Governador Jatene provoca caos no Ensino Modular em Santarém
Professora Rainilza Rodrigues diz que Simão Jatene quer inserir na marra novo programa que substituiu o SOME
Professores que atuam no ensino modular em escolas públicas no interior de Santarém denunciam o descaso do governador do Pará, Simão de Oliveira Jatene (PSDB). Segundo eles, vários problemas dificultam as atividades escolares no interior do Município, como: falta de transportes para os estudantes chegar às escolas; falta de transportes e de alojamentos para os professores; falta de material didático; alimentação precária, falta de manutenção nas escolas, entre outros.
Segundo os professores, os problemas se agravaram em fevereiro deste ano, quando a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) divulgou através de edital lançado no Diário Oficial, a listagem com o nome das comunidades onde foi implementado o Sistema Educacional Interativo (SEI), em substituição ao Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME).
No Polo Santarém, que engloba os municípios de Belterra, Aveiro e Mojuí dos Campos, um total de 38 comunidades, das 58 que eram atendidas pelo SOME entraram na relação. A informação foi repassada pela equipe da SEDUC, em reunião do Grupo de Trabalho (GT), ocorrida no dia 24 de fevereiro, deste ano, em Belém.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp), cerca de 5 mil estudantes, no Pólo Santarém, foram prejudicados com a implantação do SEI. O SEI ainda não entrou em funcionamento. Está previsto para começar a funcionar a partir de janeiro de 2018.
O Sintepp explicou que no Some, o estudante participava de aulas presenciais com quatro módulos efetuados em cinquenta dias para o desenvolvimento do conteúdo programático, aplicação de avaliações e recuperação paralela. Já no SEI, o aluno participa de uma modalidade de estudo EAD, onde as aulas são oferecidas à distância por meio de vídeos. Isto significa que o aluno não precisa ir até um polo de apoio presencial para assistir às aulas, mas precisa ir até o polo para realizar suas provas que precisam ser presenciais.
De acordo com a coordenadora de educação no campo do Sintepp Regional, professora Rainilza Rodrigues, o que mais revolta os professores do ensino modular é que “não satisfeito com esse cenário de caos na educação paraense, o atual governo do Pará ainda quer continuar iludindo os alunos do campo, águas, florestas e aldeias indígenas, inserindo na marra o novo programa que substituiu o SOME”.
Ela afirma que a proposta de mudança prejudicou tanto os professores, quanto os estudantes. “Eles tiraram alguns professores e colocaram um único professor que atende entre treze a quinze disciplinas do módulo. Esse é um grande prejuízo porque os estudantes têm aulas por intermédio de máquinas e não mais por intermédio de professores que transmitem valores humanos. Outro prejuízo é proibir que os alunos que não morem em polo não tenham mais acesso ao ensino modular”, assevera a professora Rainilza.
Segundo o Sintepp, algumas comunidades em Santarém, Mojuí dos Campos, Belterra e Aveiro sofreram mudanças radicais com a implantação do SEI. Entre elas, Pedra Branca, Cícero Mendes, São Pedro do Uruari, Pindorama, Poço Branco, Aracuri , Piraquara, Santarém-Miri, São Pedro, São Raimundo da Palestina, São Círiaco, Aracuri, Saracura, Vila Gorete, Cachoeira do Aruã, Ajamuri, Guajará, Aracy, Santana do Ituqui, Aracampina, Arapixuna, Carariacá, Guaraná, Igarapé do Costa, Murumuru e Parauá, em Santarém.
Além de Igarapé do Piranha, Vista Alegre do Moju e Ubinzal, em Mojuí dos Campos. Piquiatuba, Maguari e São Jorge, em Belterra. Andrelândia, Brasília Legal, Fordlândia, Apacê, Cametá e Santa Cruz, em Aveiro.
Para a professora Rainilza, a imposição do SEI para substituir o SOME, foi considerado pela comunidade escolar como ‘um atentado contra a Política de Educação do Pará’, configurada na 1ª Conferência Estadual de Educação, aonde ficou estabelecido que “um projeto educacional emancipador só se efetiva por meio da participação dos sujeitos envolvidos com a comunidade escolar, no que seja na elaboração e construção de projetos escolares, como também nos processos de decisão, de escolhas coletivas e nas vivências de aprendizagens de cidadania”.
Por conta disso, diversas ações de enfrentamento à proposta da CESOME foram realizadas em Santarém. Entre elas, uma ação aconteceu no dia 15 de abril de 2016, quando o SOME completou 36 anos de incorporação ao Sistema Educacional do Pará. Neste dia, a comunidade escolar se mobilizou e participou de uma audiência pública na Câmara Municipal de Santarém, tendo como a pauta a implementação do SEI.
Também como ação de enfrentamento, um abaixo-assinado foi enviado para a Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA), no final do ano de 2016, com o levantamento da vontade das 58 comunidades do Polo Santarém, em relação a implementação do SEI.
Em 2016, o Some comemorou 36 anos de criação no Pará. O programa se consolidou como uma modalidade de ensino médio voltada para alunos de zonas rurais do Estado. Os professores das áreas urbanas se deslocavam para o interior, em geral, localidades de difícil acesso, para dar aulas. A professora Rainilza questionou a mudança. Para a educadora, foi problemático substituir o ensino modular pelo regular de uma hora para outra, já que não existe estrutura de ensino em vários locais do interior. “Na maioria das localidades, não há sequer sala de aula, imagina escola”, diz ela.
Por: Jefferson Miranda
Fonte: RG 15/O Impacto