Ivan Sadeck: “Políticos estão dando espetáculo de desmoralização”
Nesta semana, o entrevistado do Jornal O Impacto é o professor Ivan Sadeck, figura marcante da sociedade santarena, que não tem medo de falar o que pensa. Foi vereador, e por vários anos exerceu o cargo de diretor da Escola Álvaro Adolfo. Fala com orgulho do papel de educador, e lembra com satisfação da época que exerceu o mandato de Vereador. “Talvez fomos o único grupo de vereadores de Santarém, que teve a coragem e a decência de reprovar a prestação de contas de um Prefeito”, conta com mais detalhes: “Para falar da importância de termos um grupo de vereadores comprometidos com a população, cito o exemplo da legislatura que participei, talvez a única a reprovar as contas de um Prefeito, que tinha sido aprovada pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), e essa reprovação inviabilizou a sua candidatura à reeleição. Foi um papel não do Ivan Sadeck, mas dos vereadores e vereadoras que estavam comprometidos com a decência do Poder Legislativo. Eu gostaria de ver, não somente em Santarém, mas em outros municípios, contas de prefeitos e prefeitas sendo rejeitadas pela Câmara Municipal, diante de tantos desmandos que existem. Será que é possível?”, questiona.
Para ele, a corrupção é “uma chaga aberta na sociedade, que demonstra não querer ter cura, a maior de todas as imoralidades de uma sociedade. Nenhuma sociedade consegue ser decente e digna com prática de corrupção”. Acompanhe a entrevista exclusiva:
Jornal O Impacto: Qual sua visão sobre esse momento que o Brasil está enfrentando de crise política entre os poderes constituídos?
Ivan Sadeck: Preocupante! Além de preocupante, triste e até de certa maneira vergonhosa pelo que se assiste diariamente. Aquelas pessoas ditas representantes do povo dão um espetáculo de sem-vergonhice, de desrespeito à Legislação, de desmoralização e de agressão à sociedade brasileira. Se hoje você fosse fazer uma pesquisa, talvez não desse nem 5% de credibilidade e confiabilidade à classe política, tamanho o descrédito, a descrença com essa classe por conta das suas atitudes, dos seus atos, dos seus comportamentos, da maneira mais esdrúxula, mais acintosa que eles agem. Essas senhoras e esses senhores que estão aí investidos desse poder concedido pelo povo brasileiro; não são todas e nem todos, mas é a maioria. Eles discutem, aprovam, votam as leis e no fim eles mesmos desrespeitam, eles mesmos tentam passar por cima da lei. Eles não cumprem a lei, embora jurem o cumprimento da mesma, isso para mim é o maior desrespeito; mostra o quanto são cínicos, o quanto não estão preparados para a função. O que eu vejo na classe política é simplesmente o interesse de se dar bem, de ganhar, de faturar; muitas vezes legislando em causa própria. Para mim isso é deplorável, vergonhoso e imoral!
Jornal O Impacto: Como o senhor está acompanhando a situação de precarização da educação?
Ivan Sadeck: Eu vejo com certa preocupação. Até porque acho que educação não é o que temos hoje, a educação é o caminho que pode construir um povo livre, soberano, decente e honrado. A educação é o caminho que pode levar a criança, o jovem, o adolescente a assumir compromissos, responsabilidades. A educação prepara o cidadão, a mulher, o homem, para o exercício da cidadania; para um papel importante de construir uma sociedade justa, humana e fraterna. Eu veja na educação, o instrumento de libertação de qualquer público, qualquer País. Eu só lamento que a cada dia vamos percebendo nas estatísticas que o Brasil ao invés de crescer, está decrescendo. Recentemente a Câmara fez uma pesquisa que apontou a queda do Brasil em quatro posições no ranking da educação mundial, o que demonstra como estamos. Não podemos fazer uma educação como esta aí, do “me engana que eu gosto”; educação tem de ser séria, com respeito. Tem de haver compromisso do Estado, que só tem discurso, pois a Lei no papel ele não respeita, tem de haver uma sociedade que deveria zelar e uma família que tem uma responsabilidade fundamental junto com a escola que é o instrumento por onde passa todo esse processo. Então, temos o educando e o educador, e é preciso haver uma sintonia. Muito dizem que no Brasil houve muitos investimentos, mas esses recursos geraram quais resultados? Esses recursos produziram que qualidade de ensino? Por isso é preciso ser feita uma profunda discussão. No meu ponto de vista é necessário que haja uma verdadeira revolução na educação nacional, e não será apenas através de um decreto, ou de cima para baixo como querem fazer com essa PEC (55), que nós vamos mudar.
Jornal O Impacto: No seu modo de ver, quais os motivos da violência que assola Santarém?
