Artigo – Brasil é o país com maior número de jornalistas mortos por Covid-19

Por Thays Cunha

No Brasil, o dia do jornalista é comemorado anualmente no dia 07 de Abril. Porém, apesar de essa ser uma data para festejar e parabenizar esses profissionais, nos últimos dois anos, 2020 e 2021, o momento foi utilizado para uma reflexão sobre os desafios enfrentados por todos aqueles que exercem a profissão. Vivemos em um período em que o fluxo de informações é tão grande que para muitos é difícil filtrar o que é certo ou errado, verdade ou invenção, então o papel dos profissionais da mídia é apurar os fatos e levar a melhor informação para a população sobre os mais diversos assuntos que acontecem nos âmbitos local, regional, nacional e internacional de uma maneira imparcial e ética. E nesse período em que o mundo inteiro está passando pela pandemia do novo coronavírus a função do jornalista se tornou ainda mais importante, uma vez que ele é o responsável por verificar diariamente o andamento das questões relacionadas à covid-19, os problemas, índices e medidas de contenção e enfrentamento tomadas pelos órgãos responsáveis por tratar a doença.

Assim, embora muitos setores tenham parado e cidades tenham feito lockdown, restringindo o acesso dos moradores para evitar aglomerações, o setor jornalístico foi um dos que não puderam parar, pois todos os olhos se voltaram para as notícias relacionadas ao andamento da pandemia pelo globo. Isso significa que os jornalistas, do mesmo modo que tantos outros trabalhadores, continuaram a realizar as suas atividades todos os dias, mesmo correndo risco de infecção. A categoria esteve e está presente nas ruas, nos hospitais, nas sedes de governo e residências coletando dados e informando as pessoas não só sobre a pandemia, mas também sobre uma vida que continua dentro do que chamamos de “novo normal”.

Infelizmente essa dedicação teve o seu preço. Segundo um levantamento divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o Brasil é o país com mais mortes de jornalistas vitimados pela covid-19 no mundo. Esse é um reflexo do colapso que a saúde está atravessando no país, que possui um governo meio perdido e em desacordo com as normas exigidas para evitar a disseminação da doença. A falta de recursos para deixar as pessoas em casa, combinada com o lento andar da vacinação, já levou o país, até o dia 24 de maio de 2021, a marca de 450 mil óbitos. E, dentre esses, encontram-se estimados profissionais da comunicação.

De acordo com o levantamento intitulado “Dossiê: jornalistas vitimados pela covid-19”, que foi divulgado em abril e reuniu dados de todos os sindicatos da categoria espalhados pelo Brasil, 169 jornalistas profissionais já morreram por causa da doença entre o período que vai de abril de 2020 a março de 2021. O mais assustador de tudo isso é que o número de mortes que ocorreram no país apenas nos três primeiros meses de 2021 chegaram a 86, superando assim o total de mortes ocorridas durante o ano inteiro de 2020. “Pela média, o ano de 2020 registrou 8,5 mor­tes por mês; em 2021, no primeiro trimestre, atingiu-se a marca de 28,6 mortes, pratica­mente uma por dia. No início de abril, mais cinco mortes ocorreram antes da Páscoa, elevando o total de vítimas da Covid-19 e da necropolítica do governo federal para 169 ca­sos, tornando o Brasil o país com maior nú­mero de jornalistas mortos por Covid-19 no mundo”, diz o documento. Esse é um número ainda maior do que a quantidade de jornalistas que morreram pelo mundo inteiro vítimas de assassinato, o que demonstra os perigos reais da covid-19; “Em 2020, conforme o Repórteres Sem Fronteiras, houve 50 casos em que jornalistas assassinados, incluindo países em guerra.”

Porém, em números totais, essa quantidade de profissionais da imprensa que se foram por conta do coronavírus pode ser ainda maior. Como afirma o levantamento da FENAJ, o relatório não tem uma fonte centralizada para coleta de informações. “Os dados obtidos refletem uma busca direta em jornais, sites e blogs de todo o país, in­formações fornecidas pelos sindicatos dos jornalistas nos estados ou vindas diretamente por colegas de profissão […] e apresenta dados de jorna­listas da ativa e aposentados vitimados por Covid-19”. Isso significa que “radialistas que não são possuem registro profissional como jornalistas e outros comunicadores não foram incluídos nesse le­vantamento”.

Estados com mais mortes de jornalistas

O primeiro óbito de um jornalista por covid-19 foi catalogado pelo documento em abril de 2020. Neste mês, sete profissionais faleceram por conta da nova doença. E esse número se manteve na média pelo menos até outubro, quando começou a apresentar elevação nos meses de novembro e dezembro.

