Exclusivo: ONU ouve relato de líder paraense jurada de morte e pedido de socorro para Barcarena

Socorro Silva (centro), com Raquel Dodge, ministro do STJ Benjamim e procuradores do MPF

Cansada de tantas arbitrariedades e perseguições contra as mais de 70 comunidades de Barcarena que ela representa por meio da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), Maria do Socorro Costa da Silva aproveitou o convite da Organização das Nações Unidas (ONU) para participar hoje em Brasília de palestra sobre direitos ambientais, entregando um dossiê sobre os crimes, ameaças e impunidade que se abateram sobre sobre o município localizado a pouco mais de 25 km de Belém.

“Socorro do Burajuba”, como é mais conhecida a presidente da Cainquiama e líder quilombola, levou fatos estarrecedores ao conhecimento da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Herman Benjamim. E cobrou providências imediatas das autoridades brasileiras, inclusive garantia de vida para ela e outros dirigentes comunitários.

“ Nosso povo está sendo assassinado diariamente, pelo ar, pela terra e pelas águas contaminadas. Não aguentamos mais, nossas vidas estão em perigo, querem nos matar”, declarou Socorro. Ela foi taxativa ao dizer que as autoridades e o governo do Pará estão ao lado daqueles que praticam os crimes ambientais e sociais em Barcarena. Citou particularmente a multinacional norueguesa Hydro, dona das gigantes do alumínio Alunorte e Albrás. A empresa está com parte de suas atividades paralisadas por determinação judicial. Motivo: é acusada de poluir rios, matas e poços da região.

Nas denúncias contidas no dossiê, a dirigente da Cainquiama relata casos de pistolagem e assassinatos de líderes da entidade cujas investigações para identificar os autores caminham com morosidade e desleixo. Não é à toa que maus policiais militares e civis, envolvidos em violências, tudo façam para proteger empresas multinacionais poderosas, que agem como se fossem as donas da vida e da morte das pessoas em Barcarena.

Também figuram no dossiê órgãos que deveriam zelar pelas questões ambientais e da segurança dos cidadãos, como a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e Secretaria estadual de Segurança Pública (Segup), além de outros que, por ação ou omissão, contribuem para estimular a impunidade dos criminosos.

Os procuradores da República e magistrados presentes ao evento da ONU ficaram perplexos com o relato de dona Socorro. Ela, que está com câncer, juntamente com o marido, contou que já sofreu mais de seis atentados – teve a casa invadida por policiais militares, que a pretexto de estarem à procura de outros diretores da Cainquiama, também jurados de morte, exibiram armas e intimidaram familiares, demonstrando claramente que estão a serviço de quem se incomoda com a luta das comunidades por seus direitos.

Um dos casos mais patéticos foi o pedido de garantia de vida para os líderes ameaçados de morte, que foi indeferido pela Secretaria de Segurança – leia-se general Jeannot Jansen, que já saiu do cargo, e cuja decisão foi mantida pelo atual secretário, Luiz Fernandes. Resumo do relato: as denúncias de “Socorro do Burajuba” à ONU terão repercussão em todo o país e no exterior.

Agora, quem ameaça e jura de morte a líder quilombola e seus diretores terá de fazer tudo para que eles continuem vivos. E isso vale também para as autoridades paraenses, já cientes das mortes anunciadas e nada empenhadas em evitá-las.

Fonte: Ver-O-Fato

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