Odilson Matos – Uma referência da música santarena a nível nacional

Cantor e compositor fala de sua carreira e o momento que a música romântica vive atualmente

Santarém é conhecida como o berço do turismo na Amazônia, mas, também, é famosa por seus artistas, alguns de renomes nacionais e internacionais; artistas plásticos, pintores, poetas, escultores, músicos e compositores, mestres como o maestro Wilson Fonseca, Sebastião Tapajós, Emir Bemerguy, e tantos outros. Existem alguns que respiram amor por Santarém, amor que se reflete através da arte, estamos falando do cantor e compositor Odilson Matos, um verdadeiro ícone quando se trata de música. Tivemos a honra de recebê-lo no estúdio da TV Impacto, aonde nos concedeu a seguinte entrevista:

Jornal O Impacto: Odilson Matos já prestou serviço em diversos setores em Santarém, funcionário do Banco da Amazônia, diretor do Detran, passou pela Ordem dos Músicos, hoje acadêmico das Academia de Letras e Artes de Santarém. Mas falando do lado musical acredito que a maioria dos nossos leitores e telespectadores, conhecem e lhe respeitam muito como um grande intérprete de músicas, principalmente as músicas santarenas, inclusive sendo um dos principais intérpretes das músicas do Maestro Isoca.

Odilson Matos: De fato, eu sou o maior intérprete das músicas do professor Isoca e junto comigo tem o Ray Brito, um cantor de bela voz e merecedor de todas as homenagens. Inclusive foi noticiado pelo jornal O Impacto, que ele foi escolhido como imortal da Academia de Letras e Artes de Santarém, e gravou muitas coisas do professor Isoca, e coisas importantes como o hino da Festa de Nossa Senhora da Conceição. Posso citar também meu querido amigo Edinaldo Mota, fera do rádio, jornalista e advogado, também trabalhou conosco no conjunto Os Hippies, nos empresariando e com certeza somou muito para nós chegarmos ao nível que chegamos. Os Hippies abriu a porta para todos os conjuntos musicais a nível de Belém e Manaus, aonde nós chegamos e daí para frente e nunca mais cessou. O Marreta foi várias vezes em Manaus fazer o Baile dos Santarenos, inclusive o Marreta foi diversas vezes a Belém participar de coisas, que modéstia à parte tenho que dizer, que nós iniciamos, e eu fico feliz de saber que os outros também já estão usufruindo de tudo isso.

Jornal O Impacto: Já que você mencionou, o conjunto “Os Hippies” gravou diversos sucessos, mas o carro-chefe que identifica, inclusive com a sua voz é a música “Poema de Amor”?

Odilson Matos: Tem alguns comentários que a gente às vezes contesta, mas no bom sentido, por exemplo, hoje a música “Poema de Amor” todo mundo canta, graças a Deus e eu faço questão que sempre alguém mais possa aprender e cantar, pois se trata de uma música carismática, simples, mas que você canta com a certeza que está cantando com alma e está transmitindo para as pessoas que estão ouvindo, alguma coisa boa, idependente do ambiente. Então, eu fui muito feliz pelo professor Isoca ter me dado a música para gravar sem quase nenhuma restrição, ele apenas disse para mim: “Odilson, faça o que você quiser, mas eu gostaria que você mantivesse a linha melódica”. De fato, nunca foi mexido na linha melódica; se mexeu na harmonia, acompanhamento, mas a linha melódica é respeitada até hoje. Tem uma gravação que eu queria citar que ficou um pouco distante, mas a moça cantou e está valendo, mas seria uma gravação que na minha opinião, não somou.

Jornal O Impacto: Vamos falar um pouco do conjunto “Os Hippies”. Inclusive, em outra oportunidade, entrevistamos o Marreta, dono da Banda Tapajoara, onde ele fez um registro interessante quando disse que o conjunto dele foi fundado, parece que um dia antes do “Os Hippies”.

