População é exposta à brucelose ao consumir carne sem procedência
Walter Matos, da Divisa, alerta para os perigos de contaminação
“A carne clandestina coloca em risco a população. Nosso alerta é que não aja consumo da carne transportada em isopor, evitando assim o risco da brucelose, tuberculose e outros tipos de bactérias. Para se ter uma ideia, a temperatura ambiente já expõe a carne a uma situação de contaminação”, assim declarou Walter Matos, coordenador da Divisão de Vigilância em Saúde de Santarém (Divisa).
“Em Santarém, a gente já conta com os três serviços de inspeção, tanto na esfera municipal, quanto na estadual e federal. A carne comercializada em Santarém por meio dos frigoríficos tem um controle sanitário. Porém, sabemos das dificuldades enfrentadas pelas populações do interior. Nos esforçamos para realizar o monitoramento, mais é muito difícil. Nestas e em outras situações, a população tem que questionar sobre a procedência da carne. O correto é que o local onde está sendo comercializada a carne exponha ao público a Nota Fiscal do produto. Se não tiver, o consumidor pode solicitar, uma vez que a lei prevê tal situação”, acrescenta Matos.
A crescente preocupação das autoridades – não somente daquelas relacionadas com a área da saúde, mais também da segurança pública -, é em relação ao crescente número de furtos de gados, que acabam por alimentar o mercado clandestino.
“Muito importante é que nós possamos criar um consumidor criterioso, que antes de adquirir qualquer produto possa questionar a procedência, prestar atenção nas placas e rotulagem, que na verdade é a carteira de identidade do produto, onde tem o prazo de validade e especificações diversas. Verificar se o estabelecimento tem alvará sanitário, se os produtos estão bem acondicionados, como por exemplo, os que precisam estão em refrigeração realmente estão. Então, é importante realizar todos estes protocolos. Com ajuda da imprensa, conseguimos fazer com que parte dos consumidores tenham essa consciência na hora de adquirir um produto para alimentar sua família”, explica Walter.
FISCALIZAÇÕES: Segundo o Coordenador da Divisa, o órgão trabalha com um planejamento ao longo do ano, inclusive com um cronograma de cursos de boas práticas para orientar a população, as pessoas que trabalham na área de alimento.
“Dentro dessa cadeia nós temos os nossos parceiros, o próprio Ministério da Agricultura, a Adepará, as Secretarias de Meio Ambiente, tanto Estadual como Municipal, o Procon e outros órgãos, que nos ajudam e auxiliam também nessa fiscalização e no disciplinamento dessas atividades, para colocar o produto e o serviço com qualidade ao consumidor. Nós fazemos o trabalho compulsório, diariamente, com três equipes, às vezes nós aumentamos para cinco equipes no mesmo dia, dependendo da demanda. Nós temos um setor de Drogas e Medicamentos, coordenado por um farmacêutico; tem um Controle de Qualidade e Alimentos, coordenado por uma nutricionista e um médico veterinário; temos um Controle de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, que é coordenado por uma enfermeira, controlando inclusive infecção hospitalar. Temos um setor de fiscalização em assistência social, também em creches e escolas. Nós fiscalizamos hotel, motel, drogaria, necrotério, farmácia, feiras e mercados, tudo o que envolve a cadeia da saúde, que é muito ampla e nós procuramos fazer nosso trabalho com ética, para identificar realmente os problemas. Se porventura a Vigilância Sanitária falha, nós acabamos inchando os hospitais com pessoas doentes. Então, a proposta é para que os produtos cheguem com qualidade na mesa do consumidor, para que ele não tenha doenças diarreicas, não tenha gastrenterites e vá parar no hospital. O hospital é realmente para atender as pessoas que estão precisando em caráter de emergência, pessoas que estão com risco iminente de vida, aí se a gente faz esse nosso trabalho de ponta, junto com os parceiros, controlando a carne desde o pasto, vindo para o frigorífico até o açougue, a gente consegue também fazer um diagnóstico e manter a qualidade desses alimentos e produtos”, diz Walter Matos.
Walter ressalta que a Divisa funciona na Avenida Marajoara, no Complexo do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). No local é possível realizar denúncia, que também pode ser feita por meio do telefone (93) 99155-4907.
SINTOMAS DA BRUCELOSE: Também conhecida como febre de Malta, de Gilbratar, febre mediterrânea, ou febre ondulante, a brucelose é uma doença infecciosa causada por diferentes gêneros da bactéria Brucella – Brucella abortus (gado), Brucella suis (suínos), Brucella melitensis (caprinos), Brucella cannis (menos comum) – transmitida dos animais para os homens. A infecção ocorre quando entramos em contato direto com animais doentes ou ingeremos leite não pasteurizado, produtos lácteos contaminados (queijo e manteiga, por exemplo) carne mal passada e seus subprodutos.
