Indígenas: “ICMBio dificulta desenvolvimento de aldeias”
Segundo o cacique Munduruku, ONG’s, MPF e ICMBio, fazem pressão para não legalizarem suas terras
Miguel, Rosita e Ademar anunciam criação de Cooperativa Indígena
Uma questão muito latente e alvo de conflitos diversos na região amazônica, é referente a demarcação de terra indígenas e áreas de preservação ambiental. Há pelo menos 15 anos, um grupo de indígenas luta para o desenvolvimento das aldeias da região de Bragança, localizada na Floresta Nacional do Tapajós. Neste mês, o grupo conseguiu implementar uma ação, que para eles é um marco. Criaram a primeira Cooperativa Indígena da região. Porém, para chegar até esse resultado, a estrada foi longa e de difícil trajeto. Citam por exemplo, o arcabouço burocrático estabelecidos para desenvolverem atividades que trariam desenvolvimento as aldeias. O Cacique Miguel Munduruku falou sobre os problemas que ele e seus familiares estão passando em suas terras. |
“Desde 2001, a partir do momento que a gente começou a lutar pela demarcação da terra indígena, para mostrar para o povo que éramos indígenas, nós começamos uma grande batalha. Durante por mais de15 anos que a gente vem lutando por uma terra livre, para que possamos trabalhar livre, e hoje ainda não conseguimos chegar até esse momento. Porque? Porque durante esse período enfrentamos muitas dificuldades, não com a questão da terra, mas sim com as pressões das ONG’s, do Ministério Público Federal e também do ICMBio. Porque hoje nós, como índios, não podemos fazer o nosso roçado. Não podemos mais tirar uma madeira para fazer nossa canoa. Não podemos fazer mais nada, dentro da nossa terra. Eu venho lutando há muito tempo, já sabia que a terra era nossa e nós tínhamos por direito trabalhar em defesa para nossa melhoria de vida, mas hoje Bragança não tem nada. Como eu falei há muito tempo, não temos tratamento de saúde, não temos educação, não temos o que é direito nosso. Como índios, nós poderíamos ter o que? A nossa terra para trabalhar. Mas como era para nós trabalharmos, nós somos impedidos até o momento. Quando eu fiz uma denúncia em 2016, contando a história das madeireiras, das ONG’s que estavam ali dentro, eu fui impedido de entrar na minha própria terra, como filho de Bragança. Eu fui cercado com flecha, com pau e com tudo que você imaginar. Porque? Porque eles foram cooptados pelas ONG’s, eles foram cooptados por aquelas pessoas que estão ali, querendo se dizer donos da nossa terra. Enquanto nós, como donos, não tivemos essa oportunidade. Então, começamos a nos organizar, para mostrar para a sociedade que somos indígenas, que somos donos daquela terra, e que temos que nos movimentar, temos que trabalhar para não viver na miséria que estamos hoje. Estamos vendo aqui, que toda madeira tirada de lá, não recebemos um centavo sequer. Além disso, percebemos que o ICMBio entrou ali para não deixar eu, como filho de Bragança, entrar lá dentro na minha terra, nem para passar uma visita no final de semana com meu irmão e nem com ninguém”, disse o Cacique.
COOPERATIVA DE ÍNDIOS: Miguel Munduruku, a organização por meio da cooperativa, ajudará as comunidades buscarem novas alternativas, frente ao desafio de empreender na floresta.
“Estamos muito feliz por uma conquista que nós fizemos, de organizar, de ir atrás daquelas pessoas que sabem do nosso direito, de mostrar o nosso direito, para que nós pudéssemos chegar aqui. Hoje estou feliz com a criação da nossa Cooperativa, dizer assim, como Cacique, em 2018 toda comunidade indígena de Bragança se reuniu, me colocou de volta como primeiro Cacique de Bragança. Estou muito feliz e quero pedir para que todas as entidades olhem o direito que é nosso, como índios. Quero parabenizar nosso presidente Bolsonaro que hoje diz o seguinte: “O índio tem que trabalhar”, e é o que nós queremos, trabalhar no que é nosso. Não queremos trabalhar na terra de ninguém, mas na nossa terra. Queremos trabalhar e crescer ali dentro para o futuro de nossos filhos”, informou Miguel.
