La Casa de Papel – Parte 3
Por: Michael Douglas
Em maio de 2017 o canal de TV espanhol Antena 3 lançava “La Casa de Papel”, uma série no formato filme de assalto. A premissa era boa, os personagens interessantes e a trama – ainda que soasse como um novelão mexicano – entregava uma boa história e reviravoltas satisfatórias.
A história do inimaginável roubo da Casa da Moeda da Espanha por oito desajustados (criminosos com uma extensa ficha policial) que não sabiam do passado um do outro, que se chamavam por nomes de cidades e eram comandados por um enigmático e genial homem – conhecido como “O Professor” – fez um relativo sucesso no país, fazendo com que a Netflix comprasse os direitos de distribuição para o restante do mundo.
Buscando ver se a série faria sucesso fora da Espanha, a Netflix a lançou em duas partes. O sucesso foi tão grande que mesmo com o fim da trama, planejada para apenas uma temporada (ou duas partes, como queiram), os fãs de todo o mundo clamaram para que a história continuasse. A toda poderosa do ramo do Streaming foi atrás dos direitos da obra e de todos os atores que participaram, dando assim início à parte 3 – que foi lançada na sexta-feira passada, dia 19. Mais uma vez, a obra foi aclamada pelo público.
A história da parte 3 de “La Casa de Papel” começa dois anos após o assalto a Casa da Moeda da Espanha e a fuga bem sucedida do grupo – ainda que dois tenham morrido no meio do caminho. Os ladrões, agora milionários, se espalharam pelo mundo e levam uma vida de luxo, riqueza e prazeres, além de muito cuidado – afinal a polícia nunca pararia de procurar um grupo que passou quase uma semana preso na Casa da Moeda com inúmeros reféns e produzindo seu próprio dinheiro.
A questão é que para a série acontecer, algo precisa fazer com que eles se reúnam novamente, e aí que entra o personagem de Rio (Miguel Herrán). Ele é preso pela Polícia, o que obriga os ladrões a se reunirem novamente e partirem para o resgate do companheiro. Mas, como conseguir tirá-lo das mãos da polícia? Fácil, é só roubar um lugar maior, com mais dinheiro e mais bem protegido que o anterior. Isso faz sentido? Não mesmo, mas como pedir lógica para uma série que não liga para isso?
Em oito episódios, a parte três narra este novo e mirabolante roubo/resgate dos bandidos, que cada vez mais se tornaram parte da cultura pop mundial – o que é até muito bem abordado na série. Por ser feita pela própria Netflix dessa vez, a série parece ter ganhado mais dinheiro, o que melhorou muito a fotografia, locações e cenas de ação. Ainda que o roteiro seja idêntico ao das duas partes anteriores, existe um magnetismo na trama que faz com que você não queira desligar a TV – ou celular, ou computador, afinal é a Netflix. Os episódios passam rápido e o final te deixa ansioso pela sonhada parte 4 – confirmada, mas ainda sem data.
Os personagens, claramente inspirados no filme “Cães de Aluguel” (1991), seguem carismáticos – destaque para Nairóbi (Alba Flores), que carrega os companheiros quando eles parecem completamente perdidos, além do professor, que mostra que existe um ser passível de falhas, ainda que siga sendo um gênio do crime. As caras novas também deixam o elenco mais diverso, separado, dinâmico e perigoso, sendo Palermo o com maior destaque. A narrativa intercalada entre passado e presente deixa a narrativa mais didática e rende bons retornos – saudades eternas do Berlim.
Do outro lado, a polícia segue sendo vilanizada (afinal é impossível não torcer pelos ladrões), principalmente a figura da Inspetora Sierra (Najwa Nimri), que não apenas quer prender os assaltantes, como quer humilhá-los perante todo o mundo que acompanha o desenrolar da história.
A antagonista e sua caçada ao Professor e seu grupo traz bons momentos para a série, mostrando ser – pelo menos até o momento – a única no meio daquele circo capaz de parar os anti-heróis. É neste ponto da narrativa que entra outro grande ponto desta terceira parte: a grandiosidade. Tudo é maior que no primeiro assalto, desde o valor do que estão roubando, as explosões, cenas de ação e – principalmente – as consequências.
Ainda que seja uma história de assalto, a série é também sobre opinião pública. O tempo todo, bandidos e policiais se digladiam não apenas para prender ou fugir, mas para ter as pessoas que – acompanham isso de fora – ao seu lado. Quem está certo nesta história afinal, os bandidos (que não roubam apenas por prazer, mas para desafiar o falho e corrupto sistema estabelecido) ou os policiais (vilanizados na série, mas que apenas cumprem com o seu dever)?
A resposta não é fácil, mas a série consegue vender estes questionamentos de fora bem simples, fazendo com que a narrativa não seja cansativa. Talvez os dois lados estejam certos, mas pelo visto apenas um pode vencer neste jogo de gato e rato megalomaníaco. Resta assistir a parte 3 e esperar pela próxima.