O período de incubação pode variar de 5 dias até vários meses. Na forma aguda, de evolução insidiosa, os sintomas podem ser confundidos com os da gripe: febre intermitente/recorrente/ondulante, sudorese noturna (suor com cheiro de palha azeda), calafrios, fraqueza, cansaço, inapetência, dor de cabeça, no abdômen e nas costas. Na forma crônica, os sintomas retornam mais intensos. Os mais característicos são: febre recorrente, grande fraqueza muscular, forte dor de cabeça, falta de apetite, perda de peso, tremores, manifestações alérgicas (asma, urticária, etc.), pressão baixa, labilidade emocional, alterações da memória.
Brucelose é uma doença sistêmica que, nos quadros mais graves, pode afetar vários órgãos, entre eles o sistema nervoso central, o coração, os ossos, as articulações, o fígado, o aparelho digestivo.
VETERINÁRIA FALA SOBRE FISCALIZAÇÃO EM FRIGORIFICOS DE SANTARÉM: Depois da polêmica envolvendo alguns frigoríficos, que foram acusados no início do ano, pela Polícia Federal de comercializarem produtos adulterados. Segundo a PF, a investigação apontou que os frigoríficos, comercializavam desde carne podre, até embutidos feitos com carcaça de frangos.
Em Santarém, como é feita essa fiscalização? Na época nossa reportagem conversou com a médica veterinária Derliany Duarte, coordenadora do Serviço de Inspeção Municipal (SIM), responsável pela fiscalização dos frigoríficos santarenos.
“O serviço de inspeção municipal exerce uma atribuição importantíssima no controle dos produtos de origem animal que são oferecidos para população, temos atualmente três frigoríficos que são registrados no município e cada um deles possui um regime de inspeção permanente que garante a inspeção de todos os animais que são abatidos no caso dos bovídeos e posteriormente são entregues e refrigerados nos mercados e açougues. Temos qualidade e total segurança na inspeção da carne que é levada a população com a garantia de consumo sem medo. Nosso serviço também é responsável pela fiscalização de algumas indústrias de alimentos que trabalham com a matéria prima de origem animal onde são preparados alguns derivados tendo uma inspeção periódica onde temos o controle mensal da produção e de processamento. O SIM trabalha dentro do município através de uma lei criada em 2009, estamos trabalhando para aumentar nosso quadro de técnicos para obtermos uma abrangência maior para que possamos atender todas as indústrias que hoje atuam no município e as que em breve chegarão e iram precisar desse registro para colocar seus produtos no mercado. Dentro dos nossos frigoríficos estamos trabalhando da seguinte forma: A carne é entregue e a desossa acontece exatamente dentro dos mercados e açougues na presença do consumidor. Hoje nos temos como barreira situações que de fato acontecem em que as contaminações acontecem quando a carne é colocada em embalagens, e essas embalagens são danificadas durante o transporte. Então obtemos credibilidade quando o consumidor observa a qualidade da carne que está sendo oferecida e exposta nos balcões dos açougues tendo a garantia de uma carne inspecionada e de total segurança para o consumo”, afirma a veterinária.
Para a coordenadora do SIM, a população não deve se preocupar, no entanto, recomenda que os consumidores, na hora da compra, mantenham a atenção.
“O Serviço de Inspeção Municipal vinculado a Secretaria de Agricultura, garante durante todo o abate a inspeção dos bois e das carcaças que entram no frigorífico e quando a carne sai para os açougues, temos a total segurança e a certeza que aquela carne não possui alterações que possam trazer algum risco a saúde da população. Os estabelecimentos que irão receber essa carne onde a mesma será manipulada devem adotar uma serie de cuidados como a armazenagem onde antes a carne era pendurada para exposição, hoje é extremamente proibido sendo obrigatório que todas as carnes sejam armazenadas em balcões frigoríficos com a refrigeração mantida em temperatura adequada para que a carne apresente uma coloração normal vermelha, nem pálida e sem um vermelho muito intenso, tendo um odor característico que reconhecemos como carne sadia ou sentir um odor fétido demonstrando que aquele produto de origem animal está deteriorado. Outra forma de reconhecermos a debilidade da carne é através da consistência. Quando o açougueiro for manipular a carne, observe se a carne está firme ou flácida. Sendo essas algumas das características que como consumidores, devemos conferir e reconhecer quando a determinada carne não estiver propicia para o consumo se respaldando do total direito de não comprá-la.
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto