Biofiltro pode facilitar acesso à água de qualidade em comunidades ao longo do Amazonas

Biofiltro sendo criado pela Ufopa
Biofiltro sendo criado pela Ufopa

Cerca de 260 comunidades do município de Santarém vivem na maior bacia de água doce do planeta. Na várzea do Amazonas, elas conseguem desenvolver a agricultura e criar animais durante seis meses. Na outra metade do ano, o rio inunda as partes mais baixas da várzea. Mesmo cercadas pelo rio, essas comunidades enfrentam o sério problema de não ter acesso à água de qualidade.
Sem sistema sanitário ou mecanismos que permitam a captação de águas do lençol freático, as populações consomem a do rio. Apesar de farta, essa não é, nos dias atuais, a opção mais segura para as famílias. “Com o desenvolvimento da população ribeirinha, a água do rio não está mais só com sedimentos, que, em tese, não fazem tanto mal à saúde. Hoje, há a intensificação da navegação, com maior quantidade de embarcações, e os dejetos que são lançados no rio contribuem para a sua contaminação”, explica o professor Manoel Roberval Pimentel Santos, do Instituto de Engenharia e Geociências (IEG). Além disso, a maioria das famílias usa fossas rudimentares, que também contaminam o rio no período da cheia.
Para quebrar essa contradição, o professor coordena a pesquisa de um filtro de baixo custo e sustentável produzido a partir do caulim, uma argila comum na região, popularmente conhecida como tabatinga. O caulim permite a formação da zeólita, um material com estrutura cristalina capaz de reter determinados elementos. Ela funciona como uma peneira molecular e é utilizada industrialmente na composição de detergentes com a função de remover moléculas de gordura, por exemplo.
Atualmente, o filtro está em fase de testes. Tatiane Costa, aluna de Engenharia Física, explica como ele funciona: “A água é colocada em um tubo, onde passa por camada de areia e carvão ativado e depois goteja em um segundo tubo, que dá acesso à zeólita”. A zeólita é utilizada em forma de pastilhas porosas, que são produzidas a partir da mistura com pó de serragem.
Após a filtragem, a água é submetida a análises físico-químicas para verificar se houve retenção de matéria orgânica, bem como alterações na acidez, turbidez e odor. Além disso, a pesquisa também verificará se as pastilhas de zeólita são capazes de eliminar coliformes fecais e bactérias. Testes com água de esgoto pré-tratada já mostraram bons resultados na coloração e alguns parâmetros físico-químicos. A análise de potabilidade se baseia na Portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde e na Resolução nº 357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
“Se conseguirmos demonstrar que a zeólita pode fazer essa filtração junto com o carvão ativado e a areia, que são materiais com custo muito baixo, poderemos manipular e produzir em grande quantidade para distribuir futuramente para as comunidades ribeirinhas. Vai ajudar na saúde, principalmente, já que vários casos de doenças ligadas à água ocorrem com uma frequência muito grande nessas comunidades”, afirma Tatiane.
Tecnologia social para tratamento de água
O Prof. Roberval explica que o biofiltro faz parte de uma proposta maior de desenvolver um microssistema integrado de geração de energia elétrica, captação e tratamento de água para comunidades de várzea do Amazonas, com a proposta inicial de atender 40 famílias na região. “Eles têm um grande problema, que é a falta de energia e água. A falta de energia é mais compreendida porque como essas comunidades não têm ligação em terra firme com a sede do município é difícil ter disponibilidade de energia elétrica porque demandaria um custo elevado”, explica.
A ideia do projeto é gerar energia elétrica com painéis solares, para acionar bombas de baixa potência que captarão a água do rio ou de um poço de até 30 metros de profundidade. A partir daí, a água seria tratada, passando por um processo de decantação para a retirada de excesso de sedimentos, filtragem e cloração.
Segundo o professor, essa é uma alternativa viável porque a Amazônia tem um grande potencial solar: “Apesar de a nossa região ter a ocorrência de muitas nuvens, a radiação solar é bastante intensa. Nós somos a segunda maior região do país com potencial de energia solar, ficando atrás apenas da região Nordeste”.
Paralelamente ao sistema de filtragem, também estão sendo desenvolvidos microssistemas de energia a partir de placas solares e de tratamento de água em outros dois projetos coordenados por ele. Com os resultados parciais, será possível delimitar as próximas ações junto às comunidades, que devem buscar não só o fornecimento de água potável para consumo, mas também fomentar a produção agrícola.
Os projetos são realizados no âmbito dos programas de iniciação científica, desenvolvimento tecnológico e inovação e extensão (Pibic, Pibiti e Pibex), e o grupo de pesquisa liderado pelo professor está em busca de financiamentos para custear e melhorar o desenvolvimento das pesquisas.
“Essa contradição me inquieta bastante: como é que essas pessoas, que vivem dentro da água, têm problema de água? É papel da Universidade buscar soluções alternativas e sustentáveis. A Ufopa foi criada com o objetivo de diminuir essas contradições”, conclui o professor.
Fonte: RG 15/O Impacto e Ascom/Ufopa

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