Ivan Sadeck: A violência é fruto do sistema político, econômico e social que nós estamos vivendo. Você não pode atacar a violência da maneira de como está sendo feito, é necessário trabalhar essas questões sociais, políticas e econômicas. Ela (violência) é fruto desse estado de coisa que a sociedade brasileira diariamente está enfrentando e não vai ser no papel da Polícia, que muitas vezes exerce um papel eficiente para contê-la, que nós vamos resolvê-la. Não há uma política de segurança pública para esse País, não se discute caminhos alternativos de como combater a violência, pois tem a violência interna, mas também tem a externa que é a mídia, que trabalha de forma sorrateira também produzindo os tentáculos da violência, basta que você veja os programas que muitas vezes ela apresenta, ela é incitadora da violência. A violência é fruto da injustiça!
Jornal O Impacto: Qual a sua avaliação da atual gestão municipal que está se encerrando e quais as expectativas para o futuro governo?
Ivan Sadeck: Eu exerci o papel de legislador como Vereador na Câmara Municipal de Santarém e aquele foi um período que se trabalhou muito bem essa questão do papel do Poder Legislativo no município de Santarém. O grande problema que eu vejo na política santarena é a falta de compromisso para com tudo aquilo que se fala no período pré-eleitoral. A gente nunca usa de sinceridade, de lealdade, como nosso povo. Mas como a gente quer ser eleito, ou eleita, como a gente quer ter o voto, quer se eleger, a gente utiliza de toda essa manobra. Tudo para chegar ao poder. Eleito ou eleita, acabamos esquecendo daquilo que havíamos dito. Isso tanto faz no Executivo, quanto no Legislativo, não é diferente. Aí as promessas vão pelo ralo. As propostas vão embora. A cidade de Santarém vivencia um momento assim como a nível nacional, de muita dificuldade econômica, financeira, política e também social. E não vai ou não será fácil de resolver. Não estou aqui dizendo que não tem solução, mas é difícil. Nós temos o problema do cumprimento da lei. A legislação que se tem, a utilização de políticas públicas que de fato atendam a população. E tanto quem ocupa a cadeira do Executivo, quanto as cadeiras do Legislativo, precisa conhecer a realidade do Município. Precisa estudar e conhecer as necessidades que o Município têm. Não adianta fazer planos e projetos tão bonitos, tão cheios de propostas, se você não vai executar. O projeto não é exequível. E esse é um problema sério que a política santarena vivencia. O que é mais triste, é que muitas vezes existe uma maculação, entre um poder e outro. Os poderes são autônomos e independentes, o dia que nós tivermos um Poder Legislativo sério, correto, coerente, exercendo seu papel, fiscalizando as ações do Executivo, o Prefeito ou a Prefeita vai ter que trabalhar melhor. Porque vai saber que tem um Legislativo com poder de fiscalizar. A primeira coisa que cada Prefeito ao assumir o Executivo faz, é compor a base aliada, quer ter maioria na Câmara. Para que ele possa manobrar, possa fazer o jogo que lhe convém. Desta forma, não é possível esperar fiscalização por parte desses vereadores. Nisso aí começa o erro, porque sabe que algumas coisas eles irão fazer, que não estão de conformidade com a lei, e vai haver o guarda-chuva e a proteção do Poder Legislativo, como tem nas Assembleias. Agora mesmo o Governador Jatene conseguiu reeleger o Deputado Márcio Miranda como presidente da Assembleia Legislativa. Esse senhor já tem vários mandados como presidente. O Renan Calheiros está há quantos anos na presidência do Senado? E assim vai. Então, essa política dos acordos, dos conchavos, é imoral, é indecente, é isso que leva este estado de coisas. Porque, quando um esteio da casa cai, vai embora toda a casa. Você não precisa fazer conchavo ou acordo. Você precisa se respeitar, primeiro quanto pessoa, quanto cidadão, e como investido naquele ou neste poder. E com relação de forças vai se dar, na medida que você usa do cumprimento e do respeito à lei, uma vez que ela norteia toda a gestão, toda e qualquer administração pública. Se existe a lei para dar ordem, tem que se trabalha dentro disso, de respeitar e cumprir, e não burlar essa lei. Não tentar trapacear, não fazer acordos para tentar se favorecer. O problema todo como, eu disse, é que na política se chega com a finalidade de se dar bem, de ganhar dinheiro. Aí o cara tem não sei quantas fazendas, não sei quantas lanchas e carros, mansões. Sendo que ele não tinha nada disso antes de entrar para a política. É preciso que haja uma fiscalização para valer. Me parece que chegamos no ponto da esperança, estou com a sensação de que algo novo está acontecendo, que está havendo uma fiscalização rigorosa, do chamado Poder Judiciário. Aqui em Santarém, quantas vezes nós vimos ação do Ministério Público, da própria Justiça diante de certos casos, então, é preciso que a gente comece de baixo para cima. Eu vejo que isso tudo, pode começar a mudar, na medida que nós temos uma população mais consciente, com mais clareza, com mais entendimento e compromisso com o voto, e não fazer do seu voto, uma mercadoria, que acaba tendo como resultado tudo que está acontecendo atualmente. Esse é o quadro deplorável e vergonhoso que estamos presenciando diariamente nas manchetes. Desta forma, é que o povo tem na sua mão o grande poder de mudar, para assim avançarmos, e melhorar a nossa democracia. Assista a entrevista completa na TV Impacto acessando: www.oimpacto.com.br.
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto