Dona do Mal? Será mesmo?
Angelina Jolie enfeitiçou o público com sua interpretação carismática e garbosa de Malévola, em 2014, se tornando uma importante figura da cultura pop daquele ano para cá. A personagem era tão irreverente que se salientava aos demais elementos da trama, que pouco estavam à altura de sua presença. Agora, a feiticeira está de volta com participação racionada e caráter muito mais aberto à benevolência, conflitando com o subtítulo do filme.
Malévola: Dona do Mal retorna tempo depois dos eventos do primeiro filme. Aurora quer se casar com o príncipe encantado, mas a mãe do galã conserva pretensões sombrias para todo o reino. A direção é de Joachim Rønning, também responsável pelo conturbado Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar. O diretor peca por subtramas pobres e péssima utilização de personagens adjacentes, igualmente prejudicados por um roteiro desnivelado e ora simplório.
O visual continua competente. A ambientação traz vivacidade com cores radiantes e efeitos especiais que agregam exuberância aos seres mágicos do reino de Moors. Mesmo nos takes mais escuros é possível ter clareza do que está acontecendo na tela. A trilha sonora, por sua vez, é excessivamente pujante e preocupada em reafirmar sem necessidade o tom épico do longa.
Como esperado, Jolie ainda demonstra muita afeição pela personagem principal. Malévola permanece sendo esbelta, imponente, sagaz, engraçada e ainda muito ressentida com o que houve no passado. Em um determinado momento do filme, no entanto, a feiticeira sofre uma baixa e cai na obscuridade, deixando uma lacuna imensa preenchida por frentes menos interessantes. Ademais, a bruxa faz pouco jus ao título do filme. Ela está mais empática do que nunca, quer o bem de sua “filha adotiva” e cede ao progressismo evocado nos momentos finais do longa.
Na verdade, a legítima dona do mal é a rainha Ingrith, interpretada pela brilhante Michelle Pfeiffer. Definitivamente ela lembra a personagem Cersei, de Game of Thrones: manipuladora, persuasiva e traiçoeira. É a vilã que tanto faltou no longa original.
O mesmo não pode se dizer de Elle Fanning e Harris Dickinson, que formam um casal tedioso e que mais serve para nortear os eventos do filme. Há também a adição de novos seres encantados, mas aqui vale se ater à aparição dos seres da mesma raça da bruxa, encabeçados por Idris Elba. Com grande potencial e nenhum desenvolvimento, eles são de longe o grupo mais desperdiçado da trama. Servem apenas como soldados de batalha. Por fim, vale destacar a transitória, porém cômica presença de Sam Riley. O corvo ainda diverte.
Sem entrar no campo dos spoilers, vale apontar que existe um confronto em grande escala que canaliza as decisões mais estranhas para o desfecho. E sim, Game of Thrones fez escola. É possível identificar elementos marcantes da série da HBO, como o casamento vermelho e a batalha final, reforçados pela presença de um “dragão” e um exército ao melhor estilo Lannister de ser. São alguns minutos eficazes de belas tomadas panorâmicas, explosões “festivalescas” e pancadaria soft. Lá no finalzinho, quando ocorre uma mudança de evento, entretanto, é impossível não se espantar com a rudeza com que tudo é feito. Enfim, estender esse ponto seria adentrar nos spoilers.
Malévola: Dona do Mal é regular e mantém um ritmo agradável, embora patine em subtrair o tempo de tela da protagonista, dando margem a subtramas insossas juntamente com personagens minguantes — com exceção da impiedosa rainha Ingrith. Angelina Jolie ainda sabe, e muito, o que faz com a icônica personagem, mesmo na pontualidade.