Moradores de Barcarena alertam para risco de rompimento das bacias de lama vermelha da Hydro
As barragens de rejeitos de bauxita da multinacional norueguesa Norks Hydro estão operando no limite e as chuvas intensas que têm caido na região de Barcarena agravaram o problema. Moradores informaram ao Ver-o-Fato que há ameaça de rompimento dessas barragens.
“Nós pedimos socorro às autoridades ambientais para que tomem providências imediatas para evitar uma tragédia. A Hydro colocou mais de 500 sacos de areia para tentar conter o vazamento da lama vermelha de uma das bacias, porque há risco de que ela vaze e prejudique ainda mais as comunidades”, disse Maria do Socorro Silva, líder da comunidade de Burajuba.
Socorro também enviou ao Ver-o-Fato diversas fotos que alguns moradores fizeram das bacias, denunciando o risco de vazamento. Outra moradora explicou que os sacos de areia não estão sendo suficientes para impedir o vazamento dos rejeitos para os rios, igarapés, poços artesiasnos e matas da região.
Para que se tenha noção do risco que correm as milhares de famílias que vivem no entorno da Hydro Alunorte, as bacias têm cerca de 30 metros de altura, enquanto as residências possuem apenas 3 metros. São residências de madeira sem nenhuma proteção de eventual avalanche de lama vermelha.
“Nós, da comunidade quilombola, estamos a uns mil metros dessas bacias e seremos os primeiros a morrer, porque se elas romperem a velocidade será tão grande que não haverá tempo de evacuação das famílias”, afirmou Socorro, acrescentando: “além da lama vermelha, há outros tipos de produtos químicos armazenados nessas bacias”.
Segundo a líder quilombola, a tragédia será pior do que em Mariana (MG). “Não vai sobrar um fio de cabelo nosso, nem os ossos. Meu Deus, precisamos que alguém nos ajude”, resumiu. “A bauxita devora tudo. É soda cáustica, bário, chumbo e outras substâncias da morte”, completou.
Não apenas dona Socorro, mas outros moradores, que inclusive sofrem perseguições e ameaças de morte por lutarem contra os desmandos e crimes ambientais da Hydro, afirmam que não confiam nem no prefeito do município, Antonio Carlos Vilaça, nem nos deputados e vereadores que se dizem representantes da região.
“Ora, o Vilaça tem várias empresas que prestam serviços para multinacionais como Hydro, Vale e outras. A bacia 2, de rejeitos, por exemplo, teve toda a terraplenagem feita pela empresa do Vilaça. São todos aliados contra a população, só confiamos na Justiça”, declarou um morador, o que fez as fotos das bacias.
Há 9 anos, vazamentos
Em 2009, as bacias da Alunorte vazaram, provocando graves consequências ambientais e sanitárias, como se não bastasse a fuligem expelida pelas fábricas das multinacionais a contaminar o ar que todos respiram. O “acidente” ocorreu em abril de 2009.
Após chuvas intensas, houve vazamento da substância conhecida por lama vermelha, resíduo altamente tóxico proveniente do beneficiamento da bauxita, que estava armazenada em uma bacia de contenção de rejeitos industriais da Alunorte. A substância transbordou de um dos canais de contenção da mineradora e atingiu o rio Murucupi, contaminando matas, igarapés e as nascentes do rio.
Relatório do Instituto Evandro Chagas apontou graves danos ambientais, com modificação drástica das características físico-químicas e microbiológicas do rio. Além da morte de várias espécies de peixes, o vazamento atingiu água de poços e lençol freático, bem como outros rios utilizados na captação de água para abastecimento da cidade.
Dois anos após o “acidente “, recentes análises das águas dos rios e poços constataram o envenenamento das águas, com alto teor de metais pesados nas águas dos rios e do lençol freático, tornando as águas impróprias para o consumo humano. Pior: a população foi intoxicada e até hoje não se recuperou. Os problemas de saúde acometem centenas de famílias.
E a Hydro, o que fez para reparar os danos que ela causou? Nada. E ainda se dá ao luxo – ou cinismo – de dizer em seus comunicados aos clientes que cumpre as leis ambientais. Ou investe na banda de rock A-HA, para disfarçar os crimes que pratica na região e distrair os jovens com música. Ou no futebol, como faz ao patrocinar ida de jovens carentes à Noruega.
Uma tapeação que há tempos não engana a mais ninguém em Barcarena e região. A não ser o governo do Pará, que bate palmas para os noruegueses, tachando-os de benfeitores da nossa economia.
E o povo? Ora, o povo. Que se exploda. O lucro é o que importa. Vidas humanas são apenas detalhes.
EM TEMPO: o Ver-o-Fato não conseguiu contato com a direção da Hydro para ouvir a versão da multinacional, para variar. Os telefones disponíveis no site da empresa não responderam às ligações feitas de Belém.
Fonte: Ver-O-Fato