Temer governa o país com presidiário de Curitiba, diz Renan em plenário
Líder do PMDB, o senador Renan Calheiros (AL) fez firmes críticas em plenário às reformas estruturais do governo e à própria gestão do presidente Michel Temer, formalmente denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva nesta segunda-feira (26). Repetindo o que já havia dito várias vezes fora do palco principal das decisões do Senado, Renan afirma que o governo não tem qualquer legitimidade para comandar o país e fez menção à ligação entre Temer e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso e condenado há 15 anos e quatro meses de reclusão na Operação Lava Jato.
“O erro do presidente Temer foi pensar que poderia governar o Brasil influenciado por um presidiário de Curitiba”, disse Renan, rodeado de senadores oposicionistas, a maioria do PT, e sem precisar citar o nome de Cunha para deixar claro a quem se referia.
A fala de Renan foi uma réplica à defesa do governo feita pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) – que por sua vez respondia aos ataques do próprio senador alagoano, em sua primeira intervenção contra Temer, à reforma trabalhista em tramitação no Senado.
Ao reclamar do governo em nome da parcela minoritária do PMDB, Renan apelava ao presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE), para que uma providência em relação à matéria fosse tomada pelo comando do Congresso, face à situação de grave crise enfrentada por Temer.
Para Renan, ou Eunício faria algo a respeito da situação ou o Senado teria de aguentar “essa gente fingindo que está governando o Brasil”. No auge de sua revolta em plenário, o senador chegou a ameaçar, valendo-se do cargo do líder do PMDB, promover a troca de membros do partido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde a reforma trabalhista será votada amanhã (quarta, 28).
A ameaça de Renan foi rebatida na mesma moeda por Jucá, que citou a reunião da bancada do PMDB que poderia ter destituído o senador alagoano da liderança do partido no Senado, mas o manteve no posto com poderes limitados. “Estranho essa posição de ele dizer que vai mudar os membros [CCJ], porque nós fizemos uma reunião de bancada e, por 17 a 5, definimos que apoiaríamos a reforma e que as coisas ficariam como estão. Se vossa excelência muda de posição, isso nos dá a condição de mudar também [o comando partidário], porque nós fizemos um pacto, demos a palavra. E a minha palavra vale! Quando eu dou, eu cumpro. Pode chover canivete”, declarou Jucá.
Depois da troca de acusações entre Renan e Jucá, uma série de discursos sobre a crise foram feitos em plenário, com críticas e manifestações de apoio à reforma trabalhista de Temer. Mais para o final da sessão plenária, o líder do PMDB ainda chegou a fazer referência, novamente sem citar nome, ao ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves, peemedebista primo do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) que está preso desde 6 de junho. A fala sobre o ex-deputado foi uma reação de Renan à intervenção de Garibaldi acusando-o de descumprimento do que ficou combinado na bancada.
“Eu queria dizer – e vossa excelência sabe melhor do que ninguém – que liderança se conquista; daí a trajetória política de vossa excelência. Mas liderança não se impõe, liderança não ameaça”, discursou Garibaldi, referindo-se à cogitação de troca de membros na CCJ. Renan retomou a palavra e fustigou: “Nós estamos, infelizmente, injusta ou justamente, com a prisão do ex-presidente da outra Casa do Congresso Nacional, sob a acusação de integrar uma quadrilha, uma quadrilha”!
“Senador Renan Calheiros, eu peço respeito. Vossa excelência não pode se referir ao ex-ministro [do Turismo] Henrique Eduardo Alves dessa maneira!”, protestou Garibaldi, que em seguida veria Eunício Oliveira encerrar a sessão plenária diante do bate-boca generalizado.
Essa foi mais uma das diversas críticas a Temer feitas em público por Renan, que chegou a ser ameaçado de destituição da liderança do PMDB devido à sua atuação de oposição à gestão peemedebista. A postura do senador alagoano nos últimos meses divide o PMDB no Senado e representa ameaça aos interesses do Palácio do Planalto, que já perdeu para a minoria oposicionista em uma das votações da reforma trabalhista. Nomes como Kátia Abreu (PMDB-TO), Roberto Requião (PMDB-PR) e Eduardo Braga (PMDB-AM), alinhados à conduta de Renan, são contraponto ao grupo majoritário encabeçado por Jucá no Senado.
Fonte: Congresso em foco