Roberto Branco: “Santarém vive situação de calamidade com falta de água”
Presidente da ACES diz que água servida pelos microssistemas são prejudiciais à saúde
A Cosanpa praticamente desde a sua criação, não cumpre seu papel de forma satisfatória, prova disso são as constantes reclamações que se estendem por várias décadas por parte da população santarena, sendo que há bairros que praticamente nunca viram água, outros só vêm pelo menos uma hora por dia, se tornando um dos maiores problemas do município de Santarém. Para falar sobre esse assunto, conversamos com presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES), engenheiro Roberto Branco, que ao longo de muitos anos vem prestando diversos serviços ao Município, sendo que já ocupou o cargo de Secretário do Município, tem empresa de construção e é homem de grande visão.
Sobre a questão de que no último final de semana, metade da população de Santarém ficou sem água, sendo cidadão santareno e engenheiro, que conhece os problemas da cidade, Roberto Branco fala sobre esse problema: “O que aconteceu foi que houve um rompimento de uma tubulação tronco ali próximo à Frei Vicente. Esse rompimento se deu porque a tubulação existente lá é antiga, de cimento amianto, é uma tubulação que não se usa mais para rede pública e essa rede ainda existe naquele local. Hoje temos na cidade cerca de seis quilômetros de tubulação ainda com esse material, que inclusive é proibido desde 2002. Das telhas, por exemplo, foi retirado o amianto porque havia ameaça de câncer e nós ainda temos tubulações de água que abastecem nosso povo com tubulação de cimento amianto, e o pior, trata-se de redes-tronco, redes importantes, são grossas de 400 milímetros de diâmetro. Esse rompimento ocorreu em frente a uma edificação nossa que fizemos na Frei Vicente e vinha vazando há algum tempo. Começou bem pequeno, quando foi na sexta-feira (05), rompeu de vez e foi um Deus nos acuda. Como conclusão, houve corte no fornecimento de água e deixaram parte da cidade sem o líquido precioso. A Cosanpa tem uma empresa terceirizada que tem como função ficar remendando tubos na cidade, o problema é que essas peças dessas tubulações não existem mais, é uma tubulação de cimento amianto que não existe peça para remendar, não existe luva para remendar, então, são obrigados a fazer gambiarras, um pedaço de PVC, uma luva para cá, para lá, concertam, mas fica cheia de remendo e essa tendência é de cada vez ficar pior. A única solução permanente seria trocar a tubulação, arrancar definitivamente, especialmente esses seis quilômetros que estão instalados e colocar um tubo mais moderno. O que acontece, a Prefeitura vai querer pavimentar as ruas, aí arrebenta um tubo, abrem um buraco e fica um remendo e isso vem acontecendo há anos e nunca se resolve. É uma situação que a gente não vê uma solução definitiva, só paliativa e isso é uma falta de consideração com a população. Eu acho que deveria ter uma ação do Estado nesse sentido, de resolver de uma vez por todas, essa situação”, declarou Roberto Branco.
Outra situação que nós observamos é que grande parte da cidade, ou seja, em vários bairros a população é abastecida por microssistemas de água. O ser questionado sobre a segurança que se tem em termos de saúde com relação à questão da água que vem destes microssistemas, o presidente da ACES foi enfático: “Esses microssistemas são outra grande vergonha, são um pouco mais de 30 microssistemas na cidade. A Cosanpa consegue abastecer cerca de 63% da cidade, os outros 37% são microssistemas, que são situações precaríssimas, não têm tratamento, não têm cloração na água, a água não é tratada. Então, as pessoas que consomem essa água nos bairros correm risco de saúde, além de tubulações precárias, pois cada um vai lá e puxa um tubo do microssistema, as pessoas bebem daquela água e essas doenças intestinais que vemos nos hospitais com certeza estão ligadas justamente a uma água de péssima qualidade que é servida, ou seja, esses microssistemas já deveriam ter sido erradicados há muito tempo, era para ter a rede da Cosanpa ampliada e toda água tratada na cidade. Isso já vem rolando há muitos anos. A Associação Comercial e Empresarial de Santarém, a qual eu represento, se sente sensibilizada com essa situação. Nós estamos passando por uma situação de calamidade. Agora no inverno tudo bem, mas no verão é um desastre. Além dos microssistemas tem outro problema, pois não são poços muito profundos, esses poços da Cosanpa só tem 250 metros de profundidade, trata-se de poços de 15 polegadas que pega lá no aquífero Alter do Chão, que aliás, é um dos maiores aquíferos do Brasil e está aqui embaixo. Os microssistemas são poços artificiais, são poços relativamente rasos e passíveis de uma contaminação fácil”, alertou.
A questão Cosanpa é muito complexa porque são anos lutando, sempre prometendo que vai melhorar, entra e sai administração, mas nada é feito. Qual seria o caminho para a gente conseguir sensibilizar os governantes a resolver definitivamente essa situação? Isso é impossível? Respondeu: “Impossível não é, tanto que tinha há um tempo atrás um projeto para Santarém que inclusive eu sou um defensor dessa área de saneamento, tratava-se de um projeto de 100 milhões de reais que iria terminar esses reservatórios que estão aos montes parados. O reservatório da Barão do Rio Branco estava parado, o da Conquista também, tudo pela metade, ou seja, as obras começaram, mas não terminaram. Eu vejo que essa é uma situação que atinge pessoalmente e frontalmente nossa população e não é uma coisa levada como prioridade. Nesse projeto de 100 milhões de reais houve um problema que o dinheiro voltou ou não foi aplicado, por um motivo de contrato; fizeram outra licitação, parece-me que vai ser listado de novo. Essa é a história que vem rolando e não se consegue resolver esse problema. Eu vejo como uma situação prioritária para cidade. A questão da substituição desses tubos de amianto, tem de ser vista como prioridade, então, por conta do que aconteceu nessa semana que se passou, eu como presidente da Associação Comercial, me senti na obrigação de chamar a atenção para essa questão. A gente está disposto a colaborar, ajudar o Prefeito, apoiar a Cosanpa, desde de que se tenha soluções definitivas e soluções viáveis para a cidade. Não podemos e nem devemos ficar à mercê desses serviços paliativos, emenda um pedacinho aqui, outro lá”, declarou.
Ao ser questionado se o Ministério Público deveria entrar em ação, para tentar solucionar esse problema, o presidente da ACES informou: “Essa questão do Ministério Público, já houve algumas ações com relação a essas tubulações de amianto. Isso realmente é uma tubulação que vai desgastando e ficando fina e as redes não aguentam a pressão, então, vai continuar arrebentando, se conserta uma rua e daqui a pouco aparece outro vazamento, aí quebra essa rua, e novamente se faz a gambiarra e assim sucessivamente. Você vê isso cotidianamente em Santarém e a gente precisa tomar uma decisão definitiva com relação a isso”, finalizou Roberto Branco.
Por: Allan Patrick
Fonte: RG 15/O Impacto