Obra no Santos Dumont teve propina de R$ 11 milhões, diz delator
Segundo ex-diretor da Odebrecht, dinheiro foi para PT, PTB e ex-presidente da Infraero.
O esquema de propinas da Odebrecht funcionou também em modernização e reformas de aeroportos, e por uma obra no pátio do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, foram pagos pelo menos R$ 11 milhões.
O ex-diretor de contratos da Odebrecht, Carlos Vieira, contou sobre a reforma no Santos Dumont, cujo contrato começou em 2003, com obras até 2007. De acordo com o executivo, os pagamentos se destinaram ao então presidente da Infraero, Carlos Wilson, ao PT e ao PTB, que tinha direito a indicar diretores na estatal.
— Quando nós estávamos para começar a obra eu fui informado pelo meu líder que aquela combinação de 3% de contrapartida do faturamento deveria ser paga e controlada em três ramificações: os 3% seriam três parcelas de 1%, aonde a primeira parcela era para ser endereçada ao presidente da Infraero, doutor Carlos Wilson; o outro 1% era para ser pago ao PT e o outro 1% ao PTB — relatou Vieira.
Segundo o delator, Carlos Wilson, que morreu em 2009, continuou recebendo propina mesmo após deixar a presidência da Infraero em 2006. PT e PTB comandavam a Infraero; 1% equivalia a R$ 3,7 milhões.
Vieira contou que o arrecadador do PT era o então tesoureiro Delúbio Soares, condenado no mensalão e na Lava-Jato.
— O codinome era “Guerrilheiro”. Agora, por conta de toda essa movimentação, eu vim a saber que era o Delúbio Soares. Mas, na época eu não sabia.
A defesa de Delúbio Soares declarou que ele nunca recebeu nem determinou que alguém recebesse qualquer quantia sem que houvesse a devida declaração eleitoral.
A cota do PTB era administrada pela diretoria de Engenharia da Infraero. O delator citou três nomes: o da então diretora Eleuza Terezinha Lores; o de Rommel Clímaco, representante da diretora; e Lilico Fleury:
— Lilico Fleury vinha a ser irmão do Luiz Antonio Fleury, ex-governador de São Paulo, a quem eu nunca conheci. Mas tive alguns contatos com o senhor Lilico e ele também recebeu uma participação dessa cota.
A propina era paga na obra ou no saguão do Santos Dumont e, pelo menos uma vez, o recebimento surpreendeu o delator. Carlos Vieira não identificou o intermediário do PTB, mas disse que ele chegou, pegou o dinheiro e botou embaixo da calça.
— A pessoa abaixou a calça, aí estava como uma… como se fosse uma ceroula. E aí pegou o dinheiro, botou tudo dentro da meia. Eu digo: o que é isso? Aí ele disse que estava acostumado a fazer assim. Dali, pegava o avião e ia embora.
Outro delator, Benedito Júnior, contou que na gestão de Carlos Wilson foi organizado um cartel de empreiteiras para reformar aeroportos e evitar disputas, e a Odebrecht também pagou propina para participar das obras do aeroporto de Goiânia.
O delator João Antônio Pacífico Ferreira disse que o então presidente da Infraero pediu 3% de um contrato de quase R$ 258 milhões para os partidos.
— Eu fui chamado lá pelo Carlos Wilson, lá mesmo na Infraero 3, e o mesmo me disse que precisava ter uma contribuição, 3% do valor do contrato, com os pagamentos feitos à medida que fossem realizados os recebimentos. E dizia o seguinte: que esses recursos eram para as campanhas. No caso específico era o PT e o PTB.
O PT não quis se manifestar, e o PTB informou que o ex-presidente da Infraero Carlos Wilson não representava o partido e que chegou a pedir a desfiliação dele por causa da administração na estatal.
A Infraero afirmou que não foi notificada a respeito da investigação sobre o Aeroporto Santos Dumont, e que dos citados, apenas Eleuza Terezinha Lores continua na Infraero; e que ela está respondendo a processo administrativo.
Os demais citados pelo executivo da Odebrecht não foram localizados.
Fonte: O Globo