Tragédia no Rio Xingu deixa vários mortos e desaparecidos
Embarcação naufragou entre os municípios de Porto de Moz e Senador José Porfírio. Foram encontrados 19 corpos, vítimas da tragédia.
Mais uma tragédia aconteceu nos rios da Amazônia, culminando com várias pessoas mortas e dezenas de desaparecidos.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) informou que segundo apurações prévias da Defesa Civil de Belém, na noite de terça-feira, 22, a embarcação “Capitão Ribeiro” naufragou em uma área denominada de Ponte Grande do Xingu, localizada entre Senador José Porfírio e Porto de Moz, na região do Xingu, no sudoeste do Pará.
Informações indicam que no momento do naufrágio havia cerca de 70 pessoas na embarcação. Na manhã de quarta-feira, (23), 15 pessoas já haviam sido encontradas com vida e 10 mortos. Trabalham no resgate do naufrágio as Defesas Civis Municipais de Belém, Senador José Porfirio e Vitória do Xingu. Até o fechamento desta edição, o número de pessoas encontradas vivas subiu para 23 e o número de mortos aumentou para 19.
A embarcação “Capitão Ribeiro” saiu do porto da Praça Tiradentes, em Santarém, na segunda-feira, dia 21, com escala nos municípios de Monte Alegre e Prainha e destino final em Vitória do Xingu. Antes, porém, fez uma escala no município de Porto de Moz, onde embarcaram cerca de 40 pessoas e por volta das 18 horas de terça-feira (22) saiu do porto, mas infelizmente aconteceu a tragédia antes de chegar ao seu destino final. A Polícia Civil está investigando as causas do naufrágio. A Segup instalou uma sala de situação.
SEGUP ESTÁ NO LOCAL: O Sistema de Segurança Pública e o Centro de Comando de operações estão no local com equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Militar e do Grupamento Fluvial de Segurança Pública (Gflu). Decolaram de Belém com destino a Porto de Moz, duas aeronaves do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp) levando reforço do efetivo da Defesa Civil, do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, Grupamento Fluvial e da Diretoria de Telecomunicações da Segup.
Foi montada uma sala de situação na Câmara de Vereadores de Porto de Moz e uma estrutura para atendimento das vítimas, no Ginásio Chico Cruz, localizado no mesmo Município. Duas lanchas do Gflu foram deslocadas ao local, uma de Almerim e outra de Vitória do Xingu.
CPC LIBERA CORPOS DAS VÍTIMAS: Por volta das 21h30 de quarta-feira (23), a equipe do Centro de Perícias Científicas “Renato Chaves” liberou os corpos de nove vítimas do naufrágio da embarcação “Capitão Ribeiro”. Após o trabalho de necropsia, os corpos foram liberados aos familiares.
Já são 23 o número de sobreviventes confirmados pela Defesa Civil Estadual, que coordena ações de buscas, salvamento e atendimento social na sede da Câmara Municipal, onde foi instalado um gabinete de crise com a presença das forças de segurança estaduais, Poder Executivo Municipal e demais órgãos envolvidos na operação de resgate às vítimas do naufrágio da embarcação, que saiu de Santarém e tinha destino final o município de Vitória do Xingu.
A identificação dos mortos está sendo realizada no ginásio municipal Chico Cruz. Uma equipe de oito profissionais entre peritos, médico legista e auxiliares, do Centro de Perícias de Belém e de Altamira, atua no trabalho. Com o apoio da Prefeitura Municipal de Porto de Moz, foi montado um atendimento padrão para “desastres em massa”.
VÍTIMAS IDENTIFICADAS: Os mortos identificados são de Luciana Pires, de 28 anos; Neiva Romano, 18 anos, Maria Duarte, 57 anos, Aurilene Sampaio, 36 anos, Lucivalda Marques Oliveira, 41 anos, Roseane dos Santos Leite, 25 anos, W.L.O (5 anos) – todas naturais de Porto de Moz; além de Orismar Miranda, 61 anos e S.H.S.S (1 ano), provenientes da cidade de Altamira. O CPC liberou os corpos com a expedição da declaração de óbito para todos os familiares. Apenas o corpo de um homem, conhecido como Sebastião, a décima vítima, ainda aguarda o reconhecimento dos parentes. Ele seria da cidade de Santarém. Na tarde de quinta-feira, mais 9 corpos foram encontrados, subindo para 19 o número de vítimas fatais.
“Fizemos entrevistas com os familiares, a fim de identificar características das vítimas para ajudar no reconhecimento. Contudo, a liberação está sendo agilizada”, disse o perito Felipe Sá, coordenador das unidades regionais do Centro de Perícias.
BUSCAS: O CBM mantive as buscas às vítimas até o final da tarde de quarta-feira e foram retomadas a partir das 6 horas de quinta-feira, 24,. Uma balsa e embarcações da Prefeitura de Porto Moz, além de lanchas do Corpo de Bombeiros são utilizadas na operação. Um helicóptero do Graesp apoia as ações na área de buscas.
De acordo com o Corpo de Bombeiros – Defesa Civil, a embarcação, com capacidade para 90 a 100 passageiros, já foi ancorada à margem do rio com o apoio de uma balsa da Prefeitura, o que deve facilitar ações dos mergulhadores.
INVESTIGAÇÃO E TROMBA D’ÁGUA: A Polícia Civil já ouviu integrantes da tripulação e sobreviventes. O dono da embarcação será ouvido nesta sexta-feira (25) pela manhã. O proprietário da embarcação informou que 48 pessoas, entre tripulação e passageiros, estavam a bordo. De acordo com o delegado de Porto de Moz, Élcio de Deus, muitos sobreviventes afirmaram que a embarcação teria sido atingida por uma tromba d’água – fenômeno similar a um tornado.
“A tripulação disse ter visto, no horizonte, algo com o formato de uma funil, acompanhado de muita chuva e vento forte, e que teria pego o barco pela popa e o afundado. Disseram que a embarcação girou e afundou em seguida”, relatou o delegado.
A Polícia Civil irá solicitar informações à Agência de Regulação e Controle dos Serviços Públicos do Estado do Pará (Arcon) e à Capitania dos Portos sobre a autorização concedida ao dono da embarcação Capitão Ribeiro.
Técnicas da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster) já acompanham os familiares e realizam o atendimento psicossocial. “Cada órgão, seja estadual ou municipal, está tendo a atuação no atendimento ao desastre, contudo, o Estado oferece apoio à Prefeitura e aos moradores de Porto de Moz, utilizando a experiência de atuação em situações similares”, explicou a secretária Ana Cunha.
ARCON DIZ QUE EMBARCAÇÃO ESTAVA IRREGULAR: Em nota divulgada, a Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos (Arcon-PA), informou que a embarcação “Capitão Ribeiro” não estava legalizada para fazer o transporte de passageiros. Segundo informações da Arcon, a embarcação – pertencente à empresa Almeida e Ribeiro Navegação Ltda. – “não estava legalizada para fazer o transporte de passageiros, por não se encontrar registrada na Arcon-PA, portanto, a embarcação estava realizando o transporte clandestino de usuários”.
Ainda de acordo com o comunicado da Agência, a empresa foi notificada pelos fiscais da Arcon durante uma operação realizada no dia 05 de junho de 2017, “mas até o momento nenhum representante da empresa compareceu a essa Agência para se regularizar”, declara a Arcon.
“A diretoria de Arcon-PA aproveita o momento para reforçar o alerta aos usuários do transporte hidroviário no Estado do Pará que não utilizem dos serviços de transporte clandestino”, finaliza o texto encaminhado pela Agência.
OUTRA TRAGÉDIA: No dia 02 de agosto deste ano, outro trágico acidente já havia acontecido em nossa região. A colisão de um navio cargueiro que tinha como destino a cidade de Manaus, e um comboio de nove balsas da empresa Bertolini, que transportava grãos de milho, e iria aportar em Santarém, deixou nove pessoas desaparecidas nas águas do Rio Amazonas, no município de Óbidos – Pará. Assim que a Capitania dos Portos em Santarém recebeu a informação do acidente, encaminhou uma equipe para o local, que também foi integrada por mergulhadores do Corpo de Bombeiros.
Ao todo 11 pessoas estavam no rebocador que foi a pique, duas foram resgatadas com vida, e foram trazidas para Santarém. Outras nove pessoas continuam desaparecidas. O local onde ocorreu o acidente é de extrema profundidade, e de correnteza bastante forte. Fato que tem dificultado as buscas. Na hora do acidente, a maioria da tripulação do empurrador dormia nos camarotes.
Os nomes dos desaparecidos são Cleber Rodrigues Azevedo; Dárcio Vânio Rego; Dick Farney de Oliveira; Ivan Furtado da Gama; Juraci dos Santos Brito; Carlos Eduardo Bueno de Souza; e Wandel Ferreira de Lima. Foram resgatados com vida César Lemos da Silva e Euclinger da Silva Costa, que já estão em Santarém juntos com seus familiares.
Vinte e um dias após o acidente entre o rebocador da empresa Bertolini e o navio Mercosul Santos, no Rio Amazonas, foi realizada na manhã de quarta-feira (23) uma reunião na sala de situação do Corpo de Bombeiros, em Santarém, para tratar sobre a operação de resgate da embarcação. Na reunião anterior ficou combinado que até setembro seria apresentado à Marinha, o plano para a retirada do rebocador do fundo do rio Amazonas. Mas, no encontro de quarta-feira ficou acertado que haverá uma outra reunião na segunda-feira (28), às 9h, na OAB, onde participarão familiares, representantes da Marinha, Defensoria Pública, Ministério Público e órgãos de segurança pública, para apresentação de um cronograma.
O subcomandante da Capitania Fluvial de Santarém, Renato Ferreira, disse que assim que a Marinha receber o plano de resgate dará prioridade para que seja aprovado e efetivado rapidamente. “Numerosos são os que apresentam planos verbalmente, e poucos são os que trazem planos que possam facilitar uma decisão nesse caso de perigo do resgate do rebocador”, disse Renato Ferreira.
Segundo o subcomandante, o inquérito administrativo está aberto e tem prazo de 90 dias para ser apurado. Após o encerramento desse processo é encaminhado ao Tribunal Marítimo responsável. Depois de uma avaliação preliminar da Procuradoria Especial da Marinha, transforma-se em processo e um colegiado com seis juízes vai julgar as causas determinantes do acidente e, se possível, apontar os responsáveis, o que deve acontecer no Rio de Janeiro.
Durante a reunião na sede do Corpo de Bombeiros, familiares das vítimas protestaram contra a demora na retirada do rebocador, encontrado a 63 metros de profundidade no rio Amazonas. Parentes e amigos estão angustiados e cobram agilidade no resgate das vítimas. As nove pessoas seguem desaparecidas.
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto