Artigo – A nova era das guerras comerciais e o perigo da recessão global
Guerras comerciais não são uma novidade. Em 1839, o atual Reino Unido, com apoio francês, travaram uma guerra contra a China. O motivo era que ingleses e irlandeses queriam manter o direito de traficar e vender drogas (ópio) em território chinês, além de ter exclusividade em outros produtos do império oriental. A China proibiu o tráfico de ópio e teve que ir à guerra para manter a proibição, mas foi derrotada pelos ingleses. Foi obrigada a ceder Hong Kong como compensação de guerra.
Nos dias de hoje se atirarmos um pau no gato, lá na China, se ouve os miados poucos segundos depois, aqui no Brasil, através das redes sociais. A economia globalizada também tem este mesmo efeito. Assim se vê com grande preocupação a guerra comercial entre EUA e China. Especialistas de todo mundo concordavam que esta guerra estava nos colocando na beira do abismo da recessão global.
Por isso foi com grande otimismo que o mundo ouviu a frase de Donald Trump “temos um acordo comercial com a China!”. O possível acordo não exigirá realmente grandes concessões da China, mas permitiu que os chineses atingissem alguns dos principais objetivos que desejavam. Mas, a boa notícia é para o governo Trump que agora tem o “acordo comercial com a China” e vai usar isso intensamente em sua campanha eleitoral.
Sem dúvida, no curto prazo, isso acalmará os mercados financeiros e aliviará algumas das pressões sobre a economia global. Não haverá mais escaladas na guerra comercial nos próximos meses, e essa é, definitivamente, uma boa notícia que vale a pena comemorar.
Depois de o anúncio do possível acordo, os preços das ações começaram a subir, o Dow fechou 319 pontos a mais, enquanto o S&P 500 subiu 1,1% e o Nasdaq ganhou 1,3%. Os ganhos ajudaram o Dow e o S&P 500 a se recuperar de uma série de derrotas das últimas três semanas. No Brasil, a IBOVESPA subiu 1,26% a 101.248 pontos. Não víamos tanto otimismo em Wall Street e nas bolsas ao redor do mundo há algum tempo, e as coisas certamente parecem melhores para os investidores no curto prazo.
Sem dúvida também, não foi nem remotamente o tipo de acordo comercial abrangente que o governo Trump queria. Além disso, nada foi realmente escrito, nada foi realmente assinado, o possível acordo não exigirá realmente grandes concessões da China, mas permitiu que os chineses atingissem alguns dos principais objetivos que realmente desejavam. Aparentemente, a primeira fase deste “acordo comercial” será escrita nas próximas três semanas. Mas não prestamos atenção aos detalhes, e tudo o que ouvimos são as manchetes “há um acordo comercial entre a China e EUA”.
Trump disse ter sido alcançado no acordo que a China comprará em torno de US$ 50 bilhões em produtos agrícolas americanos, além de concordar com diretrizes sobre a administração de moedas. O acordo também inclui algumas disposições sobre propriedade intelectual, incluindo transferência forçada de tecnologia e daria às empresas americanas de serviços financeiros mais acessos ao mercado chinês, afirmou o presidente. Em troca, os Estados Unidos não vão adiante com planos de aumentar as tarifas de US$ 250 bilhões em mercadorias chinesas e mais 30% na próxima semana.
Para a China, um dos principais objetivos das negociações foram fazer o governo Trump reverter as tarifas que estavam prestes a ser implementadas, e fazer com que o governo Trump concordasse em não impor tarifas adicionais. Essas tarifas são muito prejudiciais para a economia chinesa e são o principal instrumento de alavancagem, do governo Trump, nesta guerra comercial.
Por outro lado, os chineses realmente precisavam comprar os produtos agrícolas americanos. De fato, uma vez que milhões e milhões de porcos estão morrendo de febre suína africana, a verdade é que eles precisam desesperadamente dos produtos suínos dos EUA. Os chineses também sabiam que os agricultores americanos precisavam desesperadamente vender produtos, portanto, pararam de comprá-los temporariamente para obter vantagem sobre o governo Trump.
No curto prazo, é uma grande vitória para os chineses, é uma vitória para agricultores americanos, e é uma vitória para Trump, porque eles agora têm o seu “acordo comercial” e o mercado de ações está subindo mais uma vez.
O vice-primeiro-ministro de Pequim está em Washington, liderando a 13.ª rodada de negociações. As expectativas para um grande avanço no impasse de 15 meses ainda são baixas. Os dois lados estão num impasse, principalmente, com as afirmações do governo Trump de que a China rouba tecnologia e pressiona empresas estrangeiras a entregar segredos comerciais como parte de um esforço agudo para se tornar líder global em robótica, carros autônomos e outras tecnologias avançadas.
No final, esse “acordo” muito limitado dá aos chineses o que eles querem no curto prazo e permite que eles continuem adiando qualquer tipo de resolução sobre as questões comerciais mais importantes. Os chineses conseguiram exatamente o que queriam, mas pode ser também o pavimento para Trump ir direto para a Casa Branca.
Infelizmente, a longo prazo nada mudou. A economia global ainda está desacelerando e o nosso sistema financeiro ainda é o mais vulnerável desde a crise de 2008. Para completar, os EUA pediram uma reunião na OMC para o próximo dia 14 de outubro. Esta reunião deve marcar o prosseguimento da guerra comercial americana contra a Europa, que foi iniciada em 4 outubro deste ano, quando a OMC autorizou sanções americanas contra a União Europeia. O perigo será quando chegar esta guerra até a américa latina. Assim mais uma vez a recessão econômica global volta a ser o fantasma que assusta os mercados em todo o mundo.
RG 15 / O Impacto