Artigo – A pretensão de destruição de obras retratando “Jesus Branco” apontaria radicalismo inepto do BLM
Por Oswaldo Bezerra
Os ativistas da “Black Lives Matter” (BLM) acusaram que certas representações de Jesus são alusões a supremacia branca. A problemática das estátuas passou agora para iconoclastia (movimento contra adoração de imagens) literal, contra representações de “Jesus branco” através dos defensores mais radicais do BLM.
Jesus era negro e as bíblias medievais ilustravam isso. Em sua época os judeus palestinos eram negros. Do mesmo modo que os egípcios também eram. Os filmes de Hollywood só com artistas brancos criaram certa confusão. Esse foi o tipo de preocupação que muitas pessoas passaram a ter quando toda a questão das estátuas começou a ganhar força no mês passado.
Tudo começou com os proprietários de escravos, e eles eram o próprio argumento para derrubá-las. Devemos lembrar que aquelas estátuas não foram erguidas pelos seus serviços ao comércio transatlântico de escravos. Nos EUA, houve revoltaram contra seus heróis nacionais, como Washington e Jefferson, pelo fato de possuírem escravos. Decerto que eles não foram venerados por esse fato, foram homenageados por fundarem os Estados Unidos da América.
Um bom exemplo desta confusão do radicalismo ocorre na história de Ulysses Grant. Ele era conhecido por ser alcoólatra. Por isso, o presidente Lincoln foi aconselhado a exonerá-lo. Lincoln respondeu aos seus conselheiros que demitiria seu general, assim que alguém fornecesse um nome tão capaz quanto ele. Sem nenhum outro nome, Grant liderou os exércitos da União na Guerra Civil para acabar com a escravidão, mas ele se casou com uma moça de uma família proprietária de escravos. A estátua dele deveria então ser derrubada? Derrotar a Confederação não foi suficiente para salvá-lo?
Theodore Roosevelt foi o próximo na lista da BLM, por causa da supremacia branca no holocausto dos indianos. Contudo, deve-se lembrar que ele lutou contra uma nação (Alemanha Nazista) que pretendia dominar o mundo espalhando a ideologia da supremacia branca, na Segunda Guerra Mundial.
A rapidez com que o movimento declarou ex-ícones persona non-grata, indo de Teddy Roosevelt para Jesus é algo no mínimo espantoso. Caso as demandas de King fossem atendidas, e todas as estátuas do Jesus europeu branco fossem derrubadas, assistiríamos à destruição de algumas das melhores obras de arte existentes da humanidade.
A Pieta de Michelangelo, a Última Ceia de Da Vinci, a Transfiguração de Rafael, o Crucifixo de Donatello, todas estas obras seriam apagadas da história. E a Capela Sistina, seria demolida até o chão, junto, seriam esmagados todos os vitrais de todas as igrejas e catedrais da Europa? Caso acontecesse seria um apagamento da história que faria a destruição dos mosteiros da Inglaterra do século XVI parecerem brincadeira de criança.
Ao longo da história Jesus foi retratado como se parecendo com inúmeras raças, e essas geralmente reflete a raça do artista. Artistas negros o retratam como tendo traços africanos, artistas asiáticos fizeram algo à sua imagem, portanto, artistas europeus obviamente o retratam como europeu.
Esse era o ponto de vista de Jesus. Todos os seus seguidores deveriam se ver nele. Como resultado de se desenvolver no mundo ocidental, isso significa que, aos olhos do Ocidente, ele tem sido retratado com mais frequência como um europeu branco. Na Europa foi onde o cristianismo floresceu.
No Oriente Médio, onde Jesus nasceu, surgiu uma religião muito diferente, e com uma visão muito diferente sobre a representação de figuras religiosas, o que explica a escassez de pinturas de Cristo naquela parte do mundo. O fato de Jesus tocar um segundo na fé de Maomé no Islã, e ser considerado um falso profeta no judaísmo pode explicar por que há menos representações dele, nas bandas do Mar da Galileia.
É preciso ter uma imaginação aguçada para ver algo de “supremacia branca” guiar artistas como Da Vinci e Raphael. Eles eram apenas artistas pintando e esculpindo suas interpretações da aparência de Cristo. A arte deve ser apenas apreciada como arte. Ainda mais que o comércio transatlântico de escravos não começou até o século XVII. É um erro derrubar a arte feita nos séculos anteriores.
Movimentos legítimos que se deixem levar por radicalizações prenunciam seu fim. Vários estados norte-americanos foram incapazes de defender as estátuas de seus fundadores. Com o cristianismo diminuindo na Europa e nos EUA, é possível que essas obras de arte, de valor inestimável, possam um dia ser indefensáveis de destruição, tipo a estátua de Buda no Afeganistão. As Civilizações devem aprender com a sua história, e não destruí-las.
RG 15 / O Impacto