DIREITO DE IR E VIR: Nossa reportagem também conversou com Rosita Munduruku, que está cursando Engenharia Florestal, fazendo a graduação. Ela falou sobre as potencialidades daquela terra, para que eles possam evoluir: “Sabemos que nossa terra é muito rica. Na nossa área temos vários projetos para trabalharmos focado na área de Bragança Munduruku. Temos muito que valorizar os recursos naturais, e os projetos vêm para valorizar não só os recursos, mas para dar uma condição melhor de conforto para os indígenas, para a comunidade. Já tivemos várias oportunidades de trabalhar, de explorar os nossos recursos, mas a gente não tem como expandir, como divulgar, e com a nossa Cooperativa com certeza teremos oportunidade de produzir, de exportar, de explorar os nossos recursos. E com isso, podemos melhorar as condições de vida da comunidade, de forma que possa manter o equilíbrio do ecossistema, mas com base na questão Social e Ambiental”, expos Rosita Munduruku.
A indígena universitária, explicou quais os setores serão explorados com a criação da Cooperativa, e assim beneficiarem a população. “Quem vai decidir será a assembleia, ou seja, a comunidade vai decidir qual área a gente vai trabalhar. Lá temos criação de peixe, tema exploração de sementes, artesanatos, turismo. Então, nossos recursos são amplos para trabalhar. Quem vai ganhar com isso vai ser a comunidade, os moradores e os indígenas, que vão ganhar não só conhecimento, mas também melhorar sua condição de vida. Hoje, o que estamos tendo no momento de impedimento, é que os próprios parentes não aceitam que outros moradores, no caso como nós, que moramos em Santarém e Alter do Chão, voltemos para nossa terra para trabalhar. Sendo que saímos de lá para estudar, para trabalhar, em busca de conhecimento, de melhorias, justamente para voltarmos e fazer investimento. Já tivemos vários impedimentos de voltar para lá, de fazer o roçado, de fazer criação e hoje a ideia é totalmente diferente. Todos estão com pensamento voltados para a Aldeia e trabalhar, porque não tem lei nenhuma que diga que o indígena só pode ficar em sua Aldeia. Eu sou indígena e posso ter residência na minha Aldeia, posso ter em Santarém, posso ter em outro lugar e não tem lei nenhuma que impeça isso. Em todo e qualquer lugar que eu ou outro parente for, vamos ser indígenas e ter o direito de ir e vir, de executar a atividade que exercia antes de viajar. De voltar para exercer sua atividade e continuar na comunidade”, declarou.
A indígena e acadêmica de Engenharia Florestal falou sobre a atuação do ICMBio e do Ministério Público: “No momento eles têm atrapalhado, beneficiando uma minoria e atrapalhado a maioria. O ICMBio diz que lá na terra indígena, é ele que determina, que dá ordem para trabalhar, tem até a metragem das pessoas que podem, determinam o tamanho do roçado do indígena. Não é isso que queremos. Tivemos algumas reuniões com o Ministério Público, e não percebi que deu apoio para os indígenas, de lá da Aldeia. Hoje a produção está muito mais restrita, só familiar mesmo. Algumas pessoas têm pequenas roças, mas não como antes. Uma produção que vinha para vender em Santarém, hoje está praticamente parada”, informou a indígena, que nasceu na comunidade de Bragança e está se formando em Engenharia Florestal. “Tenho muito orgulho de ser da aldeia de Bragança. Aqui em Santarém ou onde quer que eu for, vou ser indígena, e vou fazer tudo para conseguir benefícios e voltar para minha Aldeia, fazer melhorias para o povo da minha comunidade. Com meu povo, eu vou até no final”, finalizou Rosita Munduruku.
