O grande herói “chupa osso” da literatura, da política e do Direito: o obidense que governou estados, domou rebeliões militares e foi convidado ao STF
Por Oswaldo Bezerra
Um raio pode cair no mesmo lugar mais de uma vez? Sim, não foi só um herói, antes mesmo do ilustre José Veríssimo, Óbidos trouxe ao mundo outro grande nome da sociedade brasileira que passou a compor uma galeria de heróis. Ao contrário de José Veríssimo ele não se destacou apenas na Literatura e no ensino. Foi um respeitado estudioso das Ciências Jurídicas e influente político brasileiro.
Seu nome era Herculano Marcos Inglez de Souza. Ele nasceu no ano de 1853 na “mais portuguesa das cidades paraenses”. Na época os nascidos de lá nem eram ainda conhecidos como “chupa osso”.
O apelido surgiu no final da década de 1960, quando a cidade exportava ossos para os Estado Unidos, fazendo desta a ocupação a principal dos obidenses. A turma de Oriximiná, que ganhou o apelido de “Espoca Bodes”, e maiores rivais dos obidenses, não perdeu a oportunidade e os rotularam de “chupa osso”.
Além de chupar osso, os obidenses têm a literatura na veia. Quem precisou estudar literatura para os vestibulares e ENEN´s da vida sabe o que foi o Naturalismo. Foi o movimento literário que radicalizava a realidade. Era baseada na observação da realidade e mostrando como o ambiente e a hereditariedade pode moldar o indivíduo. O precursor deste movimento foi o então conhecido Inglez de Sousa com a obra “Coronel Sangrado”.
Muitas obras clássicas da Literatura foram criadas pelo escritor chupa osso. Entre as mais afamadas estão “O Calculista”, “História de Um Pescador” e o excelente livro “O Missionário (1891)”.
Inglez de Sousa também teve destacada carreira na área jurídica. Estudou o ensino básico em Belém e fez faculdade de Direito em Recife, mas terminou seu curso na Faculdade de Direito de São Paulo.
Seu primeiro emprego foi como jornalista na cidade de Santos-SP. Progressista como era, desde aquela época passou a militar pelo Partido Liberal em oposição ao Partido Conservador.
Seu primeiro cargo político foi como Secretário de Relação do Estado de São Paulo, em 1878. Logo depois foi eleito ao que seria hoje deputado estadual paulista.
Em seguida, foi nomeado governador de Sergipe. Este cargo lhe foi dado como uma missão especial que era controlar uma revolução militar que estava ocorrendo no estado (na época província) e dar prosseguimento a Lei Saraiva. Lei esta que instituiu o título de eleitor e eleição direta para todos os cargos eletivos do império.
Cumprida sua missão, Inglez de Sousa foi nomeado governador da província (estado) do Espírito Santo. Dois anos depois voltou a ser eleito deputado por São Paulo.
No fim do mandato, o escritor do “Missionário” mudou-se para o Rio de Janeiro onde passou a atuar como advogado, banqueiro, jornalista e professor de Direito na Faculdade Nacional de Direito da Capital brasileira.
Inglez de Sousa passou a ser considerado o maior jurisconsulto do país após a publicação da obra jurídica “Os Títulos ao Portador”. O obidense presidiu o primeiro “Congresso Jurídico Nacional” sendo já o Presidente do “Instituto dos Advogados Brasileiros” (IAB), instituição jurídica mais antiga das Américas, entidade esta que criou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Inglez de Sousa foi uma figura tão importante para as Ciências Jurídicas do Brasil, que foi convidado, mais de uma vez, para compor o STF. Ele nunca aceitou. Contudo, trabalhou para o governo organizando o Código Comercial e realizou a codificação do Direito Privado.
No fim de sua carreira voltou às origens, mas sempre trabalhando. Inglez de Sousa foi eleito, em 1918, deputado federal pelo Pará. Foi um ano de pandemia igual a que vivemos hoje, na época era a gripe espanhola. Neste mesmo ano Deus precisou do talento do Obidense e o levou para o céu.
Inglez de Souza deixou muito como legado. O principal deles é o exemplo para as pessoas que mesmo desfavorecidas, de origem humilde, de cidades pequenas, isoladas e sob condições adversas, mesmo assim o céu é seu limite.
RG / O Impacto