Vídeo – Narciso Sena: “Privatização da Cosanpa duplicará preço da água em Santarém”

Segundo o sindicalista, população pagará por um serviço caro e terá dificuldade de acesso maior.

 Presidente do Sindicato dos Urbanitários faz o alerta à população e autoridades

 O presidente do Sindicato dos Urbanitários de Santarém, Narciso Sena, esteve no estúdio da TV Impacto e na redação do Jornal O Impacto, onde concedeu entrevista exclusiva para falar sobre a intervenção feita pela Prefeitura de Santarém, na Cosanpa. Veja a entrevista na íntegra:

Jornal O Impacto: Hoje nós vamos falar sobre um assunto que sempre está em atualidade, que é a água. Recentemente o prefeito Nélio Aguiar anunciou uma intervenção na Cosanpa. Qual o seu ponto de vista sobre esse tema?

Narciso Sena: “A gente tem que fazer um contraponto, ou seja, nós sempre estamos vendo um lado falar, que tem que fazer o contrato com outra empresa. No dia 24 de dezembro de 2018, no apagar das luzes, o prefeito Nélio Aguiar assinou uma Portaria de intervenção na Cosanpa, aqui na regional Santarém. Para nós isso não seria uma grande novidade. Alguns poderes que dão ao interventor, juridicamente não têm validade nenhuma. Por exemplo, como é que alguém pode demitir ou admitir o servidor público, se na Cosanpa só se entra através de concurso público? Por aí já começa a situação. Ele pediu uma auditoria dentro do órgão, mas vale ressaltar que a Cosanpa em Santarém não recebe nenhuma arrecadação, tudo é pago no banco e cai diretamente numa conta que é administrada pela companhia em Belém. O grande problema da intervenção, é que a maneira que está sendo feita, não vem para resolver problemas. Na realidade, o Prefeito aproveita para criar um fato, tentar fazer uma situação que ele já propõe há muito tempo, que é a privatização dos serviços de saneamento em Santarém. Inclusive, o Prefeito já criou até uma Autarquia Municipal aprovada pelo Poder Legislativo, já fez uma licitação contratando uma empresa para prestar serviço na área de saneamento dentro do perímetro urbano. Essa empresa que ele anunciou é a Novacon Serviços de Saneamento, que se você procurar na internet, só tem atuação em dois municípios do Brasil. Ela é da cidade de São Paulo, nem no Município onde tem o endereço de origem ela não presta serviço. Vale ressaltar, que tem um processo contra ela dentro de um desses municípios por conta de serviço que não conseguiu executar de forma correta. O que nos chama atenção é que não há uma solução para essa situação. Recentemente queimou um equipamento no Maracanã, a população ficou uma semana sem água, sendo abastecida por carro pipa. Se mandar cavar um poço agora, o Prefeito anuncia que foi ele que conseguiu. Não é verdade, a Prefeitura diz que não tem dinheiro, mas como é que ele consegue recursos? Na realidade, a direção da empresa mandou cavar um outro poço. Mas, o que nos choca, é que a Cosanpa só executa serviços para apagar incêndio, não previne nada. Se você tem um equipamento funcionando 24 horas por dia e não presta manutenção nesse equipamento, é lógico que em algum momento ele vai parar. A gente tem que prever isso, o correto é você a cada 6 meses ficar fazendo manutenção desses equipamentos”.

Jornal O Impacto: Se a Cosanpa for privatizada, a empresa que ganhar vai prestar um bom serviço ou só visará lucros?

Narciso Sena: “Quem trabalha na área de saneamento sabe que essa falácia de intervir hoje e amanhã tem solução, não existe. Não existem investimentos em saneamento a curto prazo. Investimentos na área de saneamento têm que ser a longo e médio prazo, quando você pode fazer medidas paliativas para minimizar o impacto que está ocorrendo. A cidade de Santarém nos últimos 20 anos cresceu absurdamente, você vê que a periferia da cidade se expandiu de forma imensa e o próprio centro urbano da cidade começou a crescer. Em local que tinha uma única residência surgiram 3 ou 4, pois as pessoas fazem residência nos quintais das casas. Só que o fornecimento ou a quantidade de estrutura oferecida para o saneamento não houve expansão. Vai chegar o momento em que haverá o gargalo. Quem nos conhece sabe que já estamos batendo nessa tecla há muito tempo aqui. Se as obras de saneamento que foram colocadas para Santarém não viessem a ser concluídas, nós teríamos momentos que ia chegar nessa situação, que as mazelas iriam aparecer. Agora eu quero dizer à população de Santarém, que é a mais prejudicada, que privatizar o serviço, como é a proposta do poder público municipal, não vai solucionar o problema. Ao contrário, quando o ex-governador Jatene propôs a privatização da rede Celpa, foi com o mesmo discurso, que ia melhorar e baratear o serviço. Hoje a população não só de Santarém como de todo estado do Pará vem sendo extorquida pela Celpa. Dona Maria ou o seu João têm que vender o almoço para poder pagar a conta de luz. Em relação à água será pior. Só tem um porém, sem energia elétrica você pode viver, mas sem água não dá. A população vai pagar por um serviço privatizado caro e vai ter a dificuldade de acesso maior. Eu pergunto: ´Qual é o empresário que quer investir aonde não tem retorno? Qual é o setor privado que investe em estrutura pública?`. O dinheiro investido será o poder público que vai dar, que vai entregar na mão do setor privado para administrar. Isso tem um custo muito maior para população, onde o serviço de água é privatizado. Vocês podem consultar em qualquer cidade brasileira, como exemplo a cidade de Manaus, onde a conta de água é igual ou maior que a conta de energia elétrica. A tarifa de água em Manaus é 4 ou 5 vezes mais cara do que a tarifa de água no estado do Pará”.