Odilson Matos: É verdade. Foi mais ou menos assim, ele fundou o conjunto dele dia 19 de abril e o nosso foi dia 21 de abril, mas nós começamos a reunião antes da meia noite, ou seja, no dia 20 e acabou passaando para o dia 21. Então, o Marreta está certo quando menciona a diferença de um dia, mas na verdade foram dois dias e graças a Deus, mesmo concorrentes na época, nó obtivemos uma amizade, respeito e carinho, como deve ser no meio profissional.

Jornal O Impacto: Os Hippies é um grupo por onde passaram vários talentos, como Ray Brito, que você mencionou. Mas você ainda teria condições de lembrar do começo?

Odilson Matos: Só para fazer uma linha geral, um dia desses eu pensei em reunir os que ainda estão aqui em Santarém, que participaram como membros do conjunto e alguns outros que ajudaram. Nós conferimos 39 pessoas, então, eu digo com certa segurança e não querendo aparecer, que “Os Hippies” foi uma verdadeira academia, porque quase todos, acredito que noventa por cento dos músicos daquela época, passaram pelo conjunto “Os Hippies” de alguma forma, até mesmo às vezes, por necessidade, alguém adoeceu e ao substituir teria de ser alguém do mesmo nível, porque nós tínhamos 16 conjuntos atuantes, e todos os finais de semana, parece incrível, mas esses 16 conjuntos tocavam. Hoje se tem um ou dois, graças a Deus que ainda estão mantendo a situação da alegria músical de Santarém, mas me deixa preocupado porque a condição da música hoje tende a desgastar tudo aquilo que foi feito no passado. Eu gosto de ser muito sincero quando falo, hoje presenciamos a mídia destacando cantores e músicas que certamente têm o seu lugar dentro daquilo que fazem, mas a gente e todos os músicos daquela época esperávamos realmente que o negócio seria crescente e não estagnado ou até decrescente.

Jornal O Impacto: Odilson, durante o tempo que você esteve atuando na música, você era o proprietário do conjunto, fazia interpretações, mas você também atuou em outros ramos, em outras áreas, como por exemplo, o Banco da Amazônia como funcionário e ocupou cargos como a Ciretran, você poderia lembrar outras atuações?

Odilson Matos: Sim, referente aos cargos que ocupei, fui delegado da Ordem dos Músicos no período de 10 a 12 anos, não posso precisar exatamente, mas tive o prazer e a felicidade de inscrever todos os músicos da época na Ordem dos Músicos do Brasil. Hoje, a Ordem tem alguns músicos que confundem a Ordem dos Músicos como Previdência Social, mas não é, trata-se de um órgão que habilita a condição do músico de se profissionalizar, mas também há pouco tempo, houve através de um efeito jurídico, se não me falha a memória, em Santa Catarina, a Ordem dos Musicos ficou em uma situação administrativa e algumas vezes em defesa do músico, poque a lei existe e não dá para tirar, é uma lei Federal e o que se conseguiu e que ficou em conflito com a Constituição Federal é, que todos são iguais perante a lei e que todos têm o direito de trabalhar. A Ordem dos Músicos fiscaslizava, sendo que a maioria dos músicos não queria participar da Ordem dos Músicos para não serem fiscalizados e você vê que se nós formos olhar a condição musical, hoje tenho a felicidade de dizer que eu contribui na minha gestão na Ordem com isso. Meu pai, por exemplo, não gostava e, quando eu passei a tocar violão um pouquinho, ele dizia: “Não, não, já basta eu para beber”. Na verdade, não é assim, a musicalidade serve para outras coisas boas. Eu hoje não bebo e nem fumo, mas eu já bebi e também fumei e fui vendo que não funcionava, até atrapalhava o meu cantar que é a coisa que mais eu gosto de fazer. Na vida tem duas coisas que eu aproveito, que é pescar e cantar. Gosto de estar no meio musical.

Jornal O Impacto: Falando nisso, como está a vida do Odilson em termo de cantar? Você tem cantando em eventos?

