Dulfe Marinho – A história de um grande vencedor
Advogado e membro da Comissão dos Idosos da OAB, fala um pouco de sua trajetória
O Jornal O Impacto recebeu, nesta semana, uma das grandes personalidades de Santarém. Trata-se do advogado Dulfe Marinho, que é natural de Óbidos, mas fincou suas raízes em Santarém, que adotou como sua terra e onde constituiu sua família e desempenha suas funções em diversas áreas. Dulfe Marinho, que se formou em Direito aos 58 anos, falou um pouco sobre sua vida:
“Eu nasci em Óbidos e posteriormente fui a Belém, pois a questão da educação em Óbidos era muito precária. Fui para Belém devido à necessidade de procurar alguma coisa para ajudar meus pais que bancavam tudo na época. Na capital eu terminei o curso ginasial, fiz o segundo grau, onde me formei em técnico em contabilidade e com isso comecei a trabalhar em um banco. Nessa época tive uma carreira muito boa, inclusive foi na época da revolução, onde tínhamos como presidente Alberto de Alencar Castelo Branco. De acordo com a política que ele queria implantar no Brasil, o banco que eu trabalhava naquela época era considerado o terceiro maior do Brasil, que era o Banco Comércio e Industria Minas Gerais, que comprou o controle acionário de uma banco que tinha agência aqui em Santarém que por sinal era o único banco particular naquela ocasião, que era o Banco Geral do Brasil, não existe mais. Começou com o Moreira Gomes que era ali na 15 de Novembro com a Lameira Bitencourt, e com isto eu fui designado para fazer um serviço de inspeção aqui na agência e colocar o sistema do comércio. O ano era 1970, eu cheguei aqui em Santarém no dia 29 de junho de 1969, dia de São Pedro. Viemos para Santarém fazer esse serviço e implantar o serviço do banco comércio. Nesse período estava chegando o 8º BEC. Muitos empregos começaram a surgir e a população começou a crescer desordenadamente, com a construção do cais do porto, a hidrelétrica do Curuá-una, abertura da Transamazônica e Santarém Cuiabá, construção do Tropical Hotel. Houve uma movimentação muito grande, e começaram a chegar outras empresas. Daí, ficamos. Eu vinha passar aqui no máximo uns 15 dias, e esses 15 dias se transformaram em mais de 40 anos”, disse Dulfe Marinho.
Ao ser questionado se aqui em Santarém constituiu família e participou da implantação da Coca-Cola em nosso Município, Dulfe Marinho respondeu: “Sim, participei. Antes disso, em Belém, eu havia trabalhado na Cervejaria Paraense, ainda quando estava em construção, era a Cerpasa, estavam iniciando e a gente tinha um pouco de experiência na parte administrativa e alguma coisa na parte comercial e com isto fui convidado por uma pessoa lá da Coca-Cola em Belém, para trabalhar com eles, pois eles queriam trazer a empresa para Santarém e fabricar o produto. A ideia foi essa, e graças a Deus isso aconteceu. Só que com a evolução, hoje as coisas estão mudadas, mas foi um trabalho muito bom e gratificante, nós ficamos aqui inclusive representando a Coca-Cola praticamente em toda área do Baixo Amazonas, centralizando Santarém e depois Belém”.
Sobre sua vida familiar, Dulfe Marinho foi enfático: “Eu casei 1971, a partir daí vieram os filhos, Dulfe, Ezequiel, Daniel. Depois vieram os netos. Eu fui para o Mararú , consegui comprar um terreno por lá em 1983. Nessa fase logo depois que sai da Coca-Cola, eu trabalhei em outras empresas aqui. Tinha uma empresa que estava crescendo, em caminho de avançar, que era a empresa do Francisco Pontes de Sousa, dono do antigo Armazém Esplanada. Ele veio me oferecer uma parte na sociedade e eu fui sócio dessa empresa da Ponte & Irmão Ltda, da rede Hoteleira do Norte, que era do Santarém Palace Hotel. Com isso ele me propôs ir para Manaus fazer a implantação da empresa por lá, onde já havia uma loja, mas graças a Deus também deu tudo certo e lá nós tivemos muito sucesso. O empenho de todas as pessoas que trabalhavam conosco, nós chegamos a ter 50 lojas, em toda essa região Norte (Pará, Amazonas, Acre, Roraima). Cresceu muito a empresa. Depois por essas questões do dia a dia, fomos para São Paulo, tinha uma empresa lá em São Paulo, aquela “Selva de Pedra”; o trabalho era muito grande, chegou um dia que eu disse: “Olha, eu vou voltar para Santarém, porque eu não aguento mais essa questão. Muito barulho”. Vim para Belém, nessa época eu já estava sediado em Belém. Aí apareceu uma oportunidade e comprei esse terreno lá no Mararú, em 1982 ou 1983, sendo que em 1985 eu disse: “Vamos passar um fim de semana no Mararú!” e desse final de semana estou por lá até hoje”.
