Dica Frazão, ícone da cultura santarena, morre aos 96 anos
Familiares e amigos da artesã confirmaram o seu falecimento ocorrido no início da tarde desta sexta-feira (19). Ela estava internada desde o último dia 7 de maio, no hospital da Unimed, quando foi diagnosticada com Pneumonia.
Segundo informações de Pedro Olaia, o corpo de Dica Frazão será velado na catedral de Nossa Senhora da Conceição e o sepultamento previsto para sábado (20), pelo período da tarde, no cemitério de Nossa Senhora dos Mártires.
Ícone da cultura: Dedicação e determinação sempre foram as palavras-chave na vida da estilista e artesã santarena. Não a toa, seu trabalho conquistou o planeta. Criativa, fez de materiais típicos da Amazônia, verdadeiras obras de artes, que ganhou um espaço adequado.
Idealizadora e responsável pela manutenção do Museu de Arte Dica Frazão, que funciona em sua casa, em Santarém (PA), Dona Raimunda Rodrigues Frazão mantém o museu doméstico desde 1999. O local é também o ateliê onde a artesã utiliza-se de matérias-primas extraídas da flora amazônica para confeccionar roupas e acessórios: entrecascas de árvore, fibras extraídas de capim, palha de buriti, sementes, raízes de patchouli e outros materiais.
Dona Dica lembra que já presenteou a rainha da Bélgica, o Papa João Paulo II e outros chefes de estado com criações suas: “Pego a natureza e transformo em roupa, faço fibra virar pano. E minhas criações já ganharam o mundo!”, comenta.
O museu é uma das referências para turistas nacionais e estrangeiros que visitam a região, e Dona Dica se queixa da falta de recepcionista bilíngue para auxiliá-la no atendimento aos turistas que não falam português. Ela diz ainda que necessita de mais vitrines para a exposição de cerca de 20 peças que estão guardadas dentro de caixas. A artesã mantém o museu com o dinheiro da sua pensão.
Memória e reconhecimento
Segundo a paraense Sylvia Braga, arquiteta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que conheceu, ainda na infância, o trabalho de Dona Dica por meio dos leques que sua mãe usava, a estilista, artesã e bordadeira precisa ter seu valor reconhecido, especialmente pelo esforço pessoal em preservar a memória do trabalho feito à mão na região oeste do Pará.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Angelo Oswaldo, Dona Dica é “exemplo de mulher guerreira, a qual devemos generosas lições de vida e uma criação artesanal de notável qualidade, internacionalmente reconhecida”.
Ele ressalta ainda que a valorização e a proteção desse acervo, por meio de programas públicos de fomento à cultura e ao turismo, podem em muito beneficiar Dona Dica e o próprio município de Santarém. Na cidade, existem ainda outros três museus mapeados pelo Cadastro Nacional de Museus. (Foto Revista Via Amazônica)
RG 15 / O Impacto com informações de museus.org
Acompanhe o documentário produzido por Humberto Souza em parceria com Thiago Guimarães (Unique Produtora).
Dona Dica sempre tera um lugar muito especial no meu coracao! Os meus sentimentos a familia Frazao.
Santarém perde um pouco de sua referência com o seu falecimento. Boa vizinha, adorava conversar longamente conosco. Sempre que vinha uma pessoa de fora eu a levava para conhecer o Museu e sua arte, e ela explanada todo seu trabalho com muita desenvoltura. Gostava muito de Santarém e de seu povo. Era uma mestra, uma artesã com A maiúsculo. Vá em paz , a senhora é mais uma estrela da arte a brilhar no céu.
Tem lugar cativo em meu coração. Mesmo crescido e casado, todas as vezes que estava em Santarém visitando familiares e amigos, uma visita à minha madrinha era especial. E ela sempre pedia para eu sentar em seu colo. Quando criança, passava alguns finais de semana em sua casa. Hoje, em minha residência, sua obra (quadro) paisagem “Rio Amazonas” é destaque na área de estar. Adquiri esta relíquia em 2012/2013, onde, em sua moldura, estão fixadas 101 moedas de 1000 réis. E tenho fotos onde minha madrinha e Pedro Olaia estão segurando o quadro, quando da entrega para mim. Dica Frazão leva consigo um legado ímpar da cultura regional. Não esqueço quando ela me disse que um determinado Secretário da Cultura assim falou para ela: “artista é assim mesmo. Morre um e aparece outro”. Quanta falta de sensibilidade! O dia em que eu tiver a certeza que o museu que leva seu nome estiver deveras à altura de seu legado, e administrativamente bem cuidado, e com a garantia que ninguém tirará proveito da obra, pretendo doá-lo ao museu. Todavia, somente o tempo poderá fazer com que eu perceba esta mudança radical para com o patrimônio cultural de nossa cidade, de nosso estado e de nossa região.