Artigo – Futuro do comércio latino-americano apontará para Ásia
Por Oswaldo Bezerra
O relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, sobre os efeitos da COVID-19 no comércio internacional, mostrou que apenas quatro países da região com crescimento em suas exportações em 2020. Isso foi devido ao bom desempenho de janeiro e fevereiro, que compensou a queda dos quatro meses seguinte. O relatório indicou que as quedas nas exportações da Nicarágua, Guatemala, Costa Rica e Honduras, foram muito menores que países como Colômbia, Equador, México ou Peru.
Quanto ao futuro da América Latina, na pós-pandemia, o que mais preocupa o governante é o pesadelo do déficit fiscal. Excluindo Argentina e Venezuela, onde a inflação é uma tensão permanente, os governantes se preocupam muito com o déficit.
É preferível garantir o nível de emprego que proteger a meta de inflação. A inflação é um custo muito pequeno em relação ao benefício de garantir o emprego e a estabilidade social das famílias. As ações dos governos para evitar o desemprego será um encargo adicional no orçamento e nas despesas.
Com a explosão do desemprego a arrecadação de impostos diminui, enfraquecemos ainda mais a previdência, há mais gastos com saúde, mais gastos com educação, entre outros. O custo que se queria evitar através de um direcionamento econômico neoliberal, agora dominante no continente, vai acabar tendo de ser feito de qualquer maneira. O Estado terá que resgatar famílias que perderam a renda, no doloroso caminho das famílias latino-americanas. Calcula-se que estas ações levarão a região uma década perdida.
O sistema político e os economistas têm uma visão que não vai além do curto prazo. O Brasil em 2024 já terá sua década perdida, o Equador e Argentina estão seguindo o mesmo rumo. Qual é a solução para os problemas de investimentos em recursos sociais? São as Políticas de longo prazo.
O Peru ficou conhecido pelo seu famoso milagre. Teve sucesso na redução da pobreza de curto prazo, mas não deu estabilidade nem segurança à sua força de trabalho, não tem aposentadoria, não tem sistema de saúde, não tem emprego formal. Por isso, hoje é o país que mais sofre em termos macroeconômicos. O pior de tudo foi que o milagre peruano serviu de exemplo para outros países latinos.
A América Latina não consegue transformar sua matriz produtiva, continua exportando praticamente igual há 20 anos. Não agrega valor. Não temos uma base produtiva que nos proteja dos choques externos, e da dependência do dólar. A Ásia pode ser capaz de oferecer uma nova relação monetária menos restritiva. A região se apresenta como uma opção mais benéfica que os Estados Unidos e União Europeia.
O vice-presidente Mourão disse hoje que o esforço para fechar acordo Mercosul e UE começa a fazer água. Mourão cita a Alemanha e França como entraves, mas os deputados holandeses foram os primeiros a assinar uma moção contra o acordo. Isso vai reforçar ainda mais a mudança de eixo de negócios da AL para a Ásia, que ainda sim, deve levar um par de décadas.
As vantagens monetárias menos restritas, encontrados na Ásia, também podem ir por água abaixo. Caso nossos países continuarem a depender da quantidade de divisas como hoje, a história pode se repetir. A redução da dívida externa é a tarefa preferencial, além de uma mudança gradativa das nossas reservas cambiais, de dinheiro fiduciário, para moedas lastreadas ou moedas com blockchange.
RG 15 / O Impacto