Odilson Matos: Depois do conjunto “Os Hippies”, não dá pra parar. Você entra na musicalidade, você morre nisso. Até mesmo se você não partricipar, no final de semana, por pensamento, você fica imaginando o que estão fazendo por aí. De vez em quando eu encontro com o Sebastião Tapajós, o “Curica” é meu irmão, só não nascemos da mesma mãe, muitas vezes ele morava mais comigo de que com a família dele. Nós eramos vizinhos, ele morava na Princesa do Surubiú. Eu tenho a felicidade de dizer que é um irmão, nós temos algumas músicas que fizemos juntos e músicas dele que eu canto como “Luar de Santarém”, “Alter do Chão” que é minha, dele e do Emir Benergui. “Luar de Santarém” é uma música bela que eu gravei dele, também “Samba, viola e eu”. Eu gravei muitas músicas do Sebastião e temos algumas parcerias em composições minhas que ele musicou.

Jornal O Impacto: E recentemente, Odilson, você tem gravado alguma música?

Odilson Matos: Eu não. Ele (Sebastião) tem gravado com outros artista de Santarém porque desde cedo, quando ele era jovem, nós tocávamos juntos com um violonista do mesmo nível da época, Evaldo Martins, que tocava com ele e a gente se reunia debaixo da mangueira, perto da Praça São Sebastião, na Coronel Joaquim Braga. O violonista Diorlando Pereira, já foi par do Zé Claúdio, o menino da bateria Tião, que também está fazendo rádio na Princesa FM, e outros que chegavam naquela roda todo domingo e foi alí, então, que começou tudo. Eu me apeguei na música, sendo que tocava acordeon. “Babá”, que é o Sebastião Tapajós, que eu chamo de “Curica”, já era bom de violão, que inclusive era aluno do João Fona e mais o Ivaldo e outros amigos como o Jacú, filho do “Balão”; Fernando Sirotheau, de rabecão com contra-baixo acústico e a gente montava um grupo que tocava por aí naquela época, e todo domingo fazíamos esse encontro lá na Praça de São Sebastião e saia de tudo. Eu tive que deixar o acordeon, porque naquela época vieram em Santarém, na ZYR9 do Pitágoras de Almeida Silva, dois artistas, Afonso Tioso e Adelaide Tioso, que depois foi atriz e também usava a música como profissão; tocavam arcodeon, os dois muito bons, se apresentaram. Aí eu me entusiasmei, e passei a estudar arcodeon, que podemos chamar também de sanfona. Então, nesse aspecto eu fiquei com vergonha, quando o “Babá” e outros começaram a falar “arcodeon é instrumento para mulher”. Acabei vendendo meu acordeon, e me valeu, pois aprendi alguma coisa de música, dá para ler alguma partitura e fazer a coisa certa. Foi aí que começou tudo. Eu me orgulho em dizer que eu fui o único artista do Norte e Nordeste do Brasil na época, contratado por uma multinacional que era a Continental, como artista e quando eu parei, quando se extinguiu a contratação foi porque eu e o Sebastião fomos levar uma das músicas da terra que nós tínhamos gravado, composições dele e algumas do Isoca, como “Canção da Minha Saudade”, “Terra Querida”, “Praça da Matriz”, fomos levar para prensar e por engano nós acabamos entrando na Continental. Com o prestígio dele, eu não prestei atenção, que era lá que eu era artista. Aí eu não sei como eles descobriram que eu tinha um contrato de exclusividade e um dia ligaram para mim, e disseram: “Escolhe”. Eu tinha um contrato de exclusividade, você sabe que não pode, o disco estava acontencendo no Brasil inteiro, “Um Poema de Amor”. “Escolhe a gravadora ou o conjunto?”; e disse “já está escolhido”, o conjunto!

Veja a entrevista completa no site: www.oimpacto.com.br.

Por: Allan Patrick

Fonte: RG 15/O Impacto

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