Negligência à saúde masculina: a cada três pessoas que morrem no Brasil, duas são homens
Por Thays Cunha
Em relação aos cuidados com a saúde e com o corpo, a grande maioria das propagandas em todas as mídias é sempre voltada para o público feminino. Isso se dá devido ao fato de que as mulheres são sempre vistas como mais preocupadas com o seu bem-estar e o dos membros de sua família, sendo responsabilidade quase sempre delas marcar consultas para si e seus entes queridos, levar as crianças para vacinar e prover todas e quaisquer atitudes e precauções que garantam o conforto e a segurança do seu núcleo familiar.
Com isso os homens acabam não se preocupando muito com o aparecimento de sintomas e enfermidades, nem quando eles mesmos são os acometidos. Além disso, são poucos os programas voltados para a conscientização da saúde do homem. Assim, eles postergam ao máximo uma ida ao médico, mesmo quando se sentem doentes, e com isso atrasam possíveis diagnósticos e tratamentos.
Essa negligência à saúde masculina acaba cobrando o seu preço. Para se ter uma ideia da dimensão que alcança essa falta de cuidados, atrelada também a maior propensão a comportamentos de risco, de acordo com o Ministério da Saúde, de cada três pessoas que morrem no Brasil, duas delas são do sexo masculino, sendo doenças no aparelho circulatório e a ocorrência de tumores as responsáveis por mais de 40% das mortes.
Na pandemia, o índice de mortalidade masculina pela Covid-19 também tem sido bem maior. Resultados de um estudo realizado em parceria entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Oswaldo Cruz, e que foram publicados no International Journal of Infectious Diseases, homens e idosos seriam as principais vítimas de casos graves e mortes pelo coronavírus.
POSSÍVEIS CAUSAS
As possíveis causas que levam os homens a não se tratarem podem se dar por conta de, como já dito, as mulheres serem mais preocupadas com questões relacionadas a saúde. E essa diferença tem muito a ver com as relações entre os gêneros, que leva os homens a, talvez, associarem autocuidado e medidas de prevenção com falta de virilidade, ou seja, o machismo os faz ver uma doença como uma fraqueza e não algo natural que pode acometer qualquer pessoa, independentemente de suas características. Assim, essa ideia cultural de superforça masculina afasta muitos homens, mesmo quando doentes, dos consultórios e hospitais. Ao contrário, mulheres são mais atentas e não demoram para buscar atendimento aos primeiros sintomas.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, de 2019, divulgada pelo IBGE, a proporção de mulheres que consultaram um médico foi de 82,3%, sendo superior à dos homens, que alcançou 69,4%, mesmo que ambos os gêneros tenham taxas quase similares de cobertura de planos de saúde. Além disso, dentre esses que compareceram a alguma consulta, sete em cada dez afirmam só terem se apresentado após a mulher ou filhos insistirem na sua ida.
De acordo com o documento “Perfil de Morbimortalidade Masculina no Brasil”, em nosso país “os homens vivem em média 7,1 anos menos do que as mulheres, […] a expectativa de vida da população masculina chegou a 72,2 anos enquanto a feminina atingiu 79,3”. E sobre o questionamento “por que os homens adoecem e morrem mais do que as mulheres?”, foram listados como possíveis respostas: possuem medo de descobrir doenças; não seguem tratamentos recomendados; acham que nunca vão adoecer e por isso não se cuidam; não procuram os serviços de saúde; são eles os envolvidos na maioria das situações de violência; não se alimentam adequadamente; estão mais suscetíveis a infecção de IST/AIDS; estão mais expostos aos acidentes de trânsito e trabalho; não praticam atividade física com regularidade; e utilizam álcool e outras drogas com maior frequência.
NOVEMBRO AZUL
A campanha Novembro Azul, iniciada agora no início do mês de novembro, promove conscientização sobre cuidados com a saúde masculina, e se refere ao mês mundial de combate ao câncer de próstata.
Esse tipo de câncer é o “mais comum entre os homens, sendo a causa de morte de 28,6% da população masculina que desenvolve neoplasias malignas. No Brasil, um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata. A única forma de garantir a cura é o diagnóstico precoce. Mesmo na ausência de sintomas, homens a partir dos 45 anos com fatores de risco, ou 50 anos sem estes fatores, devem ir ao urologista para conversar sobre o exame de toque retal, que permite ao médico avaliar alterações da glândula, como endurecimento e presença de nódulos suspeitos, e sobre o exame de sangue PSA (antígeno prostático específico). Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pela alteração no toque retal. Outros exames poderão ser solicitados se houver suspeita, como as biópsias, que retiram fragmentos da próstata para análise, guiadas pelo ultrassom transretal” (Ministério da Saúde).
O Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém, realiza tratamentos. No momento são 65 pacientes em atendimento, sendo 27 novos casos em 2021.
ESTRATÉGIAS
Para melhorar esses índices e levar os homens a se cuidarem mais há então a necessidade de planejamento e desenvolvimento de estratégias de educação em saúde voltadas a eles, além de trabalhos que possam sensibilizá-los a se verem como seres que podem sim ser frágeis. O “Perfil de Morbimortalidade Masculina no Brasil” aponta que “diante do exposto, os trabalhadores da Saúde devem orientar os homens no sentido de evitar bebidas alcoólicas e o cigarro; manter uma alimentação adequada e saudável; praticar exercícios físicos com regularidade; utilizar preservativo nas relações sexuais; realizar exames de rotina periodicamente; ir ao cirurgião-dentista com frequência; manter a carteira de vacina atualizada; conversar sobre problemas e preocupações com a(o) parceira(o), familiares e amigos; pedir ajuda quando se sentirem sobrecarregados por alguma situação de estresse e também procurar os serviços de saúde não apenas quando estiverem com uma doença, mas para se prevenir e promover saúde”. O que falta ainda é melhorar o acesso à informação e o poder público passar a olhar com cuidado para a saúde da população masculina.
RG 15 / O Impacto