valor histórico e cultural, a maioria deles pertencentes a famílias tradicionais, mas que se encontram abandonados.

“De lá para cá, nada foi feito para evitar que alguns destes casarões fossem desfigurados ou demolidos, como o já citado Casarão Tapajônico”, critica o IHGTap.

Segundo o Instituto, essas pesquisas contribuíram para que Santarém pudesse ser incluída no PAC/CH (Programa de Aceleração do Crescimento/Cidades Históricas), através do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão do Governo Federal, o que resultou, inclusive, na liberação de recursos que hoje são utilizados na recuperação do nosso Centro Cultural João Fona.

Apesar de ainda não constar da lista das 44 cidades históricas do Brasil que recebem maiores investimentos deste programa, Santarém faz parte da lista de nove cidades consideradas históricas pelo Iphan/PA, juntamente com Afuá, Belém, Belterra, Bragança, Cametá, Óbidos e Vigia.

Há registros de que durante esse levantamento e catalogação de prédios históricos realizado nos últimos cinco anos, foi definido pelos então membros do Conselho Municipal de Cultura, providências para o tombamento de prédios no perímetro entre as avenidas Rui Barbosa e Tapajós, Barão do Rio Branco e Adriano Pimentel, onde se concentra o maior número de edificações com valor histórico. Sendo, que a “Casa dos Padres” está incluída nessa área.

“A atual gestão da Prefeitura até chegou a criar, na Secretaria Municipal de Cultura, uma Divisão do Patrimônio Histórico, que até hoje só produziu um manual de tombamento de prédios, ainda sem utilização concreta”, aponta o IHGTap.

Além disso, o Instituo revela que há informações oficiais de que foram apresentados projetos junto ao Iphan para a recuperação de alguns logradouros históricos, como a Praça Barão de Santarém (São Sebastião), Praça do Centenário (São Raimundo), Igreja Nossa Senhora Assunção (Vila Franca, rio Tapajós), antigo Cristo Rei (Av. Barão do Rio Branco – Centro), Igreja Nossa Senhora da Saúde (Alter do Chão), Igreja de Nossa Senhora de Santana (Arapixuna), Igreja de Santo Inácio de Loiola (Vila de Boim – rio Tapajós), Praça Rodrigues dos Santos, sitio arqueológico da Vera Paz e centro histórico de Santarém.

“Em que pese tais iniciativas, o que se percebe é que muito pouco ou quase nada foi feito para impedir a atual situação de destruição de alguns prédios do centro histórico de Santarém. A morosidade nessas decisões legislativas e a omissão do Poder Executivo são inexplicáveis e devem receber a prioridade que a atual situação exige. Com a demolição do Casarão Tapajônico, entre outros atentados ao Patrimônio Arquitetônico, Histórico e Cultural de Santarém, vai-se nossa história, nossa identidade”, analisa o IHGTap.

DEPRECIAÇÃO: De acordo com o Instituo Histórico e Geográfico, em todo o Oeste do Pará existe um patrimônio histórico, artístico e cultural que vem sofrendo grande pressão das iniciativas econômicas que se implementam na região. Santarém, Óbidos e Monte Alegre, só para citar cidades já com pesquisas no campo do patrimônio, acompanham um processo acelerado de depreciação dos marcos materiais de suas histórias. “Para nós, esse processo deve ser enfrentado e revertido. É preciso, e com urgência, iniciar campanhas, através das prefeituras, pela compreensão da importância para a identidade de uma região, do respeito, preservação e ressignificação de seu patrimônio histórico”, alerta a diretoria do IHGTap.

Só nos resta torcer para que o Padre Henry Mendonça se comova com o sofrimento dos moradores do bairro da Aldeia e regiões de rios e, volte atrás para reativar esses serviços sociais à comunidade.

Fonte: RG 15/O Impacto

5 comentários em “Católicos revoltados com venda da casa dos padres

  • 21 de fevereiro de 2015 em 09:23
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    Dou todo apoio ao paroco por cortar os convenios. Cabe a ele descidir isso. Querem usar a noticia para o calar. E acredito que o direito canonico esta do lado dele. Deveriam pedir prestacao de contas? Ora o conselho deveria ter tido isso em maos. Pior, um conselho que se sujeita a intrigas e nao sabe como funciona uma diocese nao serve para nada. Ao padre digo que fique firme, Sao Raimundo e Santo Antonio tambem foi difamado pelos donos de suas aldeias. Obrigado por estar conosco evangelizando.

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    • 27 de fevereiro de 2015 em 10:54
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      Sra. Rosalina leia a matéria , pelo visto a Sra. não leu é muito menos entendeu e assim fica difícil entender seu comentário confuso.

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  • 20 de fevereiro de 2015 em 21:59
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    Realmente é lamentável que a história da nossa comunidade tenha sido” violentada” desta forma tão disforme. Se ndo vejamos: a comunidade foi comunicada, através dos seus representantes paroquianos , desta venda???, qual o objetivo ou projeto de investimento na própria comunidade com o dinheiro desta venda?? E a pergunta que não quer calar : ONDE FOI APLICADO ESTE DINHEIRO???? . A comunidade de São RAimundo merece urgentemente de uma resposta ou melhor ainda de uma prestação de contas !! Será que o então pe. Henry tem um mínimo de conhecimento da história da nossa comunidade , afinal ele deve respeitar as próprias origens sendo ele Indiano . Porque nós paroquianos somos internados que a Índia é um país extremamente rigoroso em relação a sua história, cultura e principalmente em relação a valorização da religião daquele povo. Lendo a matéria me chamou atenção o detalhe de que quem teve uma atitude muito digna, de tornar público este fato lamentável desta venda , teme REPRESÁLIA , porque?? . A comunidade de São Raimundo Nonato é uma comunidade destemida e aguerrida e nso temos que ter medo de defendê-la . O próprio hino do nosso padroeiro diz: “Sendo irmãos nos sentimos o sangue de Cristo na veia . viva , viva São Raimundo padroeiro da nossa aldeia ….” O Padre Henry tem que receber a imprensa para dar esclarecimentos , esse direito lhe assiste. Caso isto não ocorra a imprensa tem que procurar o Bispo e se ainda assim a comunidade continuar sem os esclarecimentos merecidos não tem problema , a CNBB pode nos ajudar a esclarecer essa venda . O Papa Francisco também estará ao nosso lado.

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  • 20 de fevereiro de 2015 em 08:00
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    Que pena eu fiz minha primeira comunhão e a crisma nesse lugar por onde passou muitas pessoas importante de nossa cidade se o predio era da paroquia então o padre tinha que comunica a comunidade e não fazer o que ele bem entende o predio não e dele comunidade do bairro da aldeia lutem pelo repatriamento do imovel a retorna paroquia de SÃO RAIMUNDO NONATO

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    • 20 de fevereiro de 2015 em 16:39
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      Pelo que entendi da materia ainda é a casa dos padres, e esta sendo reformada. Nao vejo porque tanto choro. Eles sempre vai estar ai a disposicao de voces. Em tempo de poucos padres agradeço a Deus por ter aprendido muito con eles ai onde me crismei. A aldeia sempre implicou com eles, desde o tempo do freis. Cabe reflexao de todos na quaresma.

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