Resina do jutaí pode ser alternativa à indústria de verniz
Uma ideia na cabeça e uma panela de barro na feira. O que podem ter em comum? A princípio, nada. A relação foi estabelecida pela observação atenta de um pesquisador do curso de pós-graduação da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), João José Lopes Corrêa, ao caminhar pela feira de agricultura familiar da comunidade do Lago Grande (próximo ao município de Juruti). “Estava em busca de um objeto para pesquisar e percebi que as panelas de barro eram revestidas internamente com um material de cor escura e foi esse revestimento que me chamou a atenção”, afirmou.
A artesã explicou ao pesquisador que tinha aprendido com a avó a revestir as panelas e que o revestimento garantia uma maior durabilidade. Eureca! Acabava a busca pelo objeto a ser pesquisado. “Estava diante do uso tradicional da resina jutaicica, muito comum na Amazônia Paraense e Amapá, muito utilizada pelos artesãos nas olarias”. Era preciso estudar a possibilidade do uso científico. Foi o que ele fez.
Durante dois anos, Corrêa frequentou o Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA), do que resultou a pesquisa intitulada “Copal do Brasil: ocorrência e caracterização físico-química da resina de jutaicica de Santarém”, que mapeou a resina da jutaicica e do jatobá, que já foram usadas como base de produtos na indústria para a fabricação de verniz (copal). Essa resina já foi – de acordo com estudos históricos – um importante produto da economia local. O copal também pode ser uma alternativa para diversos tipos de revestimentos, entre eles o teflon.
A pesquisa submeteu as espécies do gênero Hymenaea L., conhecidas regionalmente com jutaís e jatobás, a estudos de ‘termoanálise’ e ‘ressonânica magnética nuclear de carbono 13’. “A termoanálise sugere menor conteúdo de material polimerizado na resina de H. parvifolia. Os espectros no infravermelho e de ressonância magnética nuclear do carbono 13 no estado sólido mostraram maior homogeneidade das resinas de H. courbaril, e as diferenciaram das resinas de H. Parvifolia através da intensidade de picos de absorção relacionados a grupos olefínicos e oxigenados”, conclui o estudo.
De acordo com a pesquisa, cerca de 10% das árvores da espécie Hymenaea L. produzem resina. A área pesquisada abrange parte da Floresta Nacional do Tapajós (Flona). “O acúmulo de resina foi encontrado em espécimes na fase reprodutiva com abundância estimada em 5 a 6 árvores/100 hectares, entre a população madura de Hymenaea spp. As coletas e observações efetuadas indicam um potencial máximo superior a 10 kg/árvore sem prazo conhecido de reposição”.
Mostras das espécies pesquisadas já estão armazenadas na coleção científica do Herbarium da UFOPA. “Foi feita a exsicata desses espécimes coletados pelo pesquisador que estão guardados aqui, são o testemunho do trabalho dele. A árvore pode ser cortada, mas dentro da coleção científica dura indefinidamente”, esclareceu a Profa. Thais Almeida, curadora do Herbarium.
Produtos florestais não madeireiros – “A importância deste estudo se dá devido à necessidade de familiarização, compreensão e melhor precisão em abordagens subsequentes dos produtos florestais não madeireiros da Amazônia. Recomendamos incluir a coleta da informação sobre a disponibilidade do produto nos inventários florestais pré-exploratórios particularmente nas áreas de manejo florestal comunitário voltado à sustentabilidade da manutenção da floresta em pé”.
É preciso considerar o que tirava o sono do agrônomo João José Lopes Corrêa. “Floresta valorizada é a floresta no chão. Não podia aceitar isso com naturalidade”, assevera demonstrando números da produção agrícola brasileira. Dados do IBGE (2012) demonstram que a produção vegetal brasileira é de R$222,3. A produção vegetal regional tem uma participação de apena 5% do valor da produção nacional. “Considerando-se que a região Norte ocupa 45% do territorial brasileiro, esse número é inexpressivo”. No estudo Corrêa esclarece ainda que “a produção florestal contribui com apenas 18% do total regional, devido principalmente À extração de madeiras nativas em toras (12%), enquanto que os produtos florestais não madeireiros (PFNM) contribuem com menos que 4%, concentrados no extrativismo de frutos de açaí e castanha-do-pará”.
Fonte: RG 15/O I,pacto e Lenne Santos/Ufopa