Jucá pede licença do cargo após divulgação de gravações
O ministro do Planejamento, Romero Jucá, anunciou na tarde desta segunda-feira que pedirá ainda hoje licença do cargo de ministro. O ministro disse que ficará afastado do cargo até o Ministério Público Federal se pronunciar sobre os áudios e destacou que, se for inocentado, voltará ao posto. Jucá afirmou que indicará temporariamente para o cargo o secretário-executivo do próprio Planejamento, Dyogo Oliveira.
A justificativa para se licenciar do cargo é de que aguardará uma manifestação do Ministério Público Federal sobre a investigação que corre contra ele no âmbito da Operação Lava-Jato.
— Eu sou o presidente do PMDB e um dos consultores desse governo. Não farei nada que possa prejudicar. Vou sair de licença amanhã. Enquanto o Ministério Público não se manifestar, dizer que não houve crime, eu aguardo fora do ministério — disse Jucá.
Pesou na saída de Jucá do Ministério do Planejamento a avaliação de sua permanência no cargo prejudicaria muito o governo Temer nesta arrancada. A decisão foi tomada em uma reunião no Planalto entre Temer, Jucá, Geddel e Padilha minutos antes de se encontrarem com Renan Calheiros.
Os dois primeiros nomes cogitados para assumir imediatamente o posto de Jucá – o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-ministro Moreira Franco, responsável pelas privatizações estudadas por Temer – sinalizaram para Temer não ter interesse em assumir o cargo, alegando não ter perfil para o posto que exige ampla capacidade de negociação com o Congresso.
Nos áudios gravados, Jucá diz a Machado que devem “estancar a sangria” causada pelas investigações do juiz Sérgio Moro e comenta que as próximas delações não deixariam “pedra sobre pedra”. Ele ataca ainda o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, e do PSDB, Aécio Neves. Na gravação divulgada pela Folha, Jucá diz que a ficha do PSDB teria caído e que Aécio seria “o primeiro a ser comido”. Eles sugeriram que a eleição que alçou o tucano à presidência da Câmara dos Deputados, em 2001, teve ilegalidades.
Pela manhã, em entrevista coletiva, o ministro reforçou que defende a Operação Lava-Jato e disse que a gravação foi divulgada fora de contexto e com “frases soltas”. Ele ainda explicou que, ao falar que é preciso “estancar a sangria”, ele se referia à paralisia da economia. No entanto, o jornal ‘Folha de S. Paulo’ divulgou o trecho da gravação em que deixa claro que Jucá não falava de economia.
Em um dos áudios, Machado comenta a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar prisões após decisão em segunda instância. A mudança de entendimento do STF ocorreu em 17 de fevereiro. Na conversa, Machado teme que aumente o número de delações: “vai todo mundo delatar”. Na sequência, o ex-presidente da Transpetro diz que é preciso “montar uma estrutura para evitar que eu desce”, para evitar que seu caso fosse encaminhado para a Justiça Federal de Curitiba, onde atua o juiz Sérgio Moro. Machado expõe preocupação com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot: “ele está visando o Renan e vocês. E acha que eu sou o canal”. Na sequência, Jucá responde:
“Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [trecho inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria.”
Ao anunciar a licença, o pepemedebista voltou a chamar de “manipulação das informações” as matérias decorrentes do áudio em que aparece conversando sobre as investigações com Sérgio Machado.
— Vou ajudar a aprovar a meta no Senado. Não quero que paire nenhuma dúvida sobre minha conduta. O presidente me deu um voto de confiança, mas eu preferi sair. O presidente entendeu minha posição, viu minhas entrevistas, tenho defendido que se delimite a culpa a quem tem culpa — afirmou Jucá.
Ele disse ter convicção de que não fez nada de errado. Enquanto Jucá concedeu a entrevista, foi chamado de golpista por deputados e senadores.
Ao deixar a entrevista, cercado por deputados e senadores da oposição, Jucá discutiu com a deputada petista Moema Gramacho (BA). Ao ser chamado de “golpista” pela parlamentar, respondeu: “vou botar vocês todos na cadeia”. Gramacho replicou: “quem vai para a cadeia é você”.
Fonte: O Globo