Artigo – O fator África
Por Oswaldo Bezerra
A África foi o berço da humanidade. Foi lá que o homem surgiu. Na sua história moderna foi saqueada. Foi explorando riquezas africanas que os países Europeus se tornaram nações desenvolvidas. Só a Bélgica provocou um genocídio de 15 milhões de pessoas. Os belgas deceparam a mão de milhões de crianças por não atingirem sua cota de trabalho.
As potências europeias se fartaram das riquezas africanas por séculos. Após a independência de muitos países africanos uma elite branca assumiu o poder, como na África do Sul e criou o “apartheid”. Os EUA passaram a dominar o continente berço. Suas empreiteiras eram as donas do continente.
A presidência Lula abriu um novo capítulo nas relações entre Brasil e África. Lula destacou que o continente africano seria um vetor fundamental da política externa, autodefinida como afirmativa e propositiva. Três meses depois foi lançado o Fórum de Dialogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS ou G-3), uma iniciativa sul-africana de cooperação Sul-Sul. Lula realizou viagens ao continente e visitou São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Namíbia, África do Sul, Gabão, Cabo Verde, Camarões, Nigéria, Gana, Guiné-Bissau, Senegal, Argélia, Benin e Botsuana. Dez novas embaixadas foram implantadas e o número de diplomatas no continente africano foi grandemente ampliado. Concedeu créditos e assistência em várias áreas.
O intercâmbio comercial cresceu para 1 bilhão de dólares. Some-se a isso que as empreiteiras brasileiras que foram pouco a pouco substituindo as empreiteiras norte-americanas. Isso enfureceu Washington. Como consequência, o governo de Lula foi duramente criticado pela mídia e oposição. A imprensa brasileira passou a acusar Lula de favorecer ditaduras. No golpe de 2016, além da troca de regime, a Lava jato puniu severamente as empreiteiras e a economia brasileira.
Após o golpe, os EUA voltaram a ter a hegemonia dos negócios na África. Sem o Brasil como adversário, os EUA baixaram a guarda. De guarda baixa, não perceberam que a China foi substituindo o Brasil e os EUA. Hoje a China se torna o primeiro parceiro comercial da África. A China constrói hoje na África aeroportos, rodovias, pontes, ferrovias, plantas hidroelétricas, portos, escolas, prédios oficiais, estádio. Gera quase 1 milhão de empregos. Também fornece bastante crédito.
Na África já vivem mais de um milhão de cidadãos chineses. Não demorou, a imprensa ocidental passou a atacar a China com manchetes, tipo: “China mantém mais ajuda e crédito na África do que os EUA, grande parte desta ajuda vai para ditaduras”. Notícias depreciativas, por exemplo no Brasil,de que a China está acabando com os burros da África.
A verdade é que a China não é nenhum samaritano mundial. Contudo, sua relação com países em desenvolvimento se dá de maneira muito diferente como se dava com EUA e países da Europa, que só exploravam os africanos deixando um rastro de pobreza e genocídio. A China também tem interesse pelas riquezas da África e interesse geopolítico desta relação.
Após a segunda guerra mundial os africanos queriam ficar longe da briga políticia entre EUA e União Soviética. Assim surgiuram líderes independentes como Patrice Lumumba, que foi assassinado pela CIA. Apesar da truculênica dos seviços secretos, a África conseguiu criar a Conferênica de Bandum entre países africanos e asiáticos em 1955.
Nesta conferência os países demonstraram seu interesse de não ser alinhado às duas grandes potências (EUA e União Soviética) e promoção do desenvolvimento de seus países. Foi o primeiro contato chinês com os africanos e onde começou a colaboração, como construção de ferrovias. Na época, a China era mais pobre que a maiorias dos países africanos.
Os EUA, em discurso de Bolton, advertiu que a China mantém investimentos na África com planos de domínio global. Contudo, os EUA não ofereceram nenhum esboço de tentar reverter sua situação na África. Talvez, por estar muito ocupado promovendo mudanças de regime na América Latina, seu principal quintal. Também estão ocupados protegendo e saqueamndo os reservatórios de petróleo na Líbia e na Síria.
A China mantém negócios com o continente africano num valor de 170 bilhões de dólares em 2017. China oferece empréstimos com interesse mútuo sem intromissões nacionais. Muito diferente do que faz o FMI que passa a governar os países. A China também fomenta movimentos anti imperialista na África. O partido comunista chinês responde às acusações de neocolonialismo dizendo que as relações com a África são horizontais. Diferente do que fizeram os países europeus.
Na África (Djibuti) foi instalada a primeira base militar fora de seu país. Essa instalação permitirá que a China marque presença num enclave estratégico, pois o Djibuti faz fronteira com a Somália, a Etiópia e a Eritreia e fica entre o mar Vermelho e o golfo de Áden, rota marítima e de abastecimento de energia mais importante para o comércio chinês.
A vantagem comparativa da China como investidor para a África é muito grande. Não só pela força pela demanda dos produtos africanos pelos chineses, mas pelas facilidades financeiras. Durante a globalização a África ficou esquecida. Este interesse mudou depois de se observar como a China foi para sua conquista. A China contribui com a África pois a trata como igual, um sócio. Por isso, os acordos baseados em interesses mútuos são feitos mais facilmente. Bem diferente de acordos com os EUA, que quando não beneficiam os gringos logo chegam as sansões, ou a “democracia”.
RG15/O Impacto