Jornal O Impacto: Uma pessoa que aqui em Santarém paga uma tarifa de R$ 40 a R$ 50, com a privatização da Cosanpa quanto ela pagaria hoje?

Narciso Sena: “Em torno de R$ 90 a R$ 100, o dobro. Na própria Lei do Município, criando a Autarquia Municipal de Saneamento, que foi aprovada, o valor da tarifa em média se fosse fazer o cálculo ficaria na faixa entre R$ 90 a R$ 120. Sendo que uma coisa a Lei é bem clara, quem é dona da concessão dos serviços tem direito inclusive de cobrar daquelas pessoas que têm poços em suas casas, coisa que hoje não é feita. A mesma coisa é referente à tarifa de esgoto que acrescentará mais 60%. Você consumiu 10 metros cúbicos de água custou R$ 70 a R$ 80, só que, além disso, será acrescentado mais 60% da tarifa de esgoto. Aí você vai dizer que não tem rede de esgoto passando na frente de sua casa, mas você tem que pagar. Mesmo que você não esteja interligado ao sistema de esgotamento sanitário, terá que pagar. A população está sendo iludida por uma falsa propaganda, falsa ilusão de que o serviço vai ser melhor e mais barato. Não é assim, o serviço será cobrado por metragem cúbica de água. Hoje a população de baixa renda paga a tarifa mínima referente a 10 metros cúbicos de água. A gente tem que entender uma coisa, qualquer empresa pública não tem objetivo de ter lucratividade, seu objetivo é prestar serviço essencial à população, como é o caso da Cosanpa, mas logicamente que ela também terá que ter condições de sobreviver, precisa arrecadar para se manter. Para você ter uma ideia, o governo do Estado injeta algo em torno de 5 a 8 milhões de reais todo mês, para poder manter o serviço funcionando. Eu moro no bairro Santo André e a maioria das vezes em que acontece um problema no meu bairro é com relação a bomba que queima. Tudo que existe nessa peça tem que pegar de outro lugar, para poder consertar. Nós não temos arrecadação, não temos autonomia financeira, dependemos de Belém. Nós fazemos todo mês o orçamento operacional, orçamento de equipamentos, encaminhamos para Belém e temos que esperar.

Jornal O Impacto: Existe influência política para os cargos de diretores da Cosanpa?

Narciso Sena: “Todo mundo sabe que quem gerencia a Cosanpa tanto aqui em Santarém quanto na capital, são indicações políticas, não tem plano de carreira. Estamos entrando em um novo governo, com uma nova visão. Durante a campanha, Helder Barbalho foi enfático em dizer que a Cosanpa não será privatizada, ao contrário, disse que vai trabalhar e investir para dar uma nova roupagem ao órgão. Só que é muito estranha a situação que está ocorrendo em Santarém, onde seu aliado político tem um outro discurso, que quer a privatização da Cosanpa. Fica a contradição. Têm outras coisas que podemos citar com relação às obras da Cosanpa que não foram concluídas pelo governo do Estado e ficaram no esquecimento, como a Estação localizada por trás do Colégio Álvaro Adolfo, que está se deteriorando. A Estação do Bairro Livramento, a Estação de Tratamento do Mapiri. Está tudo parado e se acabando. Dinheiro público jogado fora”.

Por: Jefferson Miranda

Fonte: RG 15/O Impacto

2 comentários em “Vídeo – Narciso Sena: “Privatização da Cosanpa duplicará preço da água em Santarém”

  • 21 de janeiro de 2020 em 20:53
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    Cosanpa já esta extorquindo da população. E estamos de mão atadas com a justiça que caminha a passos de tartaruga somos obrigados a aguentar ter de pagar contas de R$ 950,00 de agua que antes eram R$ 170. Isso em Belem do Para

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  • 19 de janeiro de 2019 em 16:08
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    Ineficiente a toda prova, se vc participa um vazamento de água na rua, decorrente de estouro de cano, eles não consertam, falta água nos bairros e só tomam providências após acionada a imprensa. Enfim esse atendimento por empresa do governo é sempre deficiente, pois o tal funcionário público é a praga do Brasil. Privatização já, que só melhora e baixa a tarifa, a exemplo do que ocorre nas cidades do restante do Brasil onde já houve a privatização, pois somente pra cobrar e exigir dos outros, o estado e as prefeituras são eficientes !

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