Sobre sua vida profissional, quando se formou em técnico em contabilidade e depois teve que trabalhar e a faculdade ficou de lado, mas a vontade de estudar continuou e na oportunidade que teve, se formou em Direito. “Graças a Deus, em 1991 eu fiz o vestibular no antigo ISES, foi a terceira turma de Direito, fui aprovado, fiz o meu curso e me formei em 1997, com 58 anos, ou seja, nunca é tarde. Eu inclusive estou pensando, se Deus me der mais tempo de vida, de fazer mais uma faculdade. O que eu vejo, de acordo que é exigido ali no Mararú, são as pessoas chegarem por lá e falam: ‘Me disseram que aí no seu terreno tem a árvore tal, para que serve essa arvore?’. Então, o que vejo, é que faltam técnicos nessa questão de medicamentos e investirem mais na pesquisa porque nós temos muita coisa desconhecida”.
Ao ser questionado se chegou a enveredar na área da política, Dulfe Marinho respondeu: “Quando nós fomos para o Mararú, fizemos um trabalho muito grande, inclusive minha esposa era professora nessa época, mas estava licenciada do trabalho com nossa ida para Manaus e ficou fora dessa área escolar, nós verificamos que ali no Mararú havia muitas crianças que andavam pelas ruas, que não tinham escolas. Então, resolvemos fazer o Clube da Amizade. A ideia era para se colocar uma carpintaria para os meninos e a questão da costura ou alguma coisa que as meninas pudessem fazer para ter uma ocupação. Isso deu um resultado muito bom, durante um período de 5 a 6 anos, quando teve esse Clube da Amizade, onde chegamos a ter mais de 100 pessoas participando, inclusive com gente dos bairros próximos como Urumari e outros da cidade. Com isto, você sabe que os políticos ficam de olho onde tem alguma coisa e alguém que possa puxar votos, na época o saudoso Benedito Guimarães, que era uma pessoa que muitos gostavam, envolvido no futebol e muito mais, ele praticamente disse: “Dulfe, tu vais ser candidato”. Eu fui a contragosto, mas eu fui, até me surpreendi que só lá no Mararu eu tive 173 votos, salve engano e o segundo, terceiro, quarto e quinto colocado não chegaram na minha votação, porque o número de eleitores eram 690 e a votação do segundo ao quinto não chegou na minha votação, além de que tinham 81 candidatos a Vereador, e eu não fiz campanha”.
Perguntamos: Hoje, mesmo aposentado, ainda continua trabalhando, integra a OAB. Qual o Conselho que você faz parte na OAB? “Hoje eu estou no Conselho do Idoso. Na verdade, quando o presidente da OAB era o Geller, me convidou para fazer parte da Comissão do Idoso. Eu fui, participei na Comissão e estou até hoje. Isso é muito bom para a gente, porque não devemos parar de trabalhar. Eu acho que a pior velhice é a inatividade. Você estando com o seu trabalho, você tendo pessoas para estar em contato no dia a dia, é muito importante e principalmente quando você ainda tem condição de fazer alguma coisa por alguém, exercitando a inteligência, você não pode parar. Hoje, aos 74 anos, eu posso dizer sinceramente, ninguém deve falar em aposentaria, porque na minha ótica, aposentadoria é uma grande ilusão, que quando você está para se aposentar você bate palmas, você festeja. Então, é muito importante e eu fico muito satisfeito. Já participei do Conselho Municipal do Idoso, e graças a Deus poderíamos fazer muito mais. Outra coisa que eu gostaria de chamar a atenção e pedir para as autoridades, que olhem para o seu futuro, olhem o amanhã. Hoje nós temos muitas dificuldades para os idosos, aqui nós não temos uma casa para que se possa acolher um idoso quando ele está com problemas mentais, quando estão abandonados na rua, uma conscientização de que tudo que nós temos hoje no mundo foi feito por um ser humano quando era novo e que hoje está na terceira idade. Nós começamos o processo de envelhecimento quando nascemos, porque até na hora do nascimento nós estamos ainda aperfeiçoando, na hora que passamos a respirar esse ar poluído começamos a envelhecer. A luta não pode parar, quem me dera que nós tivemos uma idade limite em que pudéssemos dizer: “Olha, eu cheguei aqui, daqui para cá, o passo que você tem que dar é bem menor do que hoje você tem condição de dar”. Então, hoje em que você está com toda essa juventude, onde não existe limites, onde você possa ou queira ir fazer alguma coisa, aproveite, faça, porque quando você chegar nesta idade onde você não possa mais levantar o seu pé para dar uma passo maior, você não venha a sofrer, ajude a melhorar o seu futuro com a sua idade”, finalizou Dulfe Marinho.
Por: Jefferson Miranda
Fonte: RG 15/O Impacto