Delegada fala sobre dificuldades de mulheres superarem agressões

O número de casos registrados de violência contra a mulher tem aumentado em Santarém. A questão é que não quer dizer necessariamente que a violência em si tenha aumentado, mas que muitas mulheres se cansaram dos atos de violência que sofriam e criaram coragem para denunciar seus agressores.

De acordo com a delegada Milla Moura, da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), isso se deve a inúmeros fatores, como por exemplo, as campanhas e projetos da Deam, que tem ajudado na conscientização e dado coragem às vítimas para denunciar seus companheiros/agressores.

“A Deam é uma delegacia que realmente tem um número muito grande de procedimentos e não foi diferente esse ano, as mulheres estão tendo bastante coragem para vir relatar o que está acontecendo e a gente investiga tudo para saber se de fato está acontecendo aquela situação como foi registrada na delegacia. Por conta dos projetos que são feitos pela delegacia, com gestão da delegada Andreza Alves, as mulheres têm se aproximado bastante da Deam e confiado no nosso trabalho. Nós realmente temos como proteger e ajudar essas mulheres”.

De acordo com a delegada, atualmente cerca de quatro casos por dia são levados à Deam para abertura de procedimentos. No geral, as denúncias têm quase sempre as mesmas características: lesão corporal, injúria e ameaça. Em 2018, pouco mais de 1.600 denúncias foram registradas na delegacia, e no ano anterior foram 1.248 casos.

De acordo com a Deam, cerca de 130 casos de violência contra a mulher são denunciados na delegacia especializada. Destes casos, mais de 90% são seguidos de pedidos de medidas protetivas – que visam proteger mulheres, vítimas de violência familiar e doméstica de serem agredidas novamente.

Para as vítimas, que muitas vezes relutam em denunciar, se faz necessário mostrar que existe uma rede de proteção que a ajudará a superar este momento de fragilidade.

“Muitas vezes a mulher fica durante muito tempo em casa, sofrendo aquele tipo de pressão, ameaça, ouvindo que ela não vale nada e caso ela vá denunciar, ele(agressor) vai fazer alguma coisa com ela. É importante que a mulher saiba que aqui ela tem uma rede de proteção, ela está protegida para falar e que após essa denúncia vai estar com toda essa rede proteção ao redor até que se saneie essa situação. Santarém tem uma rede de proteção muito forte, temos o Propaz, a delegacia, Cress, Cras, e quem fazem esse acompanhamento posterior. Nosso trabalho não termina quando ela vem aqui e registra o boletim, temos esse acompanhamento para que ela de fato fique saudável totalmente, superando a violência que ela viveu e possa retomar a vida normalmente”, ressalta Milla Moura.

Com o processo de conscientização vem a coragem para denunciar, o que também está resultando em outro movimento: a exposição do agressor nas redes sociais. Não são raros os casos de mulheres usando ferramentas como Facebook, Twitter, Instagram e YouTube para fazerem relatos sobre o período em que sofreram violência – tanto psicológica quanto física – e assim exporem seus agressores.

Para a delegada, esta é uma importante ferramenta de conscientização e pode ajudar a outras vítimas a denunciarem seus agressores. No entanto, deve-se tomar inúmeros cuidados ao fazer isso, sendo o principal deles realizar a denúncia contra o acusado antes.

“Após esse momento de denúncia e que a mulher supera essa fase, é bem comum que ela a expor e conseguir conversar com as pessoas. No momento em que a situação acontece, a mulher não fala, fica retraída. É importante também que essa exposição não ocorra antes de se fazer a denuncia, porque a gente não sabe a reação do agressor, então caso ela queira relatar ou desabafar, em redes sociais principalmente, é importante que isso ocorra após o registro de boletim de ocorrência aqui na delegacia”.

SAÚDE DA MULHER VIOLENTADA:

De acordo com um estudo baseado em dados do Ministério da Saúde, as mulheres brasileiras vítimas de violência física, sexual ou mental, têm um risco de mortalidade oito vezes maior se comparado à população feminina em geral.

A pesquisa analisou cerca de 800 mil notificações de violência contra mulheres feitas por serviços de saúde, além de 16,5 mil mortes associadas a elas no período de 2011 a 2016. Os dados foram coletados por meio do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan) e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

A morte por diabetes, de acordo com o estudo, também é quatro vezes maior quando se trata de vítimas de violência. Nesse caso, a motivação está relacionada ao fator depressão eu pode contribuir para desencadear a doença.

Mulheres que sofreram violência física (63% dos casos notificados), e de repetição tiveram sete vezes mais chances de morte, seguida da violência sexual (5,7 vezes) e psicológica (5,4 vezes).

O casamento ou a união consensual é um fator de risco para as mulheres jovens, entre 20 e 29 anos, vítimas de violência. Elas têm 14 vezes mais risco de morte do que uma mulher nessa faixa etária, com o mesmo estado civil, que não é agredida.

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