Artigo – O futuro é sombrio, e a China não terá condições de nos salvar de novo

Por Oswaldo Bezerra

Depois de meio século de crescimento contínuo, do comércio mundial, a pandemia de corona vírus golpeia à globalização. Diferente da crise de 2008/2009, a China não estará em condições de salvar o mundo de novo.

A crise (econômica, política, social e de saúde) global que estamos enfrentando é a mais grave dos últimos dois séculos. Martin Wolf, editor do London Financial Times, disse que é “o colapso do Pax Americana”, e quebrará a ordem do sistema mundial do pós-guerra.

Previsões mais otimistas do FMI para 2020 dizem que a economia cairá três vezes mais do que na crise de 2008-2009. Para o Banco Asiático de Desenvolvimento, a economia pode perder duas ou três vezes mais, entre 6,4 e 9,7% do produto bruto global. Isso equivale a toda a produção na França e no Reino Unido juntos.

A economia da União Européia cairá 7,4%, segundo aComissão Europeia. A queda nos EUA foi de quase 5% no primeiro trimestre e pode chegar a 40% no segundo. A América Latina cairá este ano mais de 5%, a maior desaceleração desde 1960. A China, que cresceu 6% em 2019, contraiu 6,8% no primeiro trimestre e espera-se que seu crescimento anual seja de apenas 1%.

Crises como estas exigem que o mecanismo para sair dela seja uma grande destruição da riqueza. Um exemplo disso foi queda no preço do petróleo, que caiu abaixo de 0.

A Organização Mundial de Turismo (OMT) estima que o turismo internacional cairá de 60 a 80% no ano. Serão 67 milhões a menos de turistas internacionais até março, ou, 80 bilhões de dólares a menos.

Segundo a IATA, as empresas de aviação perderão US$ 314 bilhões, e acarretará falência maciça, e desaparecimento de milhares de empresas e fomento ao monopólio de algumas.

Serão 2,5 milhões de veículos a menos só na União Europeia. Somente em abril, as exportações de automóveis do México caíram 90%. No Brasil, as vendas diárias caíram 80% entre o final de março e abril.

O comércio mundial cairá a um terço este ano, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC). Milhões de pequenas empresas e empresas nunca mais serão reabertas.

O modelo econômico neoliberal se esgotou. O sistema econômico mundial vive, há mais de meio século, uma crise crônica da qual não consegue se recuperar, levando a crises agudas periódicas, uma mais grave que a outra.

O mundo emergiu sem muito entusiasmo da crise de 2008-2009, a mais profunda desde 1929. Saiu graças à introdução maciça de créditos e subsídios estatais aos bancos e à empresas deficitárias (como a UBER por exemplo) para sustentar o consumo.

No entanto, o fundamental foi o crescimento da China, que se tornou a locomotiva do planeta e ocupou mais de 40% do crescimento mundial da última década. Diante da atual crise, muitos se perguntam a China nos salvará de novo e rapidamente após conter conseguirmos conter o vírus.

Infelizmente este modelo, esta fórmula se esgotou. Pela primeira vez desde 1970, a economia chinesa diminuiu no primeiro trimestre e o melhor que se pode esperar para o ano é um crescimento de 1 ou 2%.

Isso implicará que sua classe média consumirá menos, e o país exportará menos pela retração da demanda, portanto, o país comprará menos ferro, soja, carne, cobre, lítio.

Isso será um golpe mortal à América Latina, especialmente os países que têm a China como principal cliente comercial, como Brasil, Peru ou Chile. Além do comércio, a América Latina recebeu 160 bilhões de dólares em investimentos chineses entre 2005 e 2018 e empréstimos de 140 bilhões de dólares, na fase mais difícil da crise mundial anterior. Esses investimentos e créditos, que vinham caindo, serão seriamente afetados.

A pandemia acelerou as tendências protecionistas, a queda do investimento direto estrangeiro e do comércio mundial, transformando o mundo para sempre. Alguns dias atrás, Donald Trump criticou o acordo comercial assinado com a China em janeiro para interromper a guerra comercial entre os dois países e ameaçou suspender seu relacionamento com a China: “Vamos trazer a manufatura de volta”, alertou.

A era da exportação de empregos dos EUA acabou “, escreveu o secretário de comércio dos EUA Robert Lighthizer no The New York Times. Os EUA perderam cinco milhões empregos na indústria. Porém, levar de volta estes 5 milhões de mepregos já não serão suficientes para debelar o desemprego que já beira 40 milhões de norte-americanos.

A pandemia acelerará essa tendência. A Organização Mundial do Comércio estima que o comércio mundial cairá entre 10 e 30% e o investimento estrangeiro diminuirá em todo o mundo.

Segundo o The Economist, os investimentos chineses nos EUA foram 60% menos no primeiro trimestre do que há dois anos e Washington ordenou que o principal fundo de pensão dos EUA não comprasse mais ações chinesas.

O termo “capitalismo mais humano” está em voga agora no ocidente, tudo para não falar a proibida palavra “socialismo”. Este termo surgiu como resultado da pandemia. Infelizmente isso não se concretizará. Pelo contrário, milhões de empresas fracassarão, centenas de milhões de pessoas ficarão desempregadas, salários cairão, haverá concentração de monopólio, miséria e desigualdades aumentarão.

Isso já está acontecendo. Segundo a OIT, metade da força de trabalho do mundo verá seu modo de vida destruído, ou seja, 1,6 bilhão de pessoas. Dos 3,3 bilhões de trabalhadores, 2 bilhões são informais. Somente nos EUA, 36 milhões de trabalhadores perderam em dois meses. No início do ano, o desemprego era de 3,5%.

A quarentena é um privilégio para quem tem um emprego assalariado e pode ganhar mensalmente. Nos EUA, quem ganha mais de US $ 70.000 por ano pode fazer 70% do seu trabalho em casa. Quem ganha menos de 40.000 apenas 40%. À medida que a crise se move totalmente para a América Latina, as populações de Guayaquil, a Amazônia, os bairros pobres de Bogotá, as favelas da Argentina e as favelas do Brasil apresentam índices de contágio e mortes alarmantes em relação a bairros ricos e de classe média.

A resposta do governo exacerba o fardo para os mais pobres. Os planos de recuperação são principalmente para salvar bancos, empresas de aviação e grandes empresas. Forçados a temer um surto social, alguns governos distribuíram dinheiro ou pagaram uma porcentagem dos salários. Mas, em vez de garantir 100% da renda, eles estão usando a crise para causar uma queda brutal nos salários.

No Peru e no Chile, os governos autorizaram a suspensão do trabalho por até três meses sem pagamento de salários. No Brasil, as empresas foram autorizadas a suspender trabalhadores sem remuneração. Na Argentina, o governo proibiu demissões por três meses e garante até 50% do salário das pequenas empresas, mas os trabalhadores só recebem 75% de seus salários.

Isso, para não mencionar as centenas de milhões de empregos informais que nada receberão, daqueles que perderão suas casas, seus carros, suas economias e seu padrão de vida. A grande pergunta é, virá um mundo melhor depois da pandemia?

O mundo pós pandemia que veremos será muito diferente. Viagens internacionais serão reduzidas ao mínimo, as conferências serão realizadas por aplicativos, os escritórios antes enormes serão esvaziados pelo trabalho remoto, os aeroportos serão deixados vazios como símbolos de uma globalização que já existiu.

Ao contrário da política econômica autodestrutiva de Guedes, os países procurarão realocar a produção dos bens dentro ou perto de suas próprias fronteiras, e seguirão em direção a um maior protecionismo, que favorecerá regiões integradas, as mais ricas, mas que prejudicará o resto do mundo.

Desta vez, a China não virá para nos salvar. Como disse o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, o mundo “vai mudar para pior porque esses fenômenos críticos, por um lado, criam pobreza e, por outro, tendem a concentrar a riqueza”.

RG 15 / O Impactto

2 comentários em “Artigo – O futuro é sombrio, e a China não terá condições de nos salvar de novo

  • 20 de maio de 2020 em 17:07
    Permalink

    Típico artigo de um marxista, cheio de meias verdades. Primeiro, não cita que os chefões do partido único chinês, o PCC, estão por trás da suspeita mundial de que tenham acobertado um acidente na manipulação do vírus modificado, uma vez que apresenta a característica única de resistir ao clima frio e ao calor; isso se não fizeram a experiência de propósito, se lixando pra perda de vidas dentro do próprio país ! Afinal o que são 3,5,10 mil vidas para os marxistas, que já mataram mais de 120 milhões de pessoas em todo o mundo, geralmente patrícios !!! Depois o articulista afirma que o neoliberalismo está acabado, mas se “”esquece”” que foi justamente esse sistema econômico que salvou os chineses da fome, que lhes trouxe o nível econômico e social de que desfrutam hoje. Lembremos que o então chefão chinês que o adotou, disse à época que “não interessava a cor do gato desde que matasse os ratos”, pois enxergava que a pobreza e a miséria do povo havia se tornado uma panela de pressão, prestes a explodir ! Daí que sinalizou para as multinacionais de todo o mundo, que cortaria os impostos, que os salários seriam mínimos para os operários, uma vez que já “dispunham de amplo amparo social”,kkkk…E lá se instalaram tais empresas, gerando milhões de empregos e renda, transformando aquele povo em ávidos consumidores, além de reforçarem os cofres do país , o que permitiu uma revolução na infraestrutura, como estradas, portos, saneamento básico, etc,etc,etc. Agora , querendo negar o óbvio e a verdadeira história, vem o articulista , nefastamente, afirmar que a livre iniciativa, o liberalismo estão esgotados, quando o que se esgotou mesmo, em todos os países em que foi implantado, foi o comunismo ! Prova disso foi a implosão da União Soviética, em que seus países membros terminaram arrasados, depois de décadas de arbitrariedades, de miséria econômica e cerceamento da liberdade de ir e vir. Prova maior foi a derrocada da porção leste da Alemanha, cuja doutrina marxista conseguiu transformar seu povo em indolentes, ante o castramento de sua ambição, motor propulsor de qualquer cidadão. Do outro lado do muro, construído para impedir a fuga dos alemães para a porção democrática e capitalista, o progresso e a elevação geral do nível econômico e social do povo, gozando de total liberdade, era a prova cabal de qual regime econômico e político sobreviveria. Restaram, daquele catastrófico sistema, os atrasados e azarados venezuelanos, cubanos e norte-coreanos , sob o chicote de tiranetes, com fome e sem perspectivas de dias melhores, a não ser que empresas neoliberais os salvem, né chineses !!!

    Resposta
  • 20 de maio de 2020 em 11:05
    Permalink

    O artigo é exponencialmente bem elaborado e fundamentado.

    Parabéns, Oswaldo Bezerra.

    Concordo com todo o conteúdo publicado!

    Ao Homem, urge cumprir os Preceitos Celestiais, fazendo a Vontade de Deus.

    “A minha vontade é que vos ameis uns aos outros “.

    Com Deus não se brinca!

    Guedes e Bolsonaro, a chaga do Brasil.

    Veja, a PEC 10; é uma desgraça contra o Brasil, em favor dos bancos.

    Francisco Soares

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *