Com entrada de Lula, Dilma cede e planeja reforma ministerial
Como condição imposta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o Ministério da Casa Civil, a presidente Dilma Rousseff discute uma nova reforma ministerial.
As alterações podem envolver pastas como Comunicação Social, Esporte, Educação, Relações Exteriores e até mesmo a chefia do Banco Central.
O objetivo é acomodar aliados do petista e promover mudanças que deem novo fôlego ao governo federal diante da possibilidade de abertura do processo de impeachment.
Antes de promover as alterações, a presidente realizará uma espécie de análise da fidelidade da base aliada. A intenção é ponderar qual é a base real de apoio ao governo federal e, assim, redimensionar os atuais espaços dos partidos na Esplanada dos Ministérios.
MUDANÇAS
Em nota divulgada nesta quarta-feira (16), o Palácio do Planalto confirmou a nomeação de Lula para a Casa Civil e o deslocamento de Jaques Wagner para o gabinete da Presidência da República.
A presidente também anunciou o deputado federal Mauro Lopes (PMDB-MG) como novo ministro da Secretaria da Aviação Civil.
O peemedebista havia acertado com o vice-presidente Michel Temer deixar a nomeação para a semana que vem, mas devido a uma intervenção da petista, que se reuniu com ele no Palácio do Planalto, o deputado federal mudou de ideia e aceitou assumir nesta semana.
No encontro com a presidente no Palácio da Alvorada, nesta quarta, Lula cobrou alterações na política econômica e sugeriu nomes para outras pastas estratégias do governo federal.
Segundo a Folha apurou, a ideia é deslocar o ministro Edinho Silva da Comunicação Social para Esportes, alteração com a qual ele já tem trabalhado. Para seu lugar, foi sugerido o jornalista Franklin Martins, que ocupou a pasta no governo do petista.
Para o Banco Central, Lula sondará Henrique Meirelles, que também esteve à frente do cargo na administração do petista. O ministro Alexandre Tombini disse a interlocutores que caso a entrada do petista envolva uma guinada econômica, ele não toparia continuar à frente da autoridade monetária.
Para Relações Exteriores, o petista tem defendido o retorno de Celso Amorim e, para substituir o ministro Aloizio Mercadante na Educação, ele defende Ciro Gomes, do PDT.
Nas conversas, Lula alega que de nada valerá sua chegada ao governo federal sem a montagem de uma equipe que sinalize para mudanças, inclusive na política econômica.
A presidente tem discutido as mudanças e a expectativa é anunciá-las até o fim da próxima semana. Lula deve tomar posse no cargo na próxima terça-feira (22).
LAVA JATO
Uma guinada na condução política do país justificaria sua presença na Esplanada dos Ministérios e afastaria a tese de que só pretenda escapar da prisão. Como ministro, Lula terá foro privilegiado e sua prisão teria que ser autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A decretação de prisões cautelares é mais fácil na primeira instância.
É provável que os filhos do ex-presidente, que também são alvos do Ministério Público Federal, continuem com suas investigações a cargo da Justiça de primeira instância, a exemplo do que ficou decidido nesta terça sobre os casos da mulher e filha do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Réu na Lava Jato, Cunha tem foro privilegiado e é julgado no STF. As apurações sobre contas no exterior ligadas a jornalista Claudia Cruz e a Danielle Dytz da Cunha, mulher e filha do deputado, serão enviadas ao juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato no Paraná.
ALIADOS
Integrantes de partidos aliados ao governo ainda não têm uma avaliação uniforme sobre a ida de Lula para a Esplanada dos Ministérios.
Um deles afirmou que “agora começa o terceiro mandato de Lula”, em referência à possível divisão de poder entre Dilma e o ex-presidente.
Outro afirmou ver poucas chances de que a nomeação consiga barrar o impeachment de Dilma: “Ele vem para organizar o último baile da Ilha Fiscal”, ironizou, lembrando a solenidade símbolo da queda da monarquia no Brasil.
A oposição já afirmou que irá ingressar na Justiça para tentar derrubar a nomeação do ex-presidente. Segundo o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), a nomeação é um tapa na cara da sociedade. Eles irão argumentar na Justiça que a nomeação não passa de uma tentativa de burlar investigações da Lava Jato.
Fonte: Folha de São Paulo