ICMBIO SÓ ATRAPALHA: Também conversamos com o presidente da Cooperativa Indígena Munduruku, Ademar Filho, que falou sobre os projetos que eles têm, suas potencialidades e também sobre os principais entraves hoje que estão atrapalhando a vida da cooperativa.
“Primeiramente, gostaria de agradecer ao Jornal O Impacto, por nos ajudar a divulgar a nossa Cooperativa. Nós vamos trabalhar com vários projetos dentro da nossa terra, entre eles está o turismo, que está se expandindo cada vez mais na nossa região, principalmente aqui na região do Tapajós. Nós vamos trabalhar também com a piscicultura, agricultura e outras coisas mais. Essa Cooperativa vai abrir um leque de oportunidades para que possamos cada vez mais trabalhar em prol da nossa Aldeia. Entendo eu que a Cooperativa só vem para somar com a aldeia e com as comunidades não indígenas, pois os turistas não vêm diretamente só para Aldeia, vêm também para Alter do Chão, para conhecer Santarém, Belterra, sendo que dentre esses lugares está a aldeia de Bragança. Nós, com certeza vamos trabalhar com potencial muito bom para atender o turismo na região”, informou.
Ademar Filho prosseguiu dizendo: “Temos uma terra muito rica, só que precisamos de um grande incentivo. Por exemplo, procuramos o Ministério Público Federal para nos apoiar, pois tem um amplo conhecimento em relação à terra indígena, porém, tivemos muita dificuldade, na presença do Dr. Camões, quando estive lá para conversarmos sobre isso. Saí do MPF muito triste, porque o Procurador falou para todos nós que estivemos lá, que hoje, com a presença do agronegócio, a terra indígena quase não tem vez e voz, porque quando eles vão chegando, não vai ninguém que possa impedir. Muito contraditória a posição do Ministério Público Federal, em relação ao presidente Bolsonaro, que está dizendo que quer que o índio volte a trabalhar. O índio para ele é um cidadão comum, é ser humano e é isso que queremos. Queremos trabalhar na terra, viver bem e melhorar qualidade de vida do nosso pessoal, com certeza junto da Cooperativa que vai só melhorar, abrir esse leque de oportunidades para todos nós. Sobre o ICMBio, é muito importante falar, porque a terra indígena fica dentro de uma reserva, e o ICMBio só nos deu problema. Por exemplo, 20 anos atrás todo mundo trabalhava em equipe, em puxirum, e isso expandia muito a produção de milho, de mandioca, jerimum, melancia e trazíamos tudo para vender em Santarém, bem como no Aramanaí e Alter do Chão. Com a presença de ICMBio efetivo na área, empacou tudo. Hoje para fazermos uma roça, o pessoal chega lá dizendo que a gente tem que fazer isso, fazer aquilo e pedir autorização. Sendo que a terra foi declarada indígena, através de todos os procedimentos legais e o ICMBio não tem direito nenhum de atuar na terra indígena. Isso me deixou muito triste e eu fiquei revoltado com esse órgão, porque ao invés de ajudar ele só atrapalha. Infelizmente o que eu tenho para dizer para o ICMBio, para esses órgãos todos, para as ONGs principalmente, que elas estão empacando o nosso trabalho. O Governo Bolsonaro está aí com uma nova visão. Começamos a trabalhar, formalizamos a Cooperativa no ano passado, e quando o Governo Bolsonaro entrou agora, as ideias que tínhamos antes, só somaram com a dele agora. Acredito eu, que o ICMBio e todos esses órgãos que batem de frente com a gente, que criam problemas, que não querem ver o índio trabalhar e crescer, infelizmente acho que não tem mais nada para eles”, finalizou o presidente da Cooperativa, Ademar Filho.
Por: Jefferson Miranda
Fonte: RG 15/O Impacto
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Ali e terra do pt.kkk