PTB e PDT deixam governo de Dilma Rousseff

Presidente Dilma Rousseff
Presidente Dilma Rousseff

No dia em que o assumiu o descontrole sobre a base aliada ao fazer um apelo público pela união de forças para tirar o país da crise, o governo sofreu duas baixas na Câmara dos Deputados que devem dificultar ainda mais a governabilidade. PTB e PDT romperam com a aliança governista e anunciaram posição de independência. Juntas, as bancadas dos dois partidos têm 44 deputados.
Pouco antes da rebelião dos aliados, o vice-presidente e articulador Michel Temer fez um pedido público de socorro ao Congresso Nacional. Temer falou em união de forças e disse que é preciso que todos se dediquem para resolver os problemas do Brasil.
O argumento do PTB e do PDT para o desembarque é semelhante: as legendas não querem mais ser responsabilizadas pela crise instalada no país. Os deputados também reclamam da falta de diálogo do governo com suas bases. “Queremos sobrevivência política. Não vamos aceitar desrespeito. O governo tem que ter parceiros, e não agregados”, disse o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO). “Está nos constrangendo a postura política (com) que o governo trata o Congresso”, afirmou o líder do PDT, deputado André Figueiredo.
Os dois partidos ocupam cargos no alto escalão. O PTB está à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), enquanto o PDT comanda o Ministério do Trabalho. Nos bastidores, fala-se que o PP, hoje no comando da Integração Nacional, também demonstra interesse em adotar a posição de independência. Em algumas matérias, a legenda já vem votando contra o governo.
O estopim para a saída de petebistas e pedetistas da base aliada se deu em reunião de líderes na tarde desta quarta-feira. Ao tentar barrar a projeto que aumenta o salário de algumas carreiras públicas, como a da Advocacia-Geral da União, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), irritou os deputados ao sugerir uma manobra que iria acabar inviabilizando a matéria. De forte apelo popular, a proposta tem o respaldo dos partidos aliados. “O governo apenas reage. Não trabalha o planejamento com o tempo nem o impacto das matérias”, disse um deputado que esteve no encontro, que relatou ainda a tensão entre os parlamentares.
Depois do anúncio do rompimento, Guimarães decidiu retirar o pedido de adiamento da votação da matéria para o fim do mês. E jogou sobre o Parlamento a culpa sobre um possível desajuste na economia causado pelo texto: “As responsabilidades são do Congresso, que não atendeu apelo do governo”, disse. O petista afirmou ainda que tentará recompor a base: “Temos de botar o pé na estrada. O ajuste agora é político”, continuou. Guimarães criticou a falta de fidelidade e sinalizou que pode haver trocas ministeriais entre os partidos que não acompanham o governo.
DATAFOLHA: REPROVAÇÃO A DILMA CRESCE E PASSA A DE COLLOR EM 1992
No momento em que o Planalto faz apelos à sociedade, à oposição e ao Congresso e o governo se vê às voltas de uma crise política onde até a base aliada ameaça abandonar o barco, pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira pelo jornal “Folha de S.Paulo” mostra que a presidente Dilma Rousseff tem 71% de reprovação, superando assim as piores taxas registradas por Fernando Collor no cargo às vésperas de sofrer processo de impeachment.
Na pesquisa anterior, na terceira semana de junho, 65% dos entrevistados avaliaram o governo Dilma como ruim ou péssimo.
O grupo dos que consideram o desempenho da petista ótimo ou bom variou para baixo, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais. Em junho, 10% dos entrevistados mantinham essa opinião. Agora somam 8%.
O quadro também piorou para a petista no que se refere a um eventual pedido de impeachment. Perguntados se o Congresso deveria abrir um procedimento formal de afastamento, 66% dos entrevistados disseram que sim. Na pesquisa anterior, em abril, eram 63%.
Aumentou ainda o percentual dos que acreditam que a presidente será retirada do cargo. Em abril, 29% avaliavam que ela sofreria impeachment e agora esse índice passou para 38%. Outros 53% disseram que a petista será afastada e 9% não souberam opinar.
Os números registrados pelo Datafolha na sondagem desta semana são os piores desde que o instituto começou a série de pesquisas em âmbito nacional, no governo Collor.
O atual senador pelo PTB-AL era até agora o recordista de impopularidade na série do Datafolha, com 9% de aprovação e 68% de reprovação na véspera de seu impeachment, em setembro de 1992.
Dilma passa a ser assim a presidente com a pior taxa de impopularidade entre todos os eleitos diretamente desde a redemocratização.
As pesquisas Datafolha do período do governo Sarney (1985-1990) eram feitas em dez capitais. Nesse universo, o ex-presidente registrou 68% de reprovação em seu pior momento, em meio à superinflação.
PIOR AVALIAÇÃO É NA REGIÃO CENTRO-OESTE
A pior avaliação de Dilma se dá na região Centro-Oeste, onde 77% dos entrevistados avaliam o seu governo como ruim ou péssimo. No Sul e no Sudeste, esse índice é de 73%. No Nordeste, 66% fazem a pior avaliação da gestão da petista. No Norte, esse número fica em 65%.
Quando os entrevistados são divididos por renda, os piores índices de Dilma estão entre os que ganham mais de dez salários mínimos. Nessa faixa, 75% consideram seus governo ruim ou péssimo. Na faixa seguinte, com renda entre cinco e dez salários mínimos, o percentual oscila para 74%. Entre o grupo com renda entre dois e cinco salários mínimos, são 73% os que avaliam mal a gestão da petista. Entre os que ganham menos de dois salários mínimos, 69% avaliam o governo como ruim ou péssimo.
O levantamento foi feito entre os dias 4 e 5 de agosto com 3.358 entrevistados em 201 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Fonte: O Globo e Ercio Bemerguy

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