Artigo – Desvendando os segredos da população esquecida do Brasil
Por Oswaldo Bezerra
Fortaleza está vendo crescer o número de moradores de rua. Desde que o auxílio emergencial caiu para R$300, o número de pedintes aumentou bastante. Além disso, o número de assaltos voltou a crescer. Imaginem quando o auxílio emergencial acabar de vez.
Oficialmente são 1.718 pessoas que vivem nas ruas de Fortaleza. O número não é nada confiável. Como então se poderiam explicar os 4500 de “sem teto” que disputam as 70 vagas em casas de acolhimento todos os dias. Por isso, milhares usam os terminais rodoviários e praças públicas como dormitório.
Porque estes números são contraditórios? Vejamos o exemplo de São Paulo. Lá existem, oficialmente em censos do governo, 25 mil moradores de rua. É uma população maior do que 70% de todas as cidades brasileiras. Também mostra um significativo aumento desde o último censo de 2015. O aumento foi de 50%.
O “Movimento Nacional dos Moradores de Rua” estima que o número real seja, no mínimo, duas vezes maior. O presidente do Movimento explica que pouco antes do último censo, fazer contagem em determinados locais, havia uma ação da zeladoria da prefeitura ou da guarda municipal movendo estes moradores para outros locais, para não serem recenseados.
É difícil contar estas pessoas, mais difícil ainda é traçar um perfil delas. Nos censos do IBGE, a pesquisa é feita por domicílio. Quem mora na rua não entra neste censo!
Levantamento feito por equipe dos Médicos Sem Fronteiras, no Rio de Janeiro, revela que dos 600 moradores de rua do centro da cidade, atendidos pelo programa, apenas 1% é pedinte e 1,5% já praticou furtos e roubos. A grande maioria trabalha, e duro.
O relatório “Cidadão em Condição de Rua” foi lançado pela Universidade de Juiz de Fora, mas com participação de outras Universidades. Neste relatório, pesquisadores obtiveram dados para montar o quadro do Brasil. As cidades estudadas foram São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Vitória, Juiz de Fora, Fortaleza e João Pessoa.
O estudo descobriu que o nível de escolaridade das pessoas que moram nas ruas não é diferente da média da população brasileira. No Rio de Janeiro, observou-se que o número de pessoas com curso superior morando nas ruas aumentou 75%. Do total, 70% não são beneficiados por programas sociais do governo. Quase todos trabalham até exaustão da força física de 12 a 14 horas por dia. São vendedores ambulantes, coletores de material reciclável e engraxates.
A falta de habitação é um dos vilões desta tragédia nacional, fica só atrás do desemprego. Grande parte dos moradores entrou nesta condição por causa de remoção, despejos e perda de moradia em geral. O drama aumenta com o desespero destes moradores e traz consigo um aumento do consumo de drogas e violência.
É um problema que dificilmente será encarado em nosso país, nação esta onde senador se esforça para esconder dinheiro de corrupção dentro das nádegas. A explosão do número de moradores de rua é um fenômeno estrutura brasileiro. Precisa ser atacado por políticas sólidas e abrangentes.
RG 15 / O Impacto