[Vídeo-artigo] Você pode até morrer se dormir com calor
Por Oswaldo Bezerra
Noites quentes são apelidadas na Europa de noites tropicais, descobriu-se agora que elas podem ser mortais. A incapacidade de dormir devido ao calor causa estresse prolongado e pode levar a problemas cardiovasculares ou respiratórios. Um estudo indica que, na Espanha por exemplo, a mortalidade aumenta em 16% quando as altas temperaturas noturnas são atingidas.
O verão não é só praia e banhos de sol para os europeus. A chegada da melhor das estações para eles é ligada ao aumento intenso das temperaturas mesmo depois do pôr do sol. Então, dormir se torna uma tarefa difícil. O ar-condicionado e o ventilador são o alento contra as reviradas na cama e lençóis molhados de suor. Na Europa a meteorologia define o fenômeno como noites tropicais aquelas cujas temperaturas permanecem acima de 20ºC.
Passar calor à noite parece ser sinônimo de verão, porém, com o aquecimento global isso vem se tornando mais comum nos últimos anos. De acordo com os registros do sistema de observação europeu E-obs Copernicus, as noites tropicais ganharam espaço nos últimos anos. Estão se tornando mais frequentes, intensas, duradouras e afetam até mesmo outras estações, como a primavera e o outono. As temperaturas mínimas estão aumentando consideravelmente. Na Península Ibérica, passamos de uma média de 5 noites tropicais no período entre 1971-1990, para uma média de 11 noites entre 1991-2020.
Um exemplo é Barcelona que anda queimando a noite. O Observatório Fabra estabeleceu uma média entre 10 e 20 noites tropicais na primeira metade da década de oitenta. Em 2018, o centro pontuou 70 noites tropicais. Em certos bairros estes números chegaram a 101. Do total, 12 foram consideradas noites tórridas, pois a temperatura mínima não era inferior a 25ºC. A noite mais difícil, na madrugada de 4 de agosto, os termômetros ficaram em 29,4ºC.
Barcelona é um exemplo, mas o fenômeno se repete em toda a Espanha. As noites tropicais em Valência quadruplicaram nas últimas duas décadas. As tórridas se multiplicaram por 10 desde os anos oitenta. No interior, em Madrid, passou de uma média de 17 noites tropicais nas décadas de setenta e oitenta para 35 entre 1991 e 2020. As Ilhas Canárias. costumam sofrer cerca de 128 noites quentes por ano.
As previsões apontam para uma maior presença de noites tropicais e tórridas no verão espanhol com o passar do tempo. É devido ao aquecimento global e às emissões antropogênicas. A atual taxa de emissão de gases poluentes para a atmosfera implicará em aumento das temperaturas noturnas no futuro.
Em 2050, o número de noites acima de 20ºC pode aumentar em 50%. A situação será mais grave nos espaços urbanos, devido ao efeito ilha de calor, causado pela liberação de calor ao pôr do sol após se acumular durante o dia em materiais absorventes, como o concreto.
A comunidade científica estima que a temperatura ideal para dormir oscila entre 18ºC e 21ºC. A temperatura em uma noite tropical ou tórrida impede um descanso adequado e é prejudicial à sua saúde. O problema é que o corpo não é capaz de entrar na fase de sono profundo, porque foca em sua própria regulação térmica, em vez de desacelerar o pulso.
O impacto do ambiente térmico na saúde, conforto e desempenho é um dos problemas de saúde pública mais críticos relacionados às mudanças climáticas. As altas temperaturas que não nos deixam descansar plenamente descansar durante a noitepode tirar anos de nossas vidas.
Um estudo internacional, publicado na revista Epidemiology, mostrou que a incidência de calor noturno se relaciona à mortalidade por causa específica, cardiovascular e respiratória, no sul da Europa. O estudo utilizou índices que descrevem a duração do período noturno em que estamos acima de 20ºC e o excesso de calor noturno em relação ao limite de 20ºC.
Com estas características foram associados ao número de óbitos diários dos 11 pontos geográficos estudados. O estudo incluiu cidades da Espanha (Madrid, Barcelona, Bilbao e Sevilha), França (Marselha, Nice, Montpellier e Toulouse), Portugal (Lisboa e Porto) e Itália (Roma). Os dados abrangem de 2001 a 2014.
As conclusões separam o efeito noturno sobre a mortalidade e as temperaturas diárias. Além disso, os especialistas consideram a própria intensidade da noite tropical mais prejudicial do que sua duração. As cidades mais afetadas por esse fenômeno são Barcelona e Nice com 22 e 23 ºC.
No entanto, o pior é suportado por Portugal. O país português é mais afetado pelos efeitos negativos das noites mais quentes. Quanto mais tempo o calor dura à noite, a mortalidade aumenta em 29%. Um parâmetro que incrivelmente não se altera é o número de mortes na Espanha, Itália e França. Por outro lado, Portugal também apresenta a maior percentagem no que diz respeito à maior intensidade térmica noturna. Portanto, a mortalidade chega a 37%. Em seguida vem a Itália com 25%, a Espanha com 16% e a França com 12%.
Um agravante em Portugal é a pior adaptação de suas casas às altas temperaturas. Uma delas, é o menor número de instalações de ar condicionado. Um dispositivo que tem ajudado a reduzir as mortes por insolação, mas que aumenta o consumo de energia e, portanto, a emissão de gases de efeito estufa.
O que se conclui é que urge uma reestruturação urbana com as cidades repensadas no sentido mais bioclimático para diminuir os efeitos das altas temperaturas. Entre as alternativas, a promoção da construção com materiais mais porosos. Uma solução para amenizar um problema que afeta principalmente a população com menos recursos. Aqueles que têm as piores casas e não podem pagar o uso de ar condicionado, consequências da pobreza energética.
É recomendado manter o ambiente com índice de umidade adequado e abaixo de 25ºC. Também é aconselhado comer um jantar leve, cortar o álcool e os açúcares, não fazer exercícios durante a noite, usar roupas leves e respiráveis e tomar banho com água fria. São paliativos para combater o calor do verão na hora de dormir. Além de ser um fato incômodo o calor noturno é também mortal.
Essas noites tropicais na Europa não são nada comparadas ao número de noites quentes no Brasil. Ainda não temos uma pesquisa que nos mostre, de fato, quantas pessoas morrem por causa do calor noturno no Brasil.
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RG15/O Impacto