Artigo – A (des)tecnologia(zação) do Brasil
Por Oswaldo Bezerra
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, dedicou grande parte de sua manhã de 26 de maio ao caso da compra da refinaria de Deer Park, no Texas, pela empresa mexicana de petróleo (Pemex). O Brasil fez isso uma vez. Foi bombardeado de críticas e até uma CPI foi aberta em um dos melhores negócios que o Brasil fez nas últimas décadas.
Não há prejuízo na indústria do petróleo porque o petróleo é o melhor negócio do mundo. Só houve prejuízo quando reinou a corrupção, definiu o presidente mexicano. Também quando houve espionagem e ação do departamento de Estado norte-americano, diga-se de passagem.
Quanto à refinaria do Texas, o presidente frisou que há anos ela dá lucro e o que o México fez foi investir o lucro. “O Deer Park” tem lucro sempre, disse o diretor da Pemex, Romero Oropeza, que também participou da coletiva de imprensa.
Caso o governo invista em atividades lucrativas, o que o Estado deve fazer então com este lucro? A razão diz que o melhor é investir em dois segmentos: atividades intensivas em emprego e no setor tecnológico. Foi pensando assim que a China, com o capital estatal, se torna o centro da revolução tecnológica do século 21, e não os EUA.
Um exemplo disso é o fim da era militar qualitativa que os EUA possuíam. A China se prepara para colocar em campo seu novo bombardeiro estratégico, fechando a lacuna tecnológica com os EUA e está se preparando para seguir em frente.
Um relatório publicado no South China Morning Post (SCMP) em maio do ano passado levantou a possibilidade de que os militares chineses pudessem revelar oficialmente seu novo bombardeiro stealth (invisível aos radares), o Xian H-20, no Zhuhai Airshow em novembro de 2020.
A revelação não ocorreu como planejada, com o show aéreo sendo cancelado “devido ao impacto global da pandemia COVID-19. No entanto, o fato da existência do bombardeiro H-20, e seu estágio avançado, publicado no SCMP de Hong Kong dá crédito ao fato.
Desde 2019 a China já é o país que mais registra patentes no mundo. A empresa privada que mais registra patente é justamente a Huawei. Por isso que há toda esta guerra dos EUA contra ela.
O diretor-geral da WIPO, Francis Gurry, lembrou que em 1999 a WIPO recebeu apenas 276 pedidos de registro de patentes vindos da China. O crescimento de mais de 200 vezes em 20 anos deixa clara uma mudança de longo prazo no local da inovação rumo a Ásia que já responde por mais da metade de todos os pedidos de PCT.
Do outro lado do mundo, enquanto o Brasil que investia apenas 3 bilhões de dólares em desenvolvimento científico, em 2013, agora com os conservadores no poder, “negacionistas” da Ciência, vimos este investimento cair quase 60% (dados do SIOP). Pela proposta orçamentária de 2021, elaborada pelo governo federal e em análise no Congresso Nacional, o Ministério da Ciência e Tecnologia, por exemplo, terá para investimento de só 540 milhões de dólares (Agência Senado).
A China que há duas décadas era um país mais atrasado e mais pobre que o Brasil tem previsto um orçamento para Ciência e Tecnologia em torno de 1,4 trilhões de dólares nos próximos 6 anos. É um investimento quase 500 vezes maior que o do Brasil.
Neste andar da carruagem, daqui a pouco veremos chineses trocando espelhinhos por nosso minério. A elite do atraso que tomou conta do nosso país vai nos levar, de ônibus expresso, direto para a idade das trevas. Seremos um país de fanáticos religiosos, onde queimar cientistas na fogueira será o passatempo preferido.
RG 15 / O Impacto
Pingback: Artigo - Competição é bom ou ruim? Para o desenvolvimento tecnológico é ótimo! - Jornal O Impacto