Já em 2021, chegamos a triste marca de 26 mortes em janeiro. Em fevereiro tivemos 13 e em março, o pior mês, 47. “Assim, passou-se de uma média de 8,5 mortes/mês em 2020 para 28,6 mortes em 2021, um aumento de 264% no número médio de vítimas. Na média anual, de abril 2020 a março de 2021 são 13,6 mortes por mês, praticamente uma a cada dois dias”.

Os estados que lideram o ranking de jornalistas vítimas do corona vírus são Amazonas, Pará e São Paulo, com 19 registros cada. No Pará, 8 pessoas dessa contagem perderam a vida somente no mês de março. Em seguida vem o Rio de Janeiro, com 15 óbitos, Paraná, com 13, Paraíba e Mato Grosso, com 07 e Rondônia, com 06.

A maioria dos casos (54,9% dos óbitos) aconteceu com pessoas na faixa dos 51 a 70 anos, em sua grande maioria homens. Segundo o relatório, “as mulheres somaram 9,8% dos óbitos (16 casos). A média de idade das jornalistas mor­tas por covid-19 é bem abaixo do que a dos homens. Enquanto a média geral de idade é de 61 anos, a das mulheres está em 43 anos e quatro das vítimas tinham menos de 34 anos”.

As vítimas paraenses contabilizadas até agora são:

– Antônio Maria Zacarias da Costa Filho, Belém (PA), 81 anos

– Celivaldo Carneiro, Santarém (PA), 64 anos

– Edmundo da Silva Baía, Santarém (PA), 63 anos

– Ednelson Moura da Trindade, Santarém (PA), 58 anos

– Emílio Antônio Corrêa da Costa, Belém (PA), 62 anos

– Erivaldo Andrade, Altamira (PA), 53 anos

– Fernando Sérgio, Belém (PA), 67 anos

– Geraldo Lobato Ramos, Belém (PA), 70 anos

– Hélio Furtado, Belém (PA), 64 anos

– João Carlos Pereira, Belém (PA), 61 anos

– Jorge Mário Cruz Cohen, Santarém (PA), 57 anos

– Jorge Mendes, Belém (PA), 61 anos

– Lucélia Fernandes Damasceno, Belém (PA), 63 anos

– Maria Aparecida Serique Pereira, Santarém (PA), 66 anos

– Oswaldo Braglia, Belém (PA), 63 anos

– Paulinho Montalvão, Belém (PA), 58 anos

– Ronaldo Porto, Belém (PA), 69 anos

– Sebastião Farconara, Belém (PA), 56 anos

– Uliana Motta, Belém (PA), 33 anos

Inclusão de jornalistas no grupo prioritário da vacinação

Jornalistas, desde o início da pandemia, estão na linha de frente buscando e repassando notícias não só sobre a doença, mas também sobre o cotidiano que não parou apesar da covid-19. Considerada então uma atividade essencial, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) enviou circular para os Sindicatos Jornalistas filiados orientando que solicitem a inclusão dos jornalistas entre os grupos prioritários na vacinação contra o coronavírus.  Como afirma o órgão, “A inclusão dos jornalistas entre os grupos prioritários se justifica pelo fato de que, de maneira similar a outras profissões que estão na linha de frente de combate à pandemia, como profissionais de saúde, professores, policiais militares, bombeiros, os trabalhadores da mídia são obrigados a se colocar em risco, garantindo a todo cidadão e cidadã o acesso à informação correta e de fontes credíveis. O jornalismo profissional vem ajudando a combater a circulação das chamadas “fake news” e, consequentemente, contribuindo para salvar vidas.”

No momento há uma PL, Nº 1317/2021, do autor Dagoberto Nogueira – PDT/MS, apresentada dia 08/04, que “altera a Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021, para incluir os jornalistas e profissionais da imprensa no grupo prioritário da vacinação contra a Covid-19”.

Em relação aos altos casos de morte de jornalistas no estado do Pará, uma Moção, de autoria do deputado Raimundo Santos, ouvidor-geral do Parlamento Estadual, foi deferida durante a Sessão Ordinária do dia 13 de abril. A Moção solicita que jornalistas e outros profissionais de Imprensa que comprovadamente estejam na linha de frente da cobertura da pandemia sejam vacinados contra a covid-19 urgentemente. A proposta segue para o governo do Estado, independentemente de deliberação no plenário.

RG 15 / O Impacto

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