Medo e desinformação – o que se esconde por trás do aumento de partos por cesárea no Brasil
Por Thays Cunha
Embora o parto natural seja o mais recomendando, sendo a prática de cesarianas indicada somente quando há risco para a vida da mãe e do bebê, o número de partos por cesárea no Brasil vem aumentando exponencialmente ano após ano. E em muitos desses casos o medo e a desinformação é o que levam algumas mães a escolherem – ou mesmo a serem levadas, sem direito de escolha – ter seus bebês dessa forma.
Cesarianas são importantes para salvar vidas e devem ser oferecidas às mulheres quando necessário, como, por exemplo, quando há demora no nascimento, sofrimento fetal ou posição desfavorável da criança para o nascimento natural. No entanto, partos cesáreas são realizados sem necessidades médica devido a vários fatores, gerando até certa discrepância, ou seja, partos cesáreas não são oferecidos para as que precisam, porém são abundantes em situações em que são dispensáveis.
Como qualquer cirurgia, um parto cesárea também apresenta riscos que muitas vezes não são expostos às mulheres, como sangramentos, infecções, dores e tempo de recuperação mais lento, assim com problemas com anestésicos e medicamentos que podem causar reações adversas ou alérgicas. Mesmo assim o número vem aumentado casa vez mais, pois de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, “na América Latina e no Caribe, as taxas chegam a quatro em cada 10 (43%) nascimentos. E aqui, no Brasil, as cesarianas agora superam os partos normais em quantidade”.
MOTIVOS
As causas da alta aplicação de cesarianas variam bastante, mas têm em comum questões que envolvem política, fatores culturais e qualidade do sistema de saúde oferecido à população. Além disso, há também o medo da dor, medo da violência obstétrica (agressão que algumas parturientes sofrem no pré-natal, antes ou depois do parto, que pode vir na forma de recusa de atendimento à mulher gestante, intervenções médicas e procedimentos realizados de forma desnecessária ou sem autorização, e até mesmo agressões e humilhações verbais), e também há a decisão dos próprios médicos que optam por realizar esse tipo de parto em suas pacientes para economizarem tempo.
O aspecto econômico é um dos primeiros fatores apontados como causa dos aumentos. Por exemplo, as tarifas para parto cesariana e vaginais são diferentes, o que pode gerar a falta de incentivo para o método natural. E como a carga horária dos profissionais de saúde pode ser sobrecarregada, eles podem realizar cesarianas devido ao tempo definido dedicado a cirurgia. Em relação ao parto normal, não é possível determinar quanto tempo terá que ser dedicado a um único nascimento.
Além disso, temendo que o tratamento público não ofereça o que é necessário para um parto seguro, mulheres que têm condições financeiras optam por utilizar o serviço particular. E por haver o imaginário de que o parto vaginal é sempre doloroso, demorado e perigoso, não são oferecidos métodos que ajudem a gestante a entender mais o funcionamento natural do seu corpo, desse modo ela opta pelo que considera o mais adequado para si, muitas vezes sem ter a oportunidade de avaliar os riscos.
ESCOLHA
É preciso oferecer meios para suavizar a ansiedade das mulheres antes do nascimento de seus bebês, para que possam escolher com atenção. Dar a luz é um momento único e deve ser feito com todo apoio que a gestante merece, levando em consideração a sua segurança e do filho, assim como a suas vontades e necessidades. Médico e paciente devem debater qual meio mais adequado à futura mãe, e a ela deve ser dado o direito de escolha e todas as informações sobre quais os métodos que pelos quais quer passar, incluindo não só os benefícios como também os riscos.
E para que as cesáreas possam diminuir o parto natural deve oferecer mais conforto e segurança às grávidas, principalmente no sistema público de saúde, onde não são raros os casos de violência obstétrica, abusos físicos e psicológicos.
RG 15 / O Impacto