Artigo – A ofensiva da Lava Jato ecoa na América Latina
Por Oswaldo Bezerra
A Lava Jato não acabou como muita gente pensou. Está bem viva. E ela foi pra cima da advocacia, bem aos moldes da “dossiêcracia transnacional”. Na nova iniciativa, o Juíz Marcelo Bretas mirou os advogados de Lula, do clã Bolsonaro, da advogada da mulher Witzel e os advogados ligados a Sérgio Cabral.
A rede de comunicação em massa, sempre tão informativas sobre operações da justiça brasileira, ligadas ao Departamento de Estados dos EUA, deixou bem evidente que é uma frente ampla. Com isso, passa-se a idea de que não há perseguição política. É a propaganda máxima de que “Lei é para todos”. Os veículos de “comunicação” não destacaram, no entanto, o ataque sem precedente à advocacia. Foram 26 escritórios atacados.
Na América Latina, multiplicam-se as desqualificações políticas dos dirigentes progressistas. As articulações entre o Judiciário e a mídia formam as bases das tentativas de golpe. É uma ofensiva que visa impedir qualquer processo de transformação.
As desqualificações políticas estão se multiplicando na região. Após a condenação judicial do ex-presidente Luíz Inácio Lula Da Silva, aconteceu com Rafael Correa no Equador e Evo Morales na Bolívia, refugiado na Argentina após ser derrubado por um golpe de estado. Os três foram e são referências incontornáveis, líderes das transformações progressivas e do crescimento econômico da América Latina.
A tentativa de desabilitar os instrumentos políticos das forças progressistas se apresentou no Equador, Brasil e na Bolívia, e agora novamente com o uso do poder judiciário/policial para perseguir lideranças políticas na Argentina. Todas tiveram apoio direto da mídia local. Situações idênticas ocorram nas etapas do golpe na Bolívia e aquele tentado por Juan Guaidó na Venezuela. Tudo toma forma em nome da democracia e na luta contra a corrupção.
O golpe na Bolívia, apesar dos gritos aos sete ventos dizendo que o objetivo foi limpar a corrupção e salvar a democracia, o que de fato aconteceu foi exatamente o contrário. A campanha não é somente contra os governos progressistas, também é contra funcionários públicos, e está ocorrendo em todos os países do continente.
Vladimir Putin, quando foi entrevistado sobre a ingerência russa sobre as eleições nos EUA, respondeu que não interessaria nada para seu país este tipo de predileção por candidatos norte-americanos a presidência. O motivo é que a política externa norte-americana é sempre a mesma, independente se exercidas por Democratas ou Republicanos. É uma política exercida pelo “Deep State”, coordenada pelo Departamento de Estado norte-americano.
Neste contexto da chamada Doutina Monroe que, na verdade, habilita toda a América Latina como colônia norte-americana. Assim se utilizam de uma rede de atores que, juntos fazem o cerco. Os métodos utilizados dependem da característica e do momento político de cada país.
O chamado “Lawfare” é a articulação do judiciário com os grandes meios de comunicação, com as organizações ligadas ao financiamento externo e também ao “Think Tank” (laboratório de pensamento geopolítico dos EUA).
O think tank tem papel central na articulação com as grandes mídias. Estas, por sua vez, traduzem as idéias, dos pensadores geopolíticos norte-americanos, em mensagens de maior impacto na opinião pública. É a fabricação do consenso que se torna muito difícil de quebrar.
Na Bolívia, por exemplo, poucos dias antes da eleição foi criada uma campanha contra Evo Morales que o acusou de ter um filho não reconhecido. Foi o preparo para o golpe. A escalada golpista apresentou na mídia como uma luta pela recuperação da democracia e a desqualificação de Morales.
Na Venezuela encontramos, didaticamente, a forma máxima de guerra híbrida, que é a guerra midiática, psicológica, cultural, econômica, isolamento diplomático, e ativação de operações armadas.
O Lawfare na sua forma mais pura ocorreu no Brasil, Argentina, Equador e Peru. É muito mais do que o uso abusivo da Lei, no intuito de eliminar o adversário político. É uma guerra política pelos tribunais.
O poder judiciário na América Latina é uma torre de marfim aonde poucos chegam. É uma elite que vem da oligarquia, é uma minoria muito privilegiada. Nos últimos anos exigiu aumentos de salários colossais, e adquiriu uma visibilidade e um poder de decisão incomum na deriva política e econômica da região.
Por isso, ocorre uma fácil articulação entre Direita, Judiciário e os meios de comunicação. É um tripé que configura a estratégia de perseguição, desqualificação e eliminação via exílio político. As empresas de mídia constroem campanhas de impeachment contra lideranças políticas, principalmente por corrupção, instalam, legitimam nas grandes audiências e são validadas pelo judiciário.
Deste modo, são criminalizados sistematicamente os processos, grupos, pessoas, instituições, tudo que possa promover a intervenção do Estado para crescimento da economia, ou a possibilidade de se fazer justiça social na América Latina.
O objetivo final dessa ofensiva é evitar, encerrar, liquidar projetos que envolvam intervenção do Estado na economia, justiça social ou benefícios para os mais pobres. No fundo, também é feito para o pleno favorecimento de empresas norte-americanas.
O caminho democrático, que os governos progressistas usam como ferramentas para democracia liberal estão proibidas. O crescimento e a melhoria de vida da população, que geram votos, aos governos progressistas fizeram com que houvesse esta intervenção via “Lawfare”.
A pressão com desestabilização sobre a Argentina é para obrigar o Governo a ceder e não avançar na agenda das transformações progressivas. O processo de perseguição política no Equador não é só contra Rafael Correa, mas também contra todos os dirigentes progressistas tal como Paola Pabón e Virgilio Hernández.
Na Colômbia, as portas ainda não foram abertas, e a direita quer mantê-las fechadas com uma aplicação sistemática da violência, como se mostra novamente com as repressões, da última quarta-feira, que deixaram mais de dez mortos.
A ofensiva da direita está mostrando ampliação de métodos e articulação em uma estratégia que aponta para o Departamento de Estado dos Estados Unidos. Contudo, também não conseguiu ainda deter o poder transformador do continente, os múltiplos escudos de desafio ao neoliberalismo e a capacidade de vitórias eleitorais.
No Brasil cresce a pressão de setores progressistas, para que os atores do Partido dos Trabalhadores exija, finalmente, o chamado Dossiê da “Odebrecht na Suíça”, para contrapor o Dossiê usado pelo Departamento de Estado norte-americano contra políticos progressistas da América Latina. Só um Dossiê anularia outro Dossiê e poderíamos seguir em com nossa política interna intacta e nossa soberania.
RG 